Apesar do constante avanço da resistência palestina, liderada pelo Hamas, das milhares de baixas nas forças israelenses de ocupação e da desmoralização sem precedentes do Estado de “Israel” perante as massas de todo o mundo, o governo de Benjamin Netaniahu segue intensificando seu genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Isto ocorre, pois, conforme dito por Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), o governo é pressionado pelos elementos mais fascistas da política israelense para acabar de vez com os palestinos e suas organizações de resistência. Apesar de Netaniahu ser, ele mesmo, um político da extrema direita, há outros mais fascistas. E uma das organizações mais extremas do sionismo, que exerce sua influência para que o genocídio continue, é a No’ar HaGva’ot (Hilltop Youth, ou Juventude das Colinas, em sua tradução mais comum para o português), conforme exposto recentemente pelo historiador judeu israelense Ilan Pappé, autor do livro A Limpeza Étnica da Palestina.
Curiosamente, a Juventude das Colinas surgiu exercendo praticamente a mesma função que exerce hoje: fazer pressão sobre Benajmin Netaniahu para ter uma política mais fascista contra os palestinos.
Embora seja resultado de uma movimento fascista anterior, ela surgiu no final dos anos 1990, especificamente em 16 de novembro de 1998, quando o então ministro da defesa de “Israel”, o carniceiro Ariel Sharon, exortou à juventude do movimento dos “colonos” (na realidade, milícias fascistas do sionismo) para “agarrarem o topo das colinas”:
“Todo mundo que está lá deveria se mover, deveria correr, deveria agarrar mais morros, expandir o território. Tudo o que for agarrado estará em nossas mãos. Tudo o que não agarrarmos estará nas mãos deles.”
Este incentivo era uma resposta à assinatura do Memorando do Rio Wye, um acordo feito entre o Estado de “Israel” e a Autoridade Palestina, sob a mediação dos Estados Unidos, firmado em 1998. Esse acordo visava retomar a implementação dos Acordos de Oslo II, especificamente no que dizia respeito à Faixa de Gaza e à Cisjordânia.
O memorando foi firmado entre Benjamim Netaniahu e Yasser Arafat, com as negociações lideradas por Bill Clinton. Em seus termos, ambas as partes concordavam em tornar ilegais e combater as organizações terroristas, proibir armamentos ilegais, dentre vários outros pontos. Para os palestinos, isto significava um passo para desmantelar suas organizações de resistência. Para os israelenses, significava que o Estado de “Israel” deveria combater a violência dos “colonos”, isto é, das milícias fascistas. Naturalmente, para os sionistas, essa determinação serviria apenas para se desassociar formalmente da ação das milícias fascistas, em caso de necessidade.
À época, o incentivo por parte de Ariel Sharon impulsionou a ofensiva fascista de milhares de jovens colonos, especialmente contra as propriedades dos palestinos na Cisjordânia. Essa atividade fascista, que continua até os dias atuais e, inclusive, se acentuou após a revolucionária operação Dilúvio de al-Aqsa, consiste em incendiar mesquitas e campos, lançar pedras, arrancar árvores e realizar incursões em aldeias e terras palestinas, agressões, torturas e, até mesmo, assassinatos.
Tais ataques são análogos aos famosos pogroms que a extrema direita fazia contra os judeus no leste da Europa, especialmente no Império Russo, final do século XIX, e também com os ataques que os nazistas faziam contra bairros judeus na Alemanha e na Polônia, primeira metade do século XX.
Em “Israel”, há um nome específico para esse tipo de ataque, qual seja, “ataque de etiqueta de preço”, pois seria um preço exigido dos palestinos que resistem à ofensiva das milícias fascistas dos sionistas, que avançam sobre as terras palestinas para colonizá-las.
Segundo estimativas da Agência de Segurança de “Israel” (Shin Bet), um dos órgãos de espionagem de “Israel”, o número de pessoas que realizam os ataques fascistas de natureza colonial são de até três mil. Certamente números conservadores, mas que servem para ilustrar que as milícias fascistas do sionismo tem atuação significativa na política israelense.
