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Rússia e China

‘Imperialismo chinês’, uma farsa para apoiar o imperialismo real

A Tendência Marxista Internacional discorre sobre uma enorme tese de que a China é imperialista, a sua conclusão é: não se pode apoiar a luta dos países oprimidos

A campanha do imperialismo contra a China é tão forte que arrasta diversos setores da esquerda pequeno-burguesa a atacar o país. A principal tese é de que a China seria um novo país imperialista e, portanto, não pode ser defendido, tal qual a França, os EUA e a Inglaterra. A base de seus argumentos é o nível de desenvolvimento econômico da China, que é, em geral muito mais valorizado que a dominação internacional de outros países, algo caracterísco de um país imperialista. Mesmo assim, essa esquerda tenta achar exemplos. É o caso da International Marxist Tendency (IMT) que em seu portal In Defence of Marxism publicou o texto “China and its role in the world”.

O artigo começa explicando que a China é um país capitalista: “de acordo com as cifras oficiais chinesas, o setor privado, definido de forma restritiva como empresas com menos de 10% de participação estatal no primeiro semestre de 2023, representou cerca de 40% do PIB. Este é um dado que você pode analisar. No entanto, este foi o índice mais baixo desde 2019. Qual é a direção desse processo? Em 2010, o setor privado, definido dessa maneira, representava apenas 8% do PIB e agora está em torno de 50%.” De fato, a China é um país capitalista e os dados apresentados contribuem para comprovar isso.

O problema começa quando o IMT quer justificar que China deixou de ser um país de capitalismo atrasado, ou seja, um país oprimido, para se tornar um país imperialista. “A China não se tornou apenas um país capitalista, ela se tornou um país capitalista que mudou seu caráter na divisão internacional do trabalho. Originalmente, como mencionei, era um país dominado pela mão de obra barata e pela exportação de mercadorias baratas (…) neste momento, a China se moveu em direção a uma economia de tecnologia e salários mais altos. O salário médio mensal nas áreas urbanas da China hoje é cerca de US$1.300, de acordo com as cifras da CEIC. Esse número, embora disfarce muitas disparidades regionais e disparidades entre setores, tornaria os salários dos trabalhadores chineses mais altos do que os salários, por exemplo, na Albânia, na Romênia, no México e em outros países para os quais os capitalistas buscam mão de obra barata.”

O argumento final demonstra sua fraqueza ao tentar provar que a China é um país mais desenvolvido, o comparando com países atrasados. E, ainda pior, utiliza apenas dados de uma parcela da população, a das áreas urbanas e seus salários. A China pode ter construído grandes centros industriais em diversas cidades, mas a sua zona rural ainda é um peso gigantesco na economia, são centenas de milhões de camponeses que ainda vivem em zona rural muito pouco desenvolvida. Considerando isso é possível que, de conjunto, os salários no México e na Albânia sejam maiores que na China. Ou seja, por esse argumento a China definitivamente não é imperialista.

Segue então falando a respeito do controle da China sobre outras economias: “agora, existe uma empresa chinesa chamada CATL. Esta é a maior fabricante de baterias para veículos elétricos do mundo e controla 34% do mercado mundial de baterias para veículos elétricos, estando bem à frente de qualquer outra empresa e fornecendo para todas as principais montadoras de carros do mundo, incluindo Tesla, Ford, Volvo (que obviamente não é mais uma multinacional sueca, ela foi comprada ou adquirida pelo capital chinês).” Aqui o autor ignora que são as montadoras que ditam as regras finais e não quem produz as peças. O Brasil possui diversas fábricas de autopeças, mas quem manda no mercado? Os mesmos monopólios imperialistas de sempre. Para justificar o imperialismo chinês, usa um setor ultra secundário, quando o imperialismo controla os principais setores da economia mundial, nos ramos fundamentais.

O autor então aborda o próprio texto de Lênin sobre o imperialismo: “agora, o que significa imperialismo? Quando falamos de imperialismo do ponto de vista comunista, não nos referimos a uma compreensão geral e comum de imperialismo, como em uma política externa agressiva, invasões militares, e assim por diante. Isso é parte do imperialismo.” Aqui aparece uma grande falha no argumento. Esse é, de fato, apenas um aspecto da política imperialista, mas é uma parte essencial. Os monopólios imperialistas se sustentam na base da política externa agressiva, se ela não está acontecendo, então é extremamente improvável que haja um monopólio. Veja o caso das baterias, quem deu o golpe do lítio na Bolívia não foram os chineses que produzem as baterias, foi o dono da Tesla Elon Musk, que controla todo o mercado, por exemplo.

