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Eleição paulistana

Filiar uma golpista é um problema, mas votar nela não?

Dirigente petista ensaia crítica à refiliação de Marta Suplicy, mas termina fazendo uma defesa velada do oportunismo rasteiro da burocracia petista

Foi publicada no sítio Brasil 247, no último dia 3, a carta aberta do membro da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Valter Pomar, apresentando quatro objeções à refiliação da golpista Marta Suplicy ao partido. Intitulada Impugnação da filiação de Marta Suplicy ao PT, a carta começa bem, recapitulando alguma das principais traições da ex-prefeita de São Paulo desde sua adesão ao Golpe de 2016, porém, nas conclusões, Pomar entrega:

“Concordamos que é fundamental ganhar a eleição paulistana. E, mesmo sem achar fundamental, reconhecemos ser bastante positivo que, depois de anos contribuindo com a direita, Marta Suplicy volte agora a contribuir com a esquerda e, inclusive, apoie a candidatura Boulos em São Paulo” [grifo nosso].

O problema enxergado pelo dirigente da tendência Articulação de Esquerda não é o PT afiançar uma chapa com o psolista serviçal do imperialismo – Guilherme Boulos – e uma golpista notória como Suplicy, mas “o fato de se ter misturado a discussão sobre a vice com a discussão sobre a refiliação”.

“Aceitar a filiação de quem fez isso [‘desrespeitou profundamente esta mesma militância’, explica o autor no parágrafo anterior], argumentando que isso seria necessário para ganhar a eleição, significa na prática tratar nosso partido como se fossemos uma mera legenda, cujos procedimentos internos estão totalmente subordinados às dinâmicas eleitorais.”

Ao tratar Suplicy como uma mulher duvidosa, a quem se pode recorrer para uma necessidade momentânea, mas que jamais deve ser tratada como algo além disso, o que Pomar propõe é um oportunismo disfarçado de defesa da militância petista. Estivesse o dirigente verdadeiramente preocupado com o partido, criticaria não apenas a filiação da ex-MDB, mas também o apoio a Guilherme Boulos para a disputa para a prefeitura da principal cidade do País.

“Marta não respeitou o PT quando saiu do Partido, nos acusando como fez na já citada carta”, diz, citando a carta publicada pela ex-secretária das Relações Internacionais do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), em seu ato de desfiliação, em 2015. “Ela não respeitou o eleitorado petista, nem o povo brasileiro, quando votou pelo impeachment”, continua, “ela não respeitou o PT, nem a classe trabalhadora, quando votou nas contrarreformas de Temer. Sem falar no que Marta disse e fez nas campanhas eleitorais de 2016, 2018 e 2020, notadamente contra as candidaturas petistas naquelas eleições“.

Fica claro que para o dirigente petista, Suplicy poderia ser apoiada, desde que mantida fora do partido. Uma linha de raciocínio que em nada difere do oportunismo desmedido dos demais dirigentes, que nitidamente adotaram uma política para as eleições municipais sem qualquer consulta às bases do PT.

É de conhecimento público que há uma insatisfação generalizada entre a militância petista com a indicação de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo e o retorno de Marta Suplicy ao partido para ser vice na chapa que disputará a capital paulista. O fato de o ato de filiação de Suplicy ter sido em um local fechado e não uma manifestação pública já entrega que a popularidade da tática é nula.

Atento a essa realidade, Pomar tenta mobilizar a ala esquerda do PT para uma crítica controlada da tática adotada pelos dirigentes petistas, que cumpre o papel de expressar a contrariedade da militância com a chapa de conjunto, mas a faz de modo inócuo, sequer toca a superfície do problema representado pela decisão de tirar o partido da disputa real pela prefeitura paulistana. Ele não fala, por exemplo, dos riscos que a tática traz, e que podem ser medidas pela capital do estado vizinho: o Rio de Janeiro.

Longe de fortalecer o partido, a adoção de táticas similares na segunda cidade mais importante do Brasil levou o PSOL a crescer no vácuo deixado pelo PT, chegando ao segundo turno das eleições cariocas em 2016 e elegendo a mesma quantidade de deputados federais (cinco) em 2022, mesmo dispondo de um aparelho partidário imensuravelmente menor. Em 2020, o então psolista Marcelo Freixo (segundo colocado nas eleições de 2016) também despontava como principal candidato da esquerda à prefeitura carioca, projeto abortado para favorecer o candidato direitista e mais ligado ao imperialismo, Eduardo Paes (PSD).

Eis o resultado das táticas geniais adotadas pelos “sábios” dirigentes petistas: desaparecimento do partido na segunda maior cidade brasileira, crescimento da esquerda “Lula livre não unifica” e sucesso da direita “civilizada”. Nada disto, no entanto, preocupa Pomar.

Sua crítica, vazia de substância política, exceto pelo oportunismo explícito das conclusões tiradas pelo autor, fazem da carta aberta um artigo que parece expressar uma contrariedade, mas é na realidade um endosso velado ao verdadeiro crime que a burocracia partidária comete contra os mesmos alvos indicados por Pomar: o eleitorado petista, a classe trabalhadora e o povo brasileiro.

Ao creditar a refiliação de Suplicy a um abstrato “desejo pessoal de Marta”, Pomar despolitiza a operação em andamento, voltada a desmoralizar o maior partido da esquerda brasileira, o que longe de favorecer as demais forças do campo, ao mesmo tempo em que traz de volta figuras podres do golpe, como é o caso de Suplicy.

Os militantes petistas podem e devem exigir participação nas decisões que envolvem o partido. As deliberações de cunho eleitorais devem ser submetidas à aprovação da militância, para ser uma decisão verdadeiramente democrática. Ocorre que dado o nível da pressão do imperialismo contra o PT e a capitulação crescente de seus dirigentes, uma deliberação democrática para definir a chapa que disputará a prefeitura de São Paulo evidentemente não está nos planos da burocracia partidária, a menos que a pressão das bases force uma reversão das opções golpistas apresentadas até aqui e que não tem em Pomar uma expressão de oposição honesta.

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