Em seu artigo E se Bolsonaro escapar de todos os cercos?, publicado no Brasil 247, o articulista Moisés Mendes volta a se preocupar com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, como se esse devesse ser o centro da política da esquerda nacional. O texto apresenta um certo desânimo com o fato de que, até o momento, Bolsonaro ainda não foi investigado pelo assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL):
“Não há excesso de pessimismo em se imaginar que o sistema de Justiça pode nos oferecer em algum momento as seguintes conclusões: Bolsonaro não liderou o golpe, não comandou a sabotagem contra a vacina da Covid, não ordenou o genocídio dos yanomamis e não mandou matar Marielle. De todas as hipóteses acima, só uma não resultou ainda em investigação contra o homem que começam a chamar de quase-preso: é a que trata do assassinato de Marielle Franco”.
Apesar do desânimo, Mendes afirma:
“Ainda não. Mas essa hipótese é, por especulações que circulam há anos na internet, uma das que sobrevivem até aqui. Metade do Brasil torce para que Bolsonaro ou alguém da família seja o mandante do crime”.
O que Moisés Mendes não se dá conta, no entanto, é que ao falar do “pessimismo” em relação ao Poder Judiciário, o articulista não está se queixando do fato de que a Justiça no Brasil é, sim, como em toda sociedade capitalista, arbitrária. A queixa de Moisés Mendes não se dá, por exemplo, porque o Judiciário foi um dos pilares do golpe de Estado de 2016 e foi o responsável pelo impedimento da candidatura de Lula em 2018. O problema do Judiciário seria a sua ineficiência para perseguir um adversário político.
Tomemos como exemplo a tal “tentativa de golpe de Estado” Foi comprovado um plano de fato para um golpe de Estado? E mais: esse plano tinha de fato Jair Bolsonaro como seu principal mentor e articulador? Não. Por um lado, as manifestações de 8 de janeiro de 2023 foram organizadas, todos sabem, pela cúpula das Forças Armadas. A participação de Bolsonaro seria secundária nisso tudo. E por que Moisés Mendes não dá uma palavra sobre os militares?
Por outro lado, o Brasil foi vítima de um golpe de Estado dado em plena luz do dia: o golpe de 2016. E não há maior prova de que o golpe foi uma conspiração contra o povo que o fato de que o próprio povo decidiu, em 2022, eleger para a presidência da República a figura mais perseguida do golpe de Estado, o presidente Lula. Onde está a “frustração” de Mendes com a Justiça que não prendeu absolutamente ninguém por essa conspiração contra o País? Não prendeu e, obviamente, não vai prender, uma vez que o Judiciário foi parte do golpe.
O caso da pandemia é semelhante. Mais de 700 mil pessoas morreram durante a pandemia de coronavírus. Culpa de Bolsonaro? Sim. Mas não só dele. Todos os governadores, os deputados e o Judiciário, assim como no golpe de Estado, conspiraram contra o povo e foram responsáveis por uma política cujo único fim era salvar os lucros dos banqueiros. Por que a Justiça deveria, então, se especificar exclusivamente com Jair Bolsonaro?
O caso Marielle Franco é ainda mais ridículo. O articulista se agarra à sua impressão de que “metade do Brasil troce” pelo envolvimento de Bolsonaro no crime. Se há envolvimento ou não, é algo que deve ser investigado, e não ser fruto de uma “torcida”. Mas o que chama muito a atenção deste caso é que, quando Marielle Franco foi morta, estava ocorrendo uma intervenção militar no Rio de Janeiro. Seu assassinato está diretamente ligado aos militares e à Polícia Militar, que era o alvo das denúncias de Marielle Franco. O fato de as investigações não progredirem, mesmo depois de cinco anos, tem a ver com isso: desde o início, estava óbvio que havia uma operação para encobrir os motivos de seu assassinato.
Moisés Mendes agora torce para que o caso Marielle Franco leve à prisão de Bolsonaro. Se isso acontecer, só teria uma explicação: não se trata do resultado de uma investigação séria, mas sim do fato de que um setor da burguesia tem interesse em encontrar um pretexto para incriminar o ex-presidente.
O que o articulista torce, no final das contas, é que a Justiça se volte contra Bolsonaro, independentemente se há crime ou não, se há prova ou não e se há mérito ou não. Ele torce, portanto, para que o Judiciário seja um instrumento de perseguição política a seus adversários. De nada irá adiantar, e o caso de Donald Trump, nos Estados Unidos, ilustra bem isso. Caso Bolsonaro seja preso por uma ação parcial da Justiça, sua popularidade apenas aumentará. E mais: o uso político do Judiciário se voltará cada vez mais contra a esqeurda.