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Estados Unidos

Do Vietnã a Gaza: movimento estudantil contra o imperialismo

No mês de aniversário da queda de Saigon, temos o retorno do movimento contra a guerra

A luta palestina por libertação nacional está gerando ecos de um “novo Vietnã” nas universidades norte-americanas no mês do aniversário de 49 anos da queda de Saigon, capital do fantoche Vietnã do sul. O Estado norte-americano se vê, mais uma vez, em luta contra estudantes que pedem pela paz.

Até o dia 28 de abril, mais de 900 estudantes foram detidos e processados devido a protestos contra o envolvimento norte-americano nos massacres em Gaza, conduzidos pelas forças israelenses. Só neste sábado (27/04), 200 pessoas em quatro universidades norte-americanas foram detidas e processadas pelas forças de segurança em protestos pela Palestina. Tais manifestações ocorrem em diversas instituições de ensino superior, incluindo as prestigiosas Colúmbia, Harvard e Yale.

Assim como ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, as universidades norte-americanas se tornaram uma importante trincheira doméstica na luta contra o imperialismo. À época, na medida que a presença militar dos Estados Unidos crescia no sudeste asiático, crescia também a batalha paralela pela paz. A mobilização estava em ascensão desde a “resolução do Golfo de Tonquim” de 1964 e a subsequente política do presidente Johnson para iniciar a operação “Rolling Thunder”. Grupos de direitos civis, como o Students for a Democratic Society (Estudantes por uma Sociedade Democrática) e o Free Speech Movement (Movimento Liberdade de Expressão), realizaram palestras, marchas e jovens queimaram publicamente seus cartões de alistamento.

Os protestos se espalharam e as universidades serviram como grandes centros de agitação. Isso foi incentivado pela decisão do governo Johnson em abolir o adiamento do alistamento militar para a maioria dos estudantes de ensino superior, uma medida que afetou cerca de 650.000 homens. Muhammad Ali, que havia sido banido do boxe por ter recusado o alistamento militar, percorreu os campi discursando contra a guerra.

Diversos atos de rebelião eclodiram diariamente, como na universidade de Colúmbia, onde 3.500 alunos e 1.000 membros do corpo docente boicotaram as aulas em protesto. Os membros da SDS, liderados pelo estudante Mark Rudd, expressaram sua oposição ao envolvimento da universidade com o Instituto de Análise de Defesa e com a pesquisa de armas para os militares. Eles também tomaram os prédios da universidade e ocuparam o escritório do presidente, que só foi retomado quando 1.000 policiais de Nova Iorque chegaram ao campus da Colúmbia para expulsar os manifestantes, resultando em muitos feridos e mais de 700 detidos.

Assim como nos protestos contra a guerra do Vietnã, as universidades estão surgindo como um novo ponto de ignição da luta, dentro da sociedade norte-americana, contra o genocídio em Gaza. Como é possível observar nas constantes operações policiais voltadas aos estudantes, a burguesia dos EUA não pretende deixar espaços para que as manifestações possam crescer. A repressão, neste caso, está sendo servida como nos tempos do Presidente Lyndon Johnson, pois caso o movimento cresça para além das universidades não poderá ser ignorado ou facilmente reprimido.

Até mesmo a primeira emenda à constituição, que protege o direito à liberdade de expressão, está sob ataque em nome da “luta contra o antissemitismo”. Após a audiência no congresso norte-americano, onde a presidente da Universidade de Colúmbia afirmou que a liberdade de expressão seria um “privilégio” e que, por tanto, nem funcionários, nem estudantes deveriam “abusar dessa liberdade”, Irene Mulvey, presidente da Associação Norte-Americana de Professores Universitários, se manifestou:

“Estamos testemunhando uma nova era de ‘macarthismo’, em que um Comitê da Câmara está usando presidentes de faculdades e professores para fazer política […] Eles estão promovendo uma pauta que, em última análise, prejudicará o ensino superior e a troca substancial de ideias em que ele se baseia.”

Tal movimento contra “vozes subversivas” também ocorreu durante a guerra do Vietnã. Vale lembrar que figuras como Fred Hampton (morto em 1969) foram assassinadas logo após a explosão dos protestos contra a guerra, em 1968. Hampton, traído por um infiltrado do FBI no partido dos Panteras Negras, que o drogou, foi assassinado pelas forças de repressão dos EUA em uma emboscada em seu apartamento.

A queda de Saigon pelas mãos do exército revolucionário vietnamita marcou a vitória, tanto no campo de batalha quanto no campo da luta política. Os EUA foram derrotados tanto externamente, quanto internamente pelo movimento anti-guerra, que à época já não era exclusivo das universidades, tendo se expandido por diversos setores da sociedade, em especial na classe trabalhadora que via seus filhos sendo obrigados a lutar no outro lado do mundo em nome de interesses alheios aos seus. Tal sentimento era ainda mais agudo na população negra, que além de ter que lutar na guerra, sofria com a discriminação racial ainda institucionalizada na sociedade norte-americana.

Hoje, não temos a presença direta de tropas dos EUA na Palestina. No entanto, o que torna os estudantes tão aguerridos pelo fim do genocídio em Gaza, é que os EUA são os principais fornecedores de armamentos para o Estado sionista, além de dedicar uma parcela anual de seu orçamento para sustentar “Israel”. Por tal razão, há menos pressão social para que os EUA interrompa seu apoio político a “Israel” em comparação a guerra do Vietnã, ou mesmo as duas guerras contra o Iraque, tendo em vista que nenhum soldado norte-americano está diretamente implicado na guerra. Por outro lado, há ainda enormes pressões sociais para que os EUA interrompa seu apoio econômico/militar, tendo em vista a enorme crise social que acomete os Estados Unidos da América, onde ainda em 2020 mais de 26 milhões de pessoas passavam fome, de acordo com dados oficiais do governo.

Ao que o aumento de universidades ocupadas indica, tentar vender para o público norte-americano a ideia de que as manifestações pela Palestina possuem razões “antissemitas” não está funcionando.  Ao contrário, quando se classifica tudo que se coloca como antissionista, como antissemita, temos uma descredibilização da ideia de antissemitismo, o que é extremamente prejudicial para os judeus. Em especial, com a atual incursão israelense na palestina, que levou ao assassinato de mais de 33.000 civis (a maioria mulheres e crianças), atrelar o Estado sionista e suas ações ao povo judeu, como se o ataque a um fosse um ataque ao outro, poderá criar a ficção no imaginário popular que, os crimes de “Israel” são os crimes dos judeus, o que é obviamente falso.

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