Na terça-feira (12), o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, fez um pronunciamento para o maior lobby sionista dos EUA, o AIPAC. Ele afirmou com todas as letras: “vamos concluir o trabalho em Rafá, permitindo que a população civil saia do caminho do perigo“. Ou seja, ele prometeu invadir o extremo sul da Faixa de Gaza, onde há 1,5 milhão de palestinos, a esmagadora maioria refugiados. É um massacre gigantesco anunciado.
A crise em Rafá está se arrastando há semanas. O Estado de “Israel” organizou sua invasão de Gaza do norte ao sul para que os palestinos fossem empurrados para a fronteira com o Egito. É um claro plano de limpeza étnica, pois tem como objetivo final a migração em massa dos palestinos para fora da Faixa de Gaza, em direção à Península do Sinai. O plano só não foi posto em prática, pois o Egito já deixou claro que não aceitará um milhão de refugiados palestinos.
No entanto, o governo reacionário do Egito impõe apenas o veto à migração em massa. Mas não toma ações diretas para os eventos que já estão acontecendo em Rafá, um massacre permanente. Isso acontece porque o general Sisi que governa o Egito não está preocupado com a população da Faixa de Gaza. Sua preocupação é com a estabilidade de seu governo, um milhão de refugiados seria uma enorme instabilidade política. Além de que o governo seria visto como cúmplice da limpeza étnica de “Israel”, um suicídio político.
O imperialismo tenta evitar a crise
A declaração de Netaniahu aconteceu no mesmo dia em que os EUA e a União Europeia (UE) se pronunciaram sobre Rafá. Em uma nota oficial da UE, ela afirma que: “o Conselho Europeu insta o governo israelense a abster-se de uma operação terrestre em Rafá, onde bem mais de um milhão de palestinos estão atualmente buscando segurança dos combates e acesso à assistência humanitária“.
Já o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse aos repórteres que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não apoiaria uma invasão israelense a Rafá sem um plano claro para “proteger os mais de um milhão de palestinos deslocados atualmente abrigados lá”. É claro que a invasão em tais condições é impossível.
É difícil saber se as colocações do imperialismo são apenas demagogia ou se de fato há uma pressão contra a invasão de Rafá. Mas algo que é certo é que essa invasão aumenta a crise do imperialismo. Se essa é a sua decisão, é porque a outra opção é ainda pior. E é isso que indica o posicionamento de Benjamin Netaniahu.
Genocídio ou fim de “Israel”
A existência do Estado de “Israel” começou a ser fortemente ameaçada a partir do dia 7 de outubro, quando o Hamas lançou a operação Dilúvio de al-Aqsa. Mas isso não significa que esse fim chegaria nos próximos meses. No entanto, a incapacidade do imperialismo e do sionismo de resolver a crise está a tornando cada vez maior.
Cada mês que passa, a situação do imperialismo piora. Passados cinco meses de guerra, o controle do imperialismo do Mar Vermelho foi colocado em xeque pelo Iêmen. O mesmo aconteceu com a ocupação militar da Síria e do Líbano. Ao mesmo tempo, um levante popular gigantesco minou os principais governos imperialistas, principalmente o dos EUA. Cada dia de guerra em Gaza diminui as chances do principal setor do imperialismo manter controle do governo dos EUA nas próximas eleições.
Mas se para o imperialismo está sendo ruim, para “Israel”, é uma catástrofe. A resistência palestina apenas cresce na Cisjordânia. O Hesbolá se mostra cada vez mais forte. A fraqueza militar de “Israel” é cada vez mais aparente. A crise interna dentro do “país”, envolvendo a extrema direita, é gigantesca. Já no âmbito internacional, “Israel” está cada vez mais isolada, tornou-se quase um pária internacional. E da mesma forma que para os EUA, a cada dia de guerra, sua situação piora.
Ou seja, diante dessa situação, o sionismo, dirigido por Netaniahu, parte para uma política de tudo ou nada. Ou seja, a sua política é para evitar o fim do Estado de “Israel”, completar a limpeza étnica da população palestina, não só na Faixa de Gaza, como na Cisjordânia. O primeiro passo é justamente a Faixa de Gaza.
Essa realidade também é o que fortalece tanto a extrema direita mais radical israelense. Esse setor todo é o mais ávido apoiador do genocídio, pois compreende muito bem essa questão. Por isso também os colonos ilegais da Cisjordânia são os mais direitistas. O fim da ocupação da Cisjordânia tende a ser a primeira grande conquista dos palestinos.
Independente da crise no Estado de “Israel”, o genocídio em Rafá é inaceitável para qualquer ser humano. Caso seja levado adiante, é o dever de todos de se levantar para impedi-lo, principalmente dos países árabes mais próximos da região. Os povos oprimidos podem sair às ruas, como já estão fazendo, mas o principal é a ação das grandes forças políticas, dos governos. E, nesse caso, o mais importante é o próprio governo do Egito.
A invasão de Rafá é a linha vermelha para os governos árabes. Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Turquia, todos deveriam entrar em guerra com “Israel” para evitar o maior massacre do século XXI. Caso não o façam, correm risco de serem derrubados por aqueles que desejam luta pela Palestina.
Afinal, se na Inglaterra a luta por Gaza desestabilizou o sistema bipartidário, no Oriente Médio, essa campanha possui muito mais força.