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Guerra na Palestina

Cessar-fogo na ONU é mais um alerta dos EUA a Netaniahu

A votação do Conselho de Segurança da ONU pelo cessar-fogo em Gaza não é um decreto, mas sim um alerta ao governo israelense de que o imperialismo está cada vez mais sem recursos

Na segunda-feira (10), o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) votou uma resolução de proposta de cessar-fogo para a Faixa de Gaza proposta pelos Estados Unidos. Foram 14 votos a favor e nenhum contra. Apenas a Rússia se absteve. A resolução define um cessar-fogo em três fases anunciado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, no mês passado. O Hamas considerou o feito um avanço, mas a posição da Rússia expõe as falhas da resolução.

O governo Biden, no final de maio, impressionou diversos setores ao sair de sua posição de apoio total a “Israel” e propor um acordo de cessar-fogo. Isso aconteceu após os massacres em Rafá. O Hamas já havia aceitado um acordo no início de maio que havia sido costurado com os mediadores, Catar e Egito, e participação dos EUA por meio do chefe da CIA, William Burns. “Israel” invadiu Rafá justamente para acabar com as conversas sobre o fim da guerra.

A proposta de Biden, no entanto, apesar de bem recebida pela Resistência, até agora não se mostrou real. O Hamas afirmou que a proposta feita de fato nas negociações difere do que disse Biden em sua declaração. Tanto a proposta verbal como o que foi votado na ONU se assemelha ao acordo que o Hamas já avia aceitado. Seriam três fases que levariam no fim a um cessar-fogo permanente em Gaza e a retiradas das tropas sionistas.

A primeira fase seria de cessar-fogo inicial de seis semanas e a troca de alguns prisioneiros israelenses mantidos em Gaza por prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses. A segunda incluiria um cessar-fogo permanente e a libertação dos prisioneiros restantes. A terceira envolveria um esforço de reconstrução da Faixa de Gaza e, portanto, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza, que estava sendo mantido por “Israel” desde 2005. Essa proposta até agora não foi aceita por “Israel”, que está totalmente contra o fim da guerra na Faixa de Gaza.

No entanto, apesar da ONU apontar nessa direção, os russos denunciaram que não há um plano real para o fim da guerra. A Rússia tem sido a principal aliada dos palestinos no CSNU. Foi a primeira a fazer uma proposta de cessar-fogo e depois vetou uma proposta farsesca que os EUA tentaram aprovar para atacar o Hamas. Os russos também já saíram da seção como forma de protesto no momento em que os israelenses estão falando. Além disso, a Rússia convidou o Hamas e diversas organizações palestinas para discutir a guerra. O embaixador russo da ONU, Vasili Nebenzia, afirmou:

“Sempre tratamos de forma positiva quaisquer esforços diplomáticos no terreno, voltados para a reconciliação sob parâmetros que satisfaçam ambos os lados. Ao mesmo tempo, temos várias questões sobre o rascunho da resolução americana, na qual o Conselho acolhe um determinado acordo, cujo esboço final ainda é desconhecido por todos, com uma possível exceção dos mediadores. Os autores não informaram o Conselho de Segurança da ONU sobre os detalhes do acordo. Efetivamente, estamos sendo convidados a comprar gato por lebre.”

Ele ainda destacou após a votação: “desde o início da escalada em Gaza, o Conselho já adotou três resoluções, com a implementação delas permanecendo apenas no papel. Essas resoluções poderiam ser acompanhadas por uma quarta. Isso não pode ser chamado de uma tendência positiva de forma alguma”.

Uma vitória para a Resistência

A posição dos russos é importante, pois denuncia que o CSNU é uma organização de fachada dos EUA que só irá agir pelo fim da guerra quando de fato os EUA decidirem isso. No entanto, para o Hamas, cada avanço no cenário internacional é importante, principalmente aqueles que deixam claro que é o Hamas que deseja o cessar-fogo, e é “Israel” que está contra. Ou seja, a votação da ONU foi uma vitória política para Resistência. É algo obvio até certo ponto, Biden vetou 4 vezes o cessar-fogo, agora foi obrigado a propor um.

O dirigente do Hamas, Osama Hamdan, descreve assim política do seu partido: “temos compromisso com o que já concordamos anteriormente, que é o cessar-fogo e a retirada de Gaza. Apresentamos algumas observações sobre a proposta aos mediadores. Acredito que o governo dos EUA está tentando dar a ‘Israel’ uma chance e está alinhada com ela, e a discordância é apenas tática. A resolução da ONU tem lacunas e deveria estabelecer a hora zero para o cessar-fogo. O Hamas acolheu a resolução da ONU porque inclui um cessar-fogo, alívio para os palestinos e negociações”.

Alon Liel, ex-diretor do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse que o governo israelense “foi pego de surpresa” pela resolução. Em suas palavras: “a resolução está dando um novo conteúdo à visita de Blinken [secretário de Estado dos EUA] aqui. Acho que haverá uma manhã muito agitada discutindo isso amanhã”. Ele continuou: “Israel não está apoiando sua própria proposta e definitivamente não o rascunho da proposta apresentada pelos norte-americanos”.

Por fim, ainda destacou que: “nosso embaixador tentou nas últimas 48 horas mudar o texto e não conseguiu. Então Israel definitivamente não gosta dessa resolução. Se Israel rejeitar abertamente, a pressão crescerá internacionalmente”. Aqui fica claro porque os russos apenas se abstiveram não vetar como fizeram em outra ocasião. A resolução da ONU não é verdadeiramente um decreto pelo cessar-fogo, os EUA ainda não chegaram nesse estágio. Ela é mais uma pressão sobre o governo Netaniahu diante da gigantesca pressão popular que existe contra o governo Biden.

Na terça-feira (11), também os principais dirigentes do Hamas e da Jiade Islâmica Palestina se reuniram para escrever uma proposta de cessar-fogo em continuidade com aquele de maio citada acima. Agora as discussões continuam entre a Resistência e os EUA por meio dos mediadores. “Israel” fica cada vez mais isolada dentro dos próprios debates