E a Juventude das Colinas é o núcleo duro desses ataques fascistas contra os palestinos, sendo fundamental para a manutenção do genocídio que “Israel” perpetra diariamente contra os palestinos.
Segundo o jornalista israelenses Danny Rubstaine, a Juventude das Colinas se organiza em milícias privadas, sendo que estimativas do ano de 2009 colocavam seu número em cerca de 800, com mais cinco mil compartilhando de sua ideologia (Daniel Byman, A High Price: The Triumphs and Failures of Israeli Counterterrorism, Oxford University Press, 2011 pp.291f).
Contudo, nos tempos recentes, este grupo vem crescendo. O já mencionado historiador Ilan Pappé específica esse crescimento:
“Nos últimos anos, a ‘juventude’ entrou de forma sistemática nos bairros palestinos de cidades mistas dentro de Israel, como Akka, Haifa, Jafá, Al-Lid e Al-Ramleh. Construíram ‘centros de aprendizagem’ no meio das áreas palestinas e estão constantemente assediando a população. Estes ‘colonos’ desempenharam um papel importante na instigação dos motins contra as comunidades palestinas, os 48 Árabes, em Maio de 2021. A Juventude das Colinas acrescentou mais um componente ao seu repertório violento nos últimos anos, a invasão de Al-Haram Al-Sharif, o local sagrado muçulmano mais sagrado da Palestina.”
Quanto à ideologia do grupo, é a versão mais extrema do sionismo (tendo em mente que este já é uma ideologia fascista). A Juventude das Colinas defende “a deportação, a vingança e a aniquilação dos gentios que representam uma ameaça ao povo de Israel” (Ami Pedahzur, O triunfo da direita radical de Israel, Oxford University Press, 2012 pp.135-137). Isto é, são adeptos do Kahanismo, uma forma do sionismo religioso, criada e propagada pelo rabino Meir Kahane, fundador da organização fascista Liga de Defesa Judaica e do partido Kach.
Kahane defendia que os árabes que viviam no Estado de “Israel” eram inimigos dos judeus e do próprio Estado. Igualmente defendia a criação de um Estado teocrático e supremacista judeu, onde apenas os judeus teriam direito ao voto (“God’s Law: an Interview with Rabbi Meir Kahane”. Archived from the original on February 19, 2009. Retrieved 2012-12-18).
Resumindo, a Juventude das Colinas é, basicamente, uma versão sionista da Hitlerjugend, isto é, a juventude hitlerista, organização de jovens que estava na base do Partido Nazista. Assim pensa o historiador israelense Moshe Zimmerman em entrevista concedida ao jornal israelense Yedioth Ahronot, pouco antes do surgimento da Juventude das Colinas, mas fazendo referência ao mesmo movimento político:
“Há todo um setor na sociedade israelense que afirmo sem hesitação que é um imitador dos nazis. Vejam os filhos (dos colonos judeus em) Hebron, eles são exatamente como a Hitlerjugend […] Eles são doutrinados desde o berço sobre os maus árabes, o antissemitismo, como todos estão contra nós. Eles se tornam supremacistas paranoicos, precisamente como a Hitlerjugend.”
O nível de violência perpetrado pelos “colonos” israelenses contra os palestinos é uma demonstração inequívoca de seu caráter nazista. Uma das demonstrações recentes disto é o fato de esses fascistas seguirem se mobilizando para barrar a entrada de qualquer ajuda humanitária na Faixa de Gaza, enquanto milhões de palestinos correm risco de morrer de fome e de doenças evitáveis (sem considerar os que já são assassinados pelos bombardeios).
Para finalizar, vejamos a fala de uma “colono” israelense (melhor, uma miliciana fascista), que declarou à agência de notícias Anjasi que estava na área do Porto de Ashdod bloqueando a entrada de caminhões de oxigênios: “todo o povo de Gaza é terrorista”.