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Ásia

Eleições no Paquistão, o segundo golpe de Estado

Neste dia 8 de fevereiro ocorreram eleições gerais no Paquistão. Contudo, o candidato mais popular do país está preso, e seu partido, o PTI, proscrito das eleições

Nesta quinta-feira (8), ocorreram eleições gerais no Paquistão, para a escolha dos membros da 16ª Assembleia Nacional. Com um número total de 336 cadeiras, é necessário 169 para se obter a maioria.

Oficialmente, os principais partidos em disputa é Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N, sigla inglesa), cujo líder é o antigo primeiro-ministro Navás Xarif; e o Partido do Povo do Paquistão (PPP), liderado pelo ex-ministro das relações exteriores Bilaual Butto Zardari.

Estão registrados para votarem 128.585.760 de paquistaneses

O fato mais importante dessas eleições é a conjuntura política em que elas foram realizadas: a de um golpe de Estado que está fechando o regime paquistanês no sentido de uma ditadura fascista. O que serve para demonstrar que realizar eleições, por si só, não é sinônimo de democracia.

O golpe de Estado, no caso, é a perseguição política ao ex-primeiro-ministro, Imran Khan, à sua família, seus apoiadores e seu partido, o PTI (Pakistan Tehreek-e-Insaf – Movimento Paquistanês pela Justiça), que era o maior do país antes de ser proscrito das eleições pela Suprema Corte Paquistanesa. Uma vez proscrito, seus candidatos estão se lançando como independentes, mas ainda vinculados politicamente ao partido.

Para se compreender as eleições paquistanesas, e a conjuntura golpista em que elas ocorrem, é necessário saber que Imran Khan é um político representante do nacionalismo burguês do Paquistão, e sendo o PTI um partido de massas. De forma sucinta, isto pode ser constatado especialmente pela política externa do governo de Khan. Por exemplo, ele foi o primeiro chefe de governo paquistanês a visitar Moscou, após 23 anos sem nenhum primeiro-ministro pisar no Kremlin. Khan encontrou-se com Putin na capital Rússia no dia 23 de fevereiro de 2022, apenas horas após o início da guerra de agressão imperialista contra o gigante do leste (guerra da Ucrânia).

Outro exemplo da política externa de Khan que o colocou em rota de colisão com o imperialismo, foi o apoio que deu a Erdogan no seu ataque às Forças Democráticas Sírias, milícias curdas a soldo do imperialismo.

Não bastando, o premier paquistanês manifestou apoio expresso ao povo Afegão e ao Talibã, quando da expulsão do exército americano do país, em 2021. Durante seu mandato, também inaugurou uma passagem de fronteira 24 horas por dia, 7 dias por semana com o Afeganistão para facilitar viagens e comércio.

Vale ressaltar ainda a oposição de Khan a “Israel”, chegando a declarar que o Paquistão nunca reconheceria o Estado sionista até que fosse criado um Estado Palestino. Em que pese não seja uma posição revolucionária defender a política de “dois Estados”, Khan também condenou a repressão ditatorial da polícia israelense contra a mesquita de Al-Aqsa, em 9 de maio de 2021.

O golpe contra ele foi dado no ano de 2022.

Em 8 de março daquele ano, o Movimento Democrático do Paquistão, uma coalização de partidos pró-imperialistas, moveu uma moção de desconfiança contra Khan. No fim daquele mês, o premiê denunciou ao povo paquistanês que a moção era parte de uma conspiração dos EUA para derrubá-lo. A moção foi temporariamente infrutífera, pois o presidente Arif Alvi dissolveu a Assembleia Nacional em 3 de abril. Contudo, a Suprema Corte (exercendo o papel golpista que as cortes constitucionais frequentemente exercem contra líderes nacionalistas), decidiu que a moção foi rejeitada de forma ilegal. E então, a medida foi aceita, e golpe foi bem sucedido. Irman Khan foi removido do posto de primeiro-ministro, pelos Estados Unidos.

Contudo, como ele é não apenas um representante do nacionalismo burguês de um país oprimido, mas também um líder de massas (afinal, o PTI tem cerca de 10 milhões de membros), Khan seguiu desde então fazendo campanha contra o golpe.

