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Guerra Irã-‘Israel’

‘Imperialismo eurasiático’, pretexto para não apoiar o Irã

O Partido Comunista da Grécia criou a tese ultrarreacionária de que a Rússia e a China são imperialistas, o resultado? Não se pode apoiar a resistência no Oriente Médio

O Partido Comunista da Grécia, frequentemente chamado por sua sigle em grego, KKE, é um dos mais pró-imperialistas partidos comunistas do mundo. A principal capitulação diante do imperialismo do KKE é a questão da guerra da Rússia contra a OTAN. Para não se chocar diretamente com a OTAN, que a Grécia faz parte, o KKE assumiu uma postura “nem-nem”, nem Rússia e nem OTAN. E a sua justificativa para isso é que a Rússia compõe um novo bloco imperialista, junto à China. Essa tese absurda, por si só, leva o partido a assumir uma posição pró-imperialista diante de conflitos no mundo inteiro.

O caso do Irã deixa isso muito claro. O KKE publicou em seu jornal Rizospastis o texto A tendência para a generalização dos conflitos de guerra está aumentando. O partido foi completamente incapaz de apresentar uma política concreta para o problema do Irã e da Palestina. Ele analisa o ataque iraniano a “Israel”, mas tira mais conclusões sobre a guerra na Ucrânia do que qualquer coisa. O principal erro é não considerar nem o Irã e nem o Hamas como forças que lutam contra o imperialismo. Afinal, esses seriam aliados dos russos e, portanto, de outro imperialismo, que não se pode defender.

O ‘imperialismo eurasiático’

Vejamos os argumentos: “esse confronto é alimentado pelo massacre de palestinos em Gaza pelo estado de Israel, a guerra no Mar Vermelho entre as forças militares do bloco euro-atlântico e os Houthis do Iêmen, e acontece simultaneamente com a guerra imperialista na Ucrânia entre os EUA, a OTAN, a UE e a Rússia capitalista”. Ou seja, a guerra no Oriente Médio se insere na disputa entre dois imperialismos. O texto disserta mais a respeito.

“A corrida das contradições e das rivalidades pelo controle do mundo, o controle dos mercados e das fontes de riqueza, energéticas e comerciais, estrategicamente importantes, está se acelerando, e o selo é colocado pela confrontação EUA-China, do bloco euro-atlântico com o bloco eurasiático em formação, apesar das contradições internas deles.”

O bloco eurasiático seria a união da Rússia com a China. O Irã, apesar do partido não ter coragem de afirmar com todas as letras, faria parte desse bloco e, por isso, não poderia ser defendido. Essa tese também fez o KKE se colocar contra a luta nacionalista do Níger, pois os militares que agora governam o país estaria aderindo a esse novo bloco imperialista.

A ausência de política para a Palestina

Então, o KKE deixa escapar que também não defende o Hamas: “a miserável tentativa de identificar a condenação do Estado e da liderança de Israel com o apoio ao Hamas ou com o mito do antissemitismo não passou e não passará. Os combatentes que apoiam a luta heroica do povo palestino estão ao lado das lutas do povo israelense, judeus e árabes, que enfrentam a repressão e perseguição do governo de Netaniahu”. Ou seja, invés de apoiaram a luta de libertação nacional do Hamas, adotam a posição esquerdista: trabalhadores judeus e árabes unidos contra Netaniahu. É uma posição vergonhosa para um partido comunista, um partido que em sua história lutou contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial de armas na mão. O correto é apoiar a maior organização de luta do povo palestino, e não se acovardar e até mesmo fugir do debate.

Um ‘fora todos’ internacional

Então, entra a China e a Rússia na análise: “certamente, com os dados atuais, muito dependerá da posição da China e da Rússia, que podem se alinhar militarmente ao lado do Irã, dando continuidade à política que molda relações de aliança estratégica com o Estado iraniano, levando em consideração a competição entre o bloco euro-atlântico e o bloco eurasiático e o objetivo comum da China, Rússia e Irã em enfrentar a influência dos EUA no Oriente Médio e na região mais ampla, em prol de seus próprios monopólios e metas geopolíticas”.

