Na última sexta-feira (22), uma coluna publicada no sítio da Revista Fórum, assinada por Menon e intitulada Leila Pereira mostra a importância da mulher no futebol e rasga o véu do corporativismo, revela bem a confusão na esquerda sobre o caso envolvendo os jogadores Robinho e Daniel Alves.
A tese fundamental da coluna é a de que a CBF, os dirigentes do futebol, jogadores e técnicos estão em silêncio sobre o caso. Foi preciso que uma mulher, Leila Pereira, decidisse falar.
“Um grande pacto corporativo paira sobre os casos. Homens protegendo homens. Ou, ao menos, ficando fora do assunto, como fez Tite ao ser perguntado sobre Daniel Alves“. O colunista exige que se fale algo sobre o assunto e que, se isso não for feito, haveria um “pacto corporativo”. Ele não mostra, porém, o que seria esse pacto, um pacto consciente, corporativo, com objetivos e interesses bem específicos.
A pergunta que fica é por que exatamente os jogadores são obrigados a se pronunciar? Eles podem se quiser. O jornalista pode querer que eles se pronunciem, mas acusar de “pacto corporativo” como se fosse uma obrigação fazer tal pronunciamento extrapola e muito a função de quem trabalha no futebol.
Por exemplo, nós gostaríamos que os jogadores fossem leninistas, revolucionários e que a cada acontecimento da situação política eles se pronunciassem. Mas nosso desejo não faz com que os jogadores sejam obrigados a tal, seria uma exigência sem sentido, mais ainda se saíssemos por aí afirmando que os jogadores fazem um pacto fascista por não serem revolucionários.
No final das contas, jogadores não são políticos. Jogadores menos ainda são juristas. E se não são, por que deveríamos exigir que se pronunciem sobre esses casos? Podemos querer, mas é estranho acusá-los de “pacto corporativo” por não fazerem.
Chegamos, então, no cerne da coluna de Menon: restou à mulher Leila quebrar esse pacto.
“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da seleção brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso de Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, afirmou Leila, para orgulho do colunista.
Ao contrário do que pensa Menon, no entanto, a interpretação da fala de Leila é outra. A declaração de Leila é a que está a favor de um pacto, não um abstrato pacto entre boleiros homens, mas uma política bem traçada pela burguesia.
Nesse sentido, Leila cumpriu muito bem seu papel de banqueira e tornou-se a porta-voz desse pacto – para usar os termos do colunista. Para entendermos isso, basta assistir aos noticiários em todas as emissoras (da identitária imperialista Rede Globo até a evangélica bolsonarista Record) e ler as reportagens nos principais jornais da burguesia. Vamos notar que a opinião de Leila é a opinião vigente entre os poderosos.
Menon acha que Leila é mulher antes de ser banqueira e capitalista. Isso não é verdade, antes de ser mulher, Leila é banqueira e obedece aos interesses dos capitalistas. E a ordem está clara: criar muita histeria em ambos os casos com o objetivo de reforçar um clima repressivo na população.
E para que esse clima repressivo? Como sempre, para a burguesia, quanto menos direitos democráticos, melhor. Melhor ainda se o corte de direitos vier mascarado de “defesa da mulher”.
Menon, infelizmente, caiu no conto do identitarismo. O fato de que Leila tenha falado o que falou apenas reforça as más intenções no grande alarde e histeria que se está criando em torno dos dois casos.