Percorreu o país fazendo campanha para as eleições suplementares de julho de 2022, na província de Punjab, e de outubro, para a Assembleia Nacional. Na primeira, o PTI conquistou 15 de 20 assentos. Na segunda, o partido ganhou 7 dos 9 assentos, com Khan ganhando 6 dos 7 assentos que disputava. Apesar do golpe, Khan seguia se fortalecendo politicamente, assim com o PTI. De forma que no final de 2022 realizou uma marcha de protesto em Punjab, contra o golpe. Ele, no entanto, recuou no momento que deveria chamar pela queda do governo perdendo o momento de ápice das mobilizações.

Em novembro, ele sofreu uma tentativa de assassinato. E, enquanto se recuperava, no início de 2023, os EUA, através do aparato de repressão paquistanês (judiciário, polícia etc.), desatou a persegui-lo formalmente com acusações de corrupção, revelações de segredos estatais, dentre outras.

As acusações eventualmente resultaram em sua prisão, no dia 9 de maio, logo no dia seguinte a Khan ter acusado um alto oficial militar dos serviços de inteligência de ter tramado seu assassinato. A prisão foi basicamente um sequestro, e ocorreu com militares invadindo o prédio da Alta Corte de Islamabad, enquanto Khan comparecia para trâmites burocráticos referentes a um dos processos abertos contra ele. Releia a notícia publicada por este Diário à época:

Imran Khan é preso a mando do imperialismo

A prisão arbitrária resultou em uma onda de protestos por todo o Paquistão, mostrando a popularidade de Khan. Graças aos protestos, ele chegou a ser solto sob fiança. Contudo, a perseguição imperialista continuou, e o regime político paquistanês prendeu-o novamente, em 5 de agosto, condenando-o a três anos de prisão, por ter denunciado a intervenção do imperialismo que levou à sua derrubada.

A perseguição continuou neste ano de 2024, às vésperas das eleições gerais, aprofundando a política golpista do imperialismo. Mostrando um maior fechamento do regime, já ditatorial, Khan foi condenado a 10 anos de prisão pelo mesmo caso. Isto se deu no dia 30 de janeiro. No dia seguinte, em outro processo, foi condenado a 14 anos. Nem sua esposa foi poupada: no dia 3 de fevereiro, ambos foram condenados a 7 anos de prisão.

Em face das condenações, Khan exortou os eleitores “a se vingarem de todas as injustiças com o seu voto”. Contudo, a ditadura imperialista que domina o Paquistão assassinou seu candidato, Rehan Zeb Khan. No dia 31 de janeiro, homens armados abriram fogo contra seu carro em um mercado em Bajaur, na província de Khyber Pakhtunkhwa. 

É nessa conjuntura de um regime ditatorial, produto de um golpe de Estado perpetrado pelo imperialismo, que ocorreram as eleições gerais no Paquistão. Como amostra do regime ditatorial, houve a suspensão dos serviços de celulares durante o pleito eleitoral.

Ademais, a eleição que foi marcada por violência por parte de grupos armados: um mínimo de 12 pessoas foram mortas, enquanto 39 foram feridas, em meio a ataques contra as eleições farsescas.

Ao fechamento desta edição, a contagem de votos ainda continua, sem o anúncio de um resultado oficial. Contudo, conforme relatos da imprensa local, candidatos vinculados a Imran Khan estariam à frente. Nesse sentido, Omar Ayub Khan, o organizador-chefe do PTI, declarou: 

 “Os candidatos independentes apoiados pelo Tehreek-e-Insaf do Paquistão têm a capacidade de formar o próximo governo federal com uma maioria de dois terços”.

Contudo, segundo relatos, as eleições foram marcadas por manipulações e tentativas de diminuir a votação nos locais onde o PTI possui mais força, como, por exemplo, a cidade de Carachi, maior cidade do país, centro financeiro, comercial e portuário, isto é, local de concentração operária.

Segundo noticiado na rede Al Jazeera “várias reclamações surgiram de Carachi, a maior cidade do país, onde os eleitores alegaram que os membros das mesas de voto em várias assembleias de voto estavam ausentes e em muitos locais a votação não começou na hora, começando às 15h00 (10h00 GMT).

“Esta é minha terceira tentativa de votar hoje. Eu vim de manhã. Não havia ninguém aqui. Todos os quartos estavam vazios. Cheguei no início da tarde e as salas estavam vazias e as cabines de votação não estavam montadas. As pessoas corriam de um lado para o outro tentando descobrir para qual sala ir. Tem sido um pesadelo”, disse Elhaam Shaikh, 35 anos.

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