Nas eleições sul-africanas, o partido Congresso Nacional Africano (CNA) sofreu uma derrota e terá que se sentar para negociar com os outros partidos que tiveram uma votação menos expressiva. A percentagem de votos do ANC caiu abaixo dos 50 por cento pela primeira vez desde 1994, para sombrios 40 por cento. O ANC, que continua no poder, iniciou uma série de negociações com os oponentes sobre a formação de um governo de coligação.
Segundo o Financial Times, o CNA perdeu 17 pontos percentuais em relação a 2019. Quase 15 destes foram para o partido MK de Jacob Zuma, que está à esquerda do CNA. O partido Aliança Democrática (AD), antigo partido do apartheid, quase não se moveu em relação à última vez, com 22 por cento, enquanto os Guerrilheiros Econômicos (GE) do Julius Malema, o mais combativo do país, se manteve em 9,5 por cento. Visto de outra forma, dos 65 que seriam tradicionalmente do CNA o partido de Zuma, o partido de Malema tomaram 25%. Ou seja, uma guinada a esquerda enorme.
A matéria publicada pelo meio de comunicação do imperialismo é intitulada “África do Sul à beira do precipício”. O Financial Times tenta colocar pressão sob o CNA para se juntar ao partido da direitista AD. Segundo o articulista do órgão, uma aliança com os partidos de esquerda seria “um passo desastroso no sentido de se tornar um típico movimento de libertação que procurava perpetuar o seu poder e saquear o Estado”.
Os números revelam que este foi o pior resultado do partido do ex-presidente Nelson Mandela, fundador e principal liderança do CNA. Essa foi, sem dúvida, a eleição mais acirrada desde o fim do apartheid, em 1994. Com os números saídos das urnas, o CNA se vê obrigado, nestas circunstâncias, a formar uma coalizão para governar o país, algo inédito nos últimos 30 anos, considerando que, neste período, o partido sempre obteve maioria parlamentar nas eleições.
A CNA e o apartheid
O imperialismo fez um acordo com Nelson Mandela quando a situação do apartheid era totalmente insustentável. Como o apartheid era uma questão muito mal vista por todos os setores políticos do país e do mundo, o imperialismo tratou de acabar com ele e implantar a “democracia”, no entanto, essa política não fez diferença substancial para a população negra africana na questão crucial, a economia.
Isso significa que os africanos ganharam a “democracia”, mas continuam na pobreza. Os políticos do CNA seguiram a política direitista e neoliberal até hoje. Dai surgiu o problema, pois em várias oportunidades esses políticos tiveram de conter as massas, as reivindicações operárias e aplicar o neoliberalismo. Foi essa situação que abriu a grande crise do partido.
Todo esse movimento complexo do CNA, comprometeu o partido que era uma ferramenta de equilíbrio na situação política do país, inclusive com algumas brechas para ir um pouco mais à esquerda. Nesse momento o equilíbrio desapareceu, como é visto nos resultados das eleições. Isso faz com que tenham que fazer negociações. Se for escolhido DA, que representa tudo o que o apartheid sempre fez com os negros no país em favor dos brancos e do imperialismo, a crise do governo será enorme.
Por outro lado, uma aliança com os partidos de esquerda poderia levar o CNA muito à esquerda. O problema não é a CNA ir para a esquerda, por si só, mas sim onde ele pode parar. Visto que o partido mais à esquerda da possível coalizão propõe o confisco de todo o latifúndio, a estatização dos bancos, dentre outras pautas radicais. Em resumo, se aliando com a esquerda ou com a direita, o CNA pode levar o país a uma guerra civil. Se fizer uma coalização com o DA, o horizonte é um aprofundamento gigante da crise econômica e política no país. Cedendo às pressões da esquerda, o choque com o imperialismo é inevitável.





