Esquerda brasileira

Falar em ‘imperialismo russo’ serve à defesa do imperialismo real

Esquerdistas reconhecem que o imperialismo norte-americano é uma das partes do conflito na Ucrânia e, ainda assim, comemoram assassinato de general russo como 'vitória popular'

O artigo intitulado A guerra volta para a casa: bomba-patinete ucraniana explode e mata general russo em Moscou, publicado pelo órgão maoísta A Nova Democracia (AND), é o que se pode chamar de pérola. O texto defende o atentado realizado pelo regime nazista da Ucrânia e responsável pelo assassinato do general russo Igor Kirillov, o que, segundo o sítio, seria um “potente ataque da Ucrânia contra o país invasor” e que teria ainda a importância de “revelar as capacidades da Ucrânia de realizar ações de sabotagem e eliminação física de quadros importantes do inimigo”, apresentado como “Estado imperialista russo”. Poderia ser uma demonstração de ignorância quanto ao que efetivamente é o imperialismo, porém, o artigo vai além:

“Isso [o atentado] é importante porque, em uma guerra de agressão, é normal que o país agredido use de métodos como ataques a bomba para minar as defesas do inimigo e disseminar caos nas linhas externas. Elemento-chave para isso seria colocar as massas populares ucranianas em pleno jogo na guerra, sobretudo na forma de guerra de guerrilhas, um caminho rejeitado pelo capitulador pró-Estados Unidos (EUA) Volodymyr Zelensky, que vê nas armas imperialistas o único caminho para a vitória – mesmo depois das várias comprovações de que o EUA trabalha, com a Rússia, para a entrega de parte do território ucraniano.”

Ora, AND reconhece que a principal potência imperialista do planeta é parte do conflito e, ainda assim, a política do órgão é apoiar uma das partes, por sinal, o lado mais poderoso do imperialismo. Se o órgão maoísta reconhece a guerra em marcha no Leste Europeu como um conflito entre dois imperialismos – russo e norte-americano -, a posição revolucionária atestada pela história seria a defesa da oposição a ambos. Não é, no entanto, o que defende o artigo, que vibra pelo “sucesso” do terror, reforçando que a orientação política vem do imperialismo norte-americano em outro trecho:

“Uma fonte do Serviço de Segurança SBU da Ucrânia disse à agência de notícias monopolista AFP que Kirillov era um ‘criminoso de guerra’ e que o ataque foi uma ‘operação especial’. ‘Kirillov era um criminoso de guerra e um alvo absolutamente legítimo, pois deu ordens para usar armas químicas proibidas contra os militares ucranianos’, disse à AFP a fonte do SBU, que falou sob condição de anonimato. ‘Um fim tão inglório aguarda todos aqueles que matam ucranianos. A retribuição por crimes de guerra é inevitável’, acrescentou a fonte.”

Que a “fonte do SBU” defenda o assassinato de Kirillov e o justifique dizendo ser “alvo absolutamente legítimo, pois deu ordens para usar armas químicas proibidas contra os militares ucranianos”, é esperado. O inesperado é o governo ucraniano vira fonte confiável para um órgão de imprensa de uma organização política que se reivindica marxista, especialmente após a mesma organização reconhecer que o governo ucraniano se submete ao governo do imperialismo norte-americano.

A verdadeira capitulação reside na postura do AND ao aceitar, de maneira acrítica, a propaganda imperialista promovida pelos Estados Unidos e seus aliados. O mais grave é que essa aceitação ocorre sem qualquer análise mais rigorosa, como a caracterização da Rússia como uma nação imperialista, uma afirmação risível para qualquer pessoa minimamente familiarizada com os ensinamentos de Lênin sobre a questão do imperialismo. A superficialidade dessa avaliação revela não apenas inconsistência teórica, mas uma submissão ideológica e uma sensibilidade à pressão imperialista que torna a organização maoísta inepta para a luta política.

As posições defendidas pelo AND a colocam, de maneira objetiva, no campo da defesa do imperialismo. Ao apoiar ações terroristas coordenadas pelo regime fantoche de Quieve e apresentá-las como supostas vitórias populares, o órgão maoísta serve, em última instância, aos interesses das potências imperialistas, os verdadeiros interessados na manutenção do cerco total à Rússia e responsáveis por usar o povo ucraniano como bucha de canhão para sua política belicista. Esse alinhamento, disfarçado sob uma retórica revolucionária, nada mais é do que um apoio à ditadura global, quer AND tenha consciência disso ou não.

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