Eleições 2024

Esquerda francesa é um exemplo… do que não fazer

Repetir as táticas derrotistas adotadas pelo França Insubmissa só levará a novos desastres

O sítio da organização esquerdista Juntos!, do PSOL, publicou, no dia 16 de julho, um artigo intitulado Neoliberalismo, governo Lula e a extrema direita, assinado por Theo Louzada Lobato, no qual realiza a proeza de criticar a “frente amplíssima” do governo Lula e, ao mesmo tempo, defender o fortalecimento de candidaturas que expressem “posições independentes, mesmo de candidatos da burguesia apoiados pelo governo”. O grande “caso de sucesso” para verificar a viabilidade dessa política, segundo Lobato, é a França, onde o que mundo viu foi uma fragorosa derrota da esquerda, que reivindicou o governo após o segundo turno das eleições parlamentares e terminou recebendo o tradicional “tratamento de corno” dispensado pela burguesia aos seus serviçais, exatamente por fazer o que defende Lobato. Diz o membro da coordenação do Juntos!:

“Por isso o exemplo francês é fundamental. A decisão de uma unidade dos setores da esquerda do país baseada em um programa que buscava aumentar o salário-mínimo e revogar diretamente as reformas liberais do governo Macron permitiu a derrotada da então favorita reacionária Reagrupação Nacional, demonstrando a centralidade que um projeto anti-neoliberal definido pode ter, visto que os representantes do macronismo também ficaram atrás da unidade da esquerda.”

O parágrafo acima, destacado por Lobato como um exemplo de sucesso, esconde uma armadilha política que resultou em uma derrota monumental para a esquerda francesa. A realidade é que essa aliança foi um cavalo de Troia que enfraqueceu a verdadeira força da esquerda, representada pela França Insubmissa, partido dirigido por Jean-Luc Mélenchon.

Na França, Mélenchon cometeu o erro de se aliar aos mesmos neoliberais que Lobato critica por influírem no governo Lula. O Partido Socialista e os Verdes, que já haviam demonstrado suas inclinações neoliberais e colaboracionistas, usaram a esquerda para elevar suas próprias votações sob o pretexto de combater a extrema-direita. Uma vez alcançado esse objetivo, esses partidos rapidamente abandonaram qualquer pretensão de lutar contra o neoliberalismo e se aliaram ao presidente Emmanuel Macron, desferindo um golpe traiçoeiro na esquerda. Traiçoeiro, mas previsível a qualquer um com as faculdades mentais em seu estado normal.

Mélenchon, que havia se esforçado para construir uma frente ampla, foi tratado como um pária político assim que sua popularidade perdeu utilidade para a direita “republicana” francesa, sendo traído pelos seus supostos aliados. Lobato, ao defender a aplicação dessa tática no Brasil, ignora as lições da experiência francesa. A política que ele promove, de formar alianças com candidatos burgueses e neoliberais sob a bandeira de uma frente ampla, inevitavelmente resultará no fortalecimento dos direitistas travestidos de esquerdistas e, consequentemente, no próprio projeto econômico neoliberal, que ele diz se opor.

No cenário brasileiro, essa tática significaria a repetição dos mesmos erros, levando a uma situação em que a verdadeira esquerda seria usada e descartada assim que os neoliberais atingissem seus objetivos eleitorais. A estratégia de alianças amplas leva a uma unidade entre oprimidos e opressores, o que, naturalmente, não terminará bem para os primeiros.

Ao incorporar elementos neoliberais e burgueses na coalizão, a esquerda se vê obrigada a abdicar de seus princípios e de seu programa, colocando-se em uma posição de vulnerabilidade. Os neoliberais, uma vez no poder, continuam a implementar políticas que favorecem o capital e arrasam os trabalhadores, traindo a confiança dos eleitores de esquerda e fortalecendo ainda mais a direita.

Ao citar o exemplo francês como um modelo a ser seguido, Lobato demonstra uma incompreensão fundamental da dinâmica política e dos interesses em jogo. A união com elementos neoliberais não fortaleceu a esquerda, pelo contrário. Desmoralizou-a e fragmentou suas bases de apoio. No caso da França, a aliança com o Partido Socialista e os Verdes não só falhou em reverter as reformas liberais de Macron, como também permitiu que esses partidos recuperassem terreno político às custas da França Insubmissa, traindo os princípios que a aliança supostamente defendia, levando a um governo de uma neoliberal do PS.

Para o Brasil, seguir a mesma trajetória seria catastrófico. A história recente mostra que alianças com neoliberais resultam em governos que continuam a servir aos interesses do grande capital, enquanto as necessidades da classe trabalhadora são ignoradas ou secundarizadas. A esquerda brasileira deve aprender com os erros dos outros e rejeitar qualquer estratégia que envolva a cooptação de elementos neoliberais em suas fileiras. 

Em vez de buscar alianças amplas e vagas, a esquerda deve focar em construir um movimento sólido e independente, baseado em princípios claros e em uma plataforma que realmente atenda às necessidades da população trabalhadora. Isso significa resistir às chantagens para formar coalizões com partidos falidos, ligados a uma base social com interesses contrários aos da classe trabalhadora, como o caso dos setores da direita que se reivindicam “democráticos”.

A tática proposta por Lobato, ao ser implementada no Brasil, levará inevitavelmente ao fortalecimento dos neoliberais e a desmoralização dos que nesse tipo de tática. Ao invés de construir uma frente amplíssima com todos os setores, a esquerda deve se concentrar em fortalecer suas próprias fileiras, promover a unidade entre os movimentos sociais e trabalhistas e apresentar uma alternativa clara e distinta ao neoliberalismo e à extrema-direita.

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