O texto ainda cita outras grandes empresas chinesas como os bancos. Aqui o argumento é falho, pois uma empresa que atue na economia interna da China será enorme dado que a população chinesa é de 1,5 bilhão de pessoas. Mesmo assim os bancos chineses não controlam a economia mundial. Aqui chega na tentativa de provar que a China tem controle de mercados internacionais citando o projeto da “rota da seda”, que é basicamente uma expansão do comércio chinês. E depois afirma: “atualmente, a China não está usando poder militar para garantir seus interesses imperialistas… ou, pelo menos, até agora. E isso faz com que algumas pessoas digam: ‘Ah, mas o investimento chinês na África é um investimento amigável, não é como os imperialistas, que organizavam golpes militares e enviavam navios de guerra, etc.’ Sim, é verdade que os mesmos meios ainda não foram usados. Mas isso não significa que os investimentos chineses tenham um caráter diferente dos investimentos imperialistas de outros países”.

Na verdade, é exatamente isso que significa. Não existe dominação econômica sem a dominação política. Nenhum país da “rota da seda” passa perto de ser controlado diretamente pela China, todos eles seguem, na verdade, lutando contra o imperialismo real, o controle do Japão, dos EUA, da Inglaterra, da França. O IMT fala da base militar do Jibuti, a única base militar chinesa na África. Eles, no entanto, ignoram que o Jibuti tem bases militares da Alemanha, da Espanha, da Itália, da França, dos EUA, da Inglaterra e da Arábia Saudita. Ou seja, a “dominação militar” chinesa na África existe apenas em um país que é basicamente um estacionamento de bases militares até mesmo de países atrasados como a Arábia Saudita.

Mas o pior é quando o IMT tenta convencer os leitores de que a China tem algum controle sobre a América do Sul. “Ao mesmo tempo, a China investe dinheiro na América Latina por meio de investimento direto estrangeiro. A China comprou a rede elétrica de muitos estados brasileiros, e as empresas chinesas de veículos elétricos de propriedade privada, BYD e Great Wall Motors, agora compraram duas grandes fábricas de carros no Brasil, uma que antes era de propriedade da Ford e outra que antes era de propriedade da Mercedes. Duas empresas imperialistas ocidentais saíram do Brasil, e agora foram assumidas por duas empresas chinesas que vão construir veículos elétricos.” O exemplo do Brasil é perfeito para demonstrar porque a China não é imperialista.

A indústria automobilística no Brasil está sendo destruída pelo imperialismo real e os chineses estão aproveitando a deixa para atuar em uma parcela ínfima desse mercado. O IMT quer nos convencer, entretanto, que a China é tão poderosa que disputa com a Ford e a Mercedes. É uma outra versão do argumento das baterias de carros. O fato de a China ter alguma participação secundária não a torna de forma alguma um país imperialista. O autor também cita que o Equador tem dívidas com a China, é uma versão ainda mais ridícula do que afirma sobre o Brasil. Não existe um pingo de domínio chines no Equador, o país se torna cada vez mais uma colônia dos EUA.

Ao concluir o texto, demonstram o problema da tese do imperialismo chinês: “se alguém participou da palestra ontem sobre a situação na África e o imperialismo francês, pode-se ver que, claramente, não é uma melhoria. Para os trabalhadores do mundo, o interesse deles é lutar contra todas as potências imperialistas, não lutar para que diferentes potências imperialistas se equilibrem. É verdade, no entanto, que porque a China agora desempenha um papel maior na economia mundial, certos países estão tentando equilibrar um poder contra o outro e mudar um pouco as alianças.” Está aqui o motivo para a tese absurda do imperialismo chines, não defender a luta de libertação nacional de diversos países.

O “imperialismo russo e chinês” termina no ataque ao Níger, ao Burquina Fasso, ao Mali, à Síria e ao Irã. Afinal, se o país está lutando contra o imperialismo, ele se alinha naturalmente a China e a Rússia. Se ambos esses países são considerados imperialistas, na verdade, não existe uma luta real, é só uma disputa entre imperialismos e por isso não se pode apoiar o governo nacionalista. Essa tese é ainda pior vindo do IMT que é um partido de esquerda em um país imperialista. A verdade é que a tese do imperialismo chinês é uma das posições mais pró-imperialistas que os pseudo-marxistas podem assumir.

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