O principal acontecimento do ano, um dos mais importantes do século, se tornou uma mera disputa entre os “imperialismos”! Aqui fica clara quão reacionária é a política do KKE. Os palestinos travam uma luta heroica contra o Estado de “Israel”, nunca tiveram tantas vitórias em 100 anos de luta contra o sionismo. O Eixo da Resistência se fortalece. O Irã, que nem mesmo o KKE considera imperialista, consegue quase que uma supremacia militar na região. Mas nada disso importa. Por quê? Porque, no fim, tudo é um jogo entre os dois imperialismos.

Aqui está o cerne da questão. Qualquer mobilização anti-imperialista no mundo será considerada reacionária ou irrelevante na tese do KKE. Isso porque sempre que os EUA, a Europa e o Japão forem derrotados, isto é, sempre que o imperialismo real for derrotado, isso será bom para a China e para a Rússia. Mas não é só isso. Será bom para o Brasil, para a Índia, para a Burquina Fasso, para o Níger, para a Argentina e a Bolívia, para a Arábia Saudita e para a classe operária de todos os países imperialistas. A derrota do imperialismo é uma vitória de todos os povos do mundo. Mas o KKE não consegue enxergar isso, ele vê apenas a vitória do imperialismo imaginário eurasiático.

Qual é a grande proposta do KKE? “O KKE é protagonista na luta pela desvinculação da Grécia das guerras imperialistas”. É uma conclusão genial. Todas as guerras do mundo são imperialista e, portanto, nunca é preciso tomar lados. Esse ponto é crucial. Ao se tomar lado, o lado do oprimido, o imperialismo irá pressionar. É o que acontece com o PCO que, pouco após defender o Irã, teve suas redes sociais censuradas. É justamente isso que o KKE não quer, enfrentar a burguesia imperialista na Grécia, o seu país de origem.

KKE, uma ferramenta da OTAN na Grécia

A vitória da Rússia e do Irã são derrotas da OTAN. A Grécia faz parte da OTAN. Qualquer partido que atue em um país membro dessa organização monstruosa deve lutar em primeiro lugar pela derrota da OTAN como parte da campanha de sua destruição completa. Ou seja, a Rússia nesse momento é grande aliada da classe operária da Grécia. Mas o KKE nunca a apoiará, pois está a reboque da burguesia, a serviço da própria OTAN.

Eles concluem seu texto: “o KKE constantemente, diariamente, informa o povo sobre os desenvolvimentos internacionais, as rivalidades imperialistas que permeiam a terra e nossa região, previu que o conflito entre EUA, OTAN e UE com a Rússia capitalista levaria à guerra na Ucrânia, revelou as contradições na região do Oriente Médio, Golfo Pérsico, Mar Vermelho, falou inúmeras vezes sobre o papel perigoso do estado de Israel”. E continua: “a contribuição do KKE é inestimável, lidera a luta de nosso povo por todos os problemas e luta pela libertação da Grécia das guerras e planos imperialistas, pela libertação das alianças lupinas, com o povo no comando do poder e governança do país”.

A contribuição do KKE não é libertar a Grécia de nada. A Grécia está atuando na guerra contra a Rússia e o KKE ajuda nessa política. A política de apoio à Rússia seria a melhor forma de retirar a Grécia da guerra. Mas ainda melhor seria que a Grécia participasse da guerra a favor da Rússia. O mesmo vale para o Irã. O KKE atua a serviço do sionismo, do governo Netaniahu, ao não se colocar abertamente ao lado do Irã.

Em resumo, a tese dos dois imperialismos tem um único proposito: criar uma desculpa política para não se lutar contra o imperialismo real. O KKE, ao afirmar que não quer ficar a reboque do imaginário imperialismo russo-chinês, fica ao lado do muito real imperialismo norte-americano e europeu. O Estado de “Israel” agradece.

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