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Oriente Próximo

Irã obrigou Jordânia a escolher entre ‘Israel’ ou o povo

Aliança entre Abdullah II e o imperialismo é testada pela hegemonia militar iraniana e a intensa pressão popular em favor dos palestinos

A demonstração de força do Irã, que disparou mísseis e drones contra “Israel” no último 13, foi indiscutivelmente um sucesso, porém esbarrou na ação de um país árabe, que auxiliou a ditadura sionista a compor sua defesa contra as armas iranianas. Trata-se da Jordânia, país em que mais de um quinto da população tem origem palestina. O governo jordaniano há muito tem sido um importante ponto de apoio do enclave imperialista, porém, pairam dúvidas sobre sua capacidade de manter seu apoio, não apenas a “Israel”, mas ao imperialismo.

É o que destaca Ghaith al Omari, do Instituto Washington, um centro de análise especializado no Oriente Médio, que em entrevista à BBC Mundo, destacou que “apesar de toda a retórica, a Jordânia vê Israel como o principal garantidor de sua segurança contra atores externos, juntamente com os Estados Unidos”. (“Israel: el dilema que enfrenta Jordania, el único país árabe que participó en el operativo aéreo para repeler el ataque de Irán”, Guillermo D. Olmo, 17/4/2024). Omari acrescenta ainda que “Israel é vital para a segurança da Jordânia e vice-versa. Isso é assumido na doutrina militar de ambos os países, e é por isso que eles cooperam em defesa há anos”.

De fato, as colaborações do governo jordaniano com o imperialismo são muito antigas, como comprovam eventos históricos como o “Setembro Negro”, entre 1970 e 1971, quando o país muda sua política em relação aos palestinos e resolve expulsá-los violentamente. A traição vil ficaria marcada na história da saga do povo palestino. Após a bem sucedida retaliação iraniana, contudo, há dúvidas sobre se o rei Abdullah II conseguirá manter a monarquia jordaniana alinhada ao imperialismo.

Desde o começo dos massacres criminosos de “Israel”, o povo jordaniano tem protagonizado grandes manifestações em apoio ao povo vizinho, sendo contidos apenas por uma ditadura brutal. A mais recente onda, iniciada no dia 24 de março, culminou em uma sequência de 11 dias de protestos contra o genocídio do povo palestino e exigindo o rei Abdullah II rompa relações com “Israel”. Os protestos foram duramente reprimidos, como informa o jornal sionista The Times of Israel:

“Os protestos ganharam força nos últimos dias, e as forças de segurança jordanianas intensificaram sua resposta, realizando várias prisões e acusando os manifestantes de resistir à prisão ou agredir os agentes de segurança” (“Shaken by daily mass protests on Gaza, Jordan accuses ‘infiltrators’ of stoking unrest”, Gianluca Pacchiani, 4/4/2024).

Como era de se esperar, a decisão de apoiar a defesa sionista contra os iranianos causou uma revolta entre a população:

“‘O rei jordaniano lançou mísseis sobre seus cidadãos para proteger Israel’, dizia uma publicação amplamente compartilhada no X, anteriormente conhecido como Twitter. As palavras foram publicadas ao lado de uma foto de destroços de um drone na cidade jordaniana de Karak, que não fica muito longe da fronteira com Israel. A publicação, em árabe, foi posteriormente alterada para ser menos negativa em relação à liderança jordaniana, que é conhecida por reprimir críticas.” (“Jordan helped Israel against Iran, now locals are protesting”, Cathrin Schaer, Emad Hassan, Hamza al-Shawabkeh, DW, 15/4/2024).

“Estou muito chateado com a forma como a Jordânia defendeu Israel”, disse ao órgão alemão um cidadão de nome Hussein, identificado pelo DW como um ativista político que só informou seu primeiro, tremendo represálias do governo iraniano. “Muitas pessoas aqui não aceitam isso. Não apoiamos o Irã e o vemos como uma das principais causas do que está acontecendo em Gaza. Mas apoiamos qualquer ação que impeça Israel de entrar em Gaza.” (Idem).

Outro analista jordaniano, Osama Al Sharif, ouvido pelo norte-americano Voice of America, destaca que a Jordânia está em uma posição delicada:

“O país precisa proteger sua soberania. Ela não quer ser arrastada para um conflito aberto, seja do lado iraniano ou do lado israelense. A situação na Jordânia está emocionalmente carregada devido a Gaza. Nos últimos seis meses, tivemos protestos quase semanais – muito antiamericanos, muito anti-israelenses – que não estão em condições de entender a situação muito delicada em que a Jordânia se encontra. Ela quer chamar a atenção para a guerra de Gaza – a crise humanitária que está ocorrendo”. (“King Abdullah: Jordan will not be battleground in Israel-Iran confrontation”, Dale Gavlak, 17/4/2024).

Logo após os ataques, o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia convocou o embaixador do Irã devido a comentários na imprensa iraniana, trazendo a informação de autoridades do país que diziam que, se a Jordânia interviesse, ela se tornaria o “próximo alvo”. Pacientes, os iranianos responderam na sequência, em declaração emitida na segunda-feira (15) que deseja manter bons laços com a Jordânia.

“Israel” e o imperialismo contam com um trunfo poderoso para disciplinar o país: o acesso à água e energia jordaniano, que vem do enclave militar. Contudo, o peso das mobilizações populares é um fator que não pode se desconsiderar. O outro é reside na força, que falta ao Estado sionista, mas ficou bem evidente no Irã.

Não só lá, mas em todo o Oriente Próximo, a força da dissuasão iraniana já dava sinais de abrir uma nova etapa no relacionamento do país com os países árabes em geral. Um importante trunfo do imperialismo, o poder dissuasivo de “Israel”, deu lugar a um evento que consolidou a hegemonia militar em favor do Irã.

É preciso saber como a Jordânia em especial, por sua posição geográfica estratégica em um eventual confronto entre Irã e “Israel”, vai contabilizar perdas e ganhos, e como responderá ao 13 de Abril. E se a monarquia tem condições de sustentar a ira popular para manter-se vassalo a um Estado que vem dando sucessivas demonstrações de fraquezas.

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