O grupo Organização Comunista Internacionalista (OCI) publicou em seu portal na internet um artigo onde pretende analisar a paralisação e as manifestações que ocorreram na Argentina no último dia 24: “Argentina: Balanço da greve geral de 24 de janeiro”.
O curto artigo critica a burocracia sindical: “Trata-se de uma paralisação que não foi precedida por assembleias nos locais de trabalho que permitissem à classe trabalhadora dar voz às suas reivindicações mais sentidas e com os métodos tradicionais da greve geral e de ocupação de fábricas.” De fato, o trabalho da burocracia não deveria espantar um grupo que se considera revolucionário. É claro que o sindicalismo peronista, de caráter bastante conservador, não tem interesse numa mobilização real dos trabalhadores.
No entanto, o artigo se esquece que a própria esquerda “revolucionária” não tem uma política correta para a situação. Prova disto é a própria posição apresentada no artigo, que será analisada mais adiante.
Apesar de criticar as direções sindicais, o artigo da OCI elogia a manifestação: “Evidentemente a mobilização foi massiva e decisiva, apesar da política da burocracia, e os dados que nos chegam são de grandes marchas, apenas comparáveis às enormes mobilizações que comemoraram o 24 de março.”
Provavelmente há uma tendência de luta dos trabalhadores. Mas as dificuldades impostas pela burocracia e pela política errada da esquerda impediram que as mobilizações fossem maiores.
Não houve paralisação dos transportes e há informações de que os patrões sequer se preocuparam em coagir os trabalhadores contra a paralisação. Isto mostra que não há uma mobilização real e nem mesmo foi “massiva” como afirma o artigo da OCI, embora tenha sido grande (provavelmente por contar principalmente com setores ativistas da classe média da esquerda).
Depois de criticar a burocracia, o artigo apresenta algumas fórmulas prontas para ajudar na mobilização: “Temos que realizar assembleias e autoconvocações nos locais de trabalho e estudo, nos bairros populares, nas empresas e nas fábricas. Temos que vincular nossas reivindicações mais sentidas à derrota do superpacote e do governo.”
Tudo muito bonito, mas o problema da mobilização contra o governo Milei na Argentina não são fórmulas; o problema central é a política. A esquerda pequeno-burguesa está completamente desorientada diante da situação. E a desorientação não é de agora, mas de muito tempo.
Ao menos desde a eleição de Maurício Macri, que fazia parte da onda de golpes direitistas que tomaram conta da maioria dos países da América Latina, a esquerda não sabe o que fazer. O governo Macri não foi enfrentado, sequer a palavra de ordem de Fora Macri foi levantada quando nitidamente se tratava de um golpe eleitoral.
A política de adaptação diante da direita contra o kirchnerismo fez com que a esquerda pequeno burguesa entrasse na onda golpista, inclusive colhendo alguns resultados eleitorais, o que aprofundou a paralisia e a desorientação.
Milei é uma etapa ainda mais grave desse golpe do imperialismo, interrompido apenas pelos quatro anos de um governo desastroso de Alberto Fernandes, que não conseguiu derrotar a direita e que, ao invés disto, impôs uma política impopular que acabou resultando na catástrofe Milei.
Da mesma maneira que a esquerda se recusou a chamar o “fora Macri”, pois sequer analisava a situação como um golpe, também se recusa a chamar o “fora Milei”. A política é a mesma, mas o problema é mais grave, já que Milei é um Maurício Macri turbinado.
O golpe de Estado atual promete ataques muito mais profundos contra o povo. Milei e o imperialismo planejam inclusive colocar a Argentina numa ditadura contra os trabalhadores para impor tais ataques.
O artigo da OCI representa bem essa desorientação em suas conclusões: “Não podemos esperar mais. A classe trabalhadora deve se colocar à frente da luta e acrescentamos que devemos nos preparar para derrotar os capitalistas e seus governos, e lutar por um governo próprio: um governo dos trabalhadores.”
A solução para o problema? O “governo dos trabalhadores”, poderíamos dizer também o “socialismo” e a “revolução mundial”. Trata-se, no entanto, de uma panaceia. A situação da Argentina deve ser enfrentada com uma política concreta.
É preciso denunciar os ataques de Milei e do imperialismo, é preciso mobilizar os trabalhadores contra o governo golpista, é preciso convocar o povo para a derrubada de Milei.
Dizer “governo dos trabalhadores” é uma forma pseudo radical de encobrir a urgência da situação. Isto se dá porque a esquerda, como revela o texto da OCI, sequer acredita que o que está acontecendo na Argentina é um golpe de Estado e uma ditadura. Diante de um golpe e de uma ditadura, qualquer esquerda deveria exigir o fim desse governo.
É como se durante a ditadura militar, a esquerda pedisse a revolução mundial e não “abaixo a ditadura”. Isto mostra a completa desorientação política, que leva a uma política desastrosa.