Nos últimos dias, a imprensa burguesa divulgou uma série de pesquisas que mostram que o governo Lula está em uma situação extremamente delicada. O instituto Paraná Pesquisas, por exemplo, afirma que, caso as próximas eleições presidenciais ocorressem agora, Bolsonaro e Lula estariam tecnicamente empatados.
Não se deve tomar os resultados de determinada pesquisa como uma constatação exata da realidade. Antes de qualquer coisa, esse tipo de levantamento serve para indicar as tendências políticas que se apresentam no País. E, neste caso, o resultado mostra que o governo não vai nada bem.
Nesse sentido, trata-se de um reflexo da sabotagem que a burguesia tem feito contra Lula, seja o bolsonarismo, seja a direita tradicional. Ao invés de apostar na mobilização dos trabalhadores, entretanto, o governo mostra uma forte tendência à capitulação diante do bolsonarismo.
Em relação ao 31 de março, data na qual o golpe militar de 1964 completa 60 anos, por exemplo, o governo cancelou as manifestações contra a ditadura. Lula chegou a dizer que o golpe de 1964 “faz parte do passado” e que quer “tocar o País para frente”, um grave erro que demonstra a pressão que as Forças Armadas exercem contra o presidente.
Ao mesmo tempo, houve a declaração de que o governo vai “jogar pesado” contra o chamado crime organizado e a crítica infeliz que Lula fez sobre o direito de fiança do jogador brasileiro Daniel Alves. Sem contar nas calúnias que o presidente brasileiro reproduziu contra as eleições venezuelanas.
Ou seja, vê-se um processo de “direitização” por parte do governo, que está sendo empurrado para a direita por conta da pressão dos acontecimentos, principalmente pelo receio de perder lastro político. Consequentemente, não é, ao que tudo indica, uma decisão espontânea, mas sim uma decisão feita sob pressão.
O ponto mais importante desse problema é que, independente de quanto governo vá à direita, visando atingir outra parcela da população e, mais que isso, políticos da direita, Lula nunca será Bolsonaro.
Se o presidente declara guerra contra o crime organizado, ao invés de ganhar mais simpatia da direita, fortalece a extrema direita, e não a esquerda. É um travestismo político, uma tentativa de ocupar o espaço de outra força política que está organizada, atuante. Algo que está fadado ao fracasso.
No caso do crime, isso fica ainda mais claro. Afinal, declarar guerra ao crime organizado é justamente o que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está fazendo em São Paulo. Ao adotar uma política similar, o que o governo está fazendo é favorecendo a política de Tarcísio, que tem uma posição política definida.
Nesse sentido, é uma confirmação da política da direita, algo que não vai favorecer o governo.