Confirmando que é um capacho dos Estados Unidos, e que a ditadura que vem instituindo no Equador serve aos interesses do imperialismo, o governo de Daniel Noboa anunciou um acordo militar para enviar aos norte-americanos o armamento russo que há no país, sob a alegação de estarem obsoletos.
Dentre os equipamentos bélicos a serem entregues aos norte-americanos estão 11 helicópteros MI-17; 10 tanques BTR-60; 18 sistemas de defesa aérea MLRS “Graduado”; 15 sistemas automatizados de mísseis antiaéreos OSA; 44 sistemas antiaéreos ZSU SHILKA; mais de 150 canhões antiaéreos ZU-23-2 e ZPU-4; seis tanques blindados lançadores de pontes MTU-20; e dezenas de sistemas portáteis de defesa antiaérea Igla-S, MPADS e Strela.
Tais equipamentos foram adquiridos na década de 1990.
Em troca, o governo Noboa deverá receber do imperialismo equipamento militar moderno. Sendo específico, o presidente golpista chamou os equipamentos militares russos de “sucata”, anunciando que irá trocá-los por “US$200 milhões em equipamentos modernos”.
Conforme o anúncio, essa troca seria fruto de um acordo militar fechado entre seu governo e o de Joe Biden, acordo este anunciado há cerca de três semanas, na segunda quinzena de janeiro, ocasião em que também anunciou que o país ampliaria seu mercado para receber investimentos dos Estado Unidos (isto é, permitiria a entrada do capital imperialista).
Na esteira desse anúncio, abriu-se uma crise diplomática entre o Equador e a Rússia. O embaixador russo em Quito, Vladimir Sprinchan, alega que o governo de Noboa está violando acordos que foram assinados quando da compra desses equipamentos militares, na década de 1990, pois a transferência não pode ser feita sem o consentimento de Moscou.
Então, o que se tem aqui é a troca de equipamentos supostamente obsoletos por armamentos modernos, de última geração. Seria uma tremenda generosidade por parte do imperialismo, se este fosse generoso e não tivesse interesses em jogo.
Especificando quais seriam estes interesses, o diplomata alegou que os Estados Unidos planejam enviar esses equipamentos para a Ucrânia a fim de continuar a guerra. Troca esta que seria bastante útil ao governo Biden, que está tendo problemas em obter aprovação do Congresso para liberar mais do orçamento norte-americano para colocar na guerra.
Nesse sentido, vale reproduzir informações divulgadas pelo jornalista José A. Amesty Rivera, no portal de notícias Rebelión.
Segundo ele, fontes do Departamento de Estado dos EUA confirmam que o atual fechamento do regime no Equador é “resultado de uma operação em pleno andamento da Comunidade de Inteligência da CIA e do Departamento de Defesa dos EUA, cujo braço executor e presença na região é o Comando Sul”. Além disso, “um dos principais objetivos é recuperar a base militar de Manta, obter armamento soviético/russo em posse do Equador para fornecer à Ucrânia, contornando a autorização do Congresso Federal e a venda de novos armamentos americanos para Quito”.
Outro objetivo do fechamento de regime que está sendo feito pelo governo Noboa é impedir a volta de Rafael Correa e de um governo nacionalista ao poder. E isto seria feito fortalecendo “figuras do poder judiciário com poderes extraordinários, para posteriormente desenvolver uma nova operação de lawfare contra o ex-presidente”.
Justamente o que aparenta estar ocorrendo no Brasil, com o fortalecimento progressivo do Poder Judiciário, tanto sob o pretexto de combater ataques contra o “Estado Democrático de Direito”, quanto de combater o narcotráfico e o crime organizado em geral.
Nesse sentido, José A. Amesty Rivera denuncia também que o imperialismo controla a Procuradora-Geral Lady Diana Salazar Méndez, e que seu papel será criar um caso falso contra Rafael Correa para o perseguí-lo politicamente, retirando-o do cenário político do Equador. Uma perseguição aos moldes da que foi feita contra Lula, no Brasil.
Expondo que a procuradora está completamente nas mãos dos EUA, o jornalista menciona que ela esteve recentemente em Washington, encontrando-se com o Procurador-Geral dos EUA, Merrick Garland, a Procuradora-Geral Adjunta dos EUA, Nicole Argentieri, e o Diretor do FBI Christopher Wray.
A denúncia do jornalista é extremamente elucidativa para o Brasil. Aqui, o governo Lula, que, assim como Rafael Correa, é um representante do nacionalismo, está cercado de pessoas da burguesia que podem lhe derrubar a golpear quando o imperialismo determinar. Destaque para o atual Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, imposto a Lula pela burguesia e o imperialismo.
Além disso, outro ponto bastante esclarecedor da denúncia de Rivera e que serve para o Brasil é quando ele expõe que o plano de edificar uma ditadura, o que está sendo feito atualmente por Daniel Noboa no Equador, sob a justificativa de combater o crime; esse plano já vem ocorrendo pelo menos desde 2021.
Segundo o jornalista, em 27 de janeiro daquele ano, o então presidente golpista Lenin Moreno reuniu-se na embaixada norte-americana em Quito com o atual secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e os parlamentares norte-americanos Bob Menéndez e Marco Rubio. A finalidade da reunião foi estabelecer “o Projeto de Lei de Associação EUA-Equador e elaborar planos para evitar a ascensão do correísmo ao poder”.
Rivera expõe ainda que “este projeto começou a ser executado como pretexto para fortalecer as estruturas de inteligência e segurança no Equador, principalmente nas regiões costeiras do país, utilizando como justificativa o combate ao narcotráfico e outros crimes ambientais, como pesca ilegal e caça indiscriminada de espécies protegidas, para justificar sua presença em todas as ilhas que compõem a reserva ecológica de Galápagos, assim, justificando a presença dos EUA no Equador”.
Assim, a troca de material militar serve não apenas aos EUA e à Ucrânia, mas também para a militarização do Equador, algo que será necessário para conter a inevitável revolta popular que virá do aprofundamento da política neoliberal e da ditadura que está sendo criada agora para aplicar essa política.
Ademais, expondo a farsa do combate ao narcotráfico, Rivera também afirmou que a recente crise com as gangues de traficantes de drogas, que vem servindo de pretexto para a ditadura de Noboa, foi resultado de uma desestabilização criada por agentes dos Estados Unidos, especificamente da Administração de Controle de Drogas (DEA):
“Para alcançar seus objetivos, eles organizaram uma desestabilização em grande escala no Equador, com a ajuda de agentes da Administração de Controle de Drogas (DEA) infiltrados em quadrilhas de narcotraficantes no país.”
Este é um cenário que deve servir de alerta para o próximo período no Brasil. Afinal, grande parte desses sinais já existem no País: todos os dias a burguesia (brasileira e imperialista), através de sua imprensa, faz campanha pelo fechamento do regime político brasileiro. As justificativas são diversas: combater as mentiras nas redes sociais, com a finalidade combater o fascismo; combater os ataques ao “Estado Democrático de Direito”; combater o narcotráfico e o crime organizado em geral, para melhor a segurança pública; militarizar a Amazônia para combater o aquecimento global/mudanças climáticas e também para proteger os índios contra garimpeiros etc.