Certo dia, lendo a imprensa libanesa Al Maydaeen, me deparei com o artigo “Lênin, a Irlanda e a Palestina”. Achei um tanto inusitado o portal ligado ao Hesbolá e demais grupos da resistência armada estar elogiando Lênin. Foi mais uma prova de que quem de fato luta contra o imperialismo tende cada vez mais a chegar às conclusões corretas acerca da luta política.
O texto começa homenageando o revolucionário bolchevique: “no centenário da morte de Lenin, devemos lembrar o falecimento de uma das poucas figuras da história que não apenas derrubou uma ordem antiga, mas transformou ideais igualitários em uma nova sociedade. Seria um erro, senão um pecado, ignorar as muitas lições práticas de sua vida.”
O texto é muito simples, cita a análise de Lenin sobre o nacionalismo irlandês. Algo que faz muito sentido, pois o movimento era liderado pelo Sinn Fein, um grupo radicalmente católico e nacionalista e armado, uma analogia perfeita com o Hamas. E a analogia não foi feita apenas agora, ele foi feita pelos próprios ingleses já em 1917. O texto cita:
“Poderíamos dizer algo semelhante sobre a Palestina hoje, lembrando que a colônia israelense foi projetada na partição da Irlanda. O propósito da Declaração de Balfour de 1917 era formar uma ‘pequena Ulster judaica leal em um mar de arabismo potencialmente hostil’, segundo Ronald Storrs, o governador militar da Palestina.”
O mais interessante nessa questão é que esse texto demonstra que de fato as organizações religiosas do Oriente Médio estão politicamente muito à frente de toda a esquerda pequeno-burguesa no Brasil. A situação de choque direto com o imperialismo as impele a tomar a política correta, revolucionária. E agora, até mesmo algumas questões teóricas marxistas estão sendo divulgadas, algo que era quase impossível quando esse movimento se cristalizou na década de 1980.
A aliança entre os grupos marxistas e os grupos religiosos já existe na própria Palestina, a FPLP e a FDLP estão aliadas ao Hamas há décadas e estão lutando nas mesmas trincheiras na guerra atual. A esquerda mundial tem que compreender que as organizações anti-imperialistas do Oriente Médio serão grandes aliadas no futuro próximo. Eles são, na verdade, a vanguarda da luta anti-imperialista no hoje.
Vladimir Putin roubou a cena em 2022, mas 2021 foi o ano do Talibã e 2023 o ano do Hamas. É muito possível que 2024 seja o ano do Iraque, da Síria ou até do Iêmen. O Oriente Médio, nesse sentido, será um grande aliado na luta dos brasileiros e vice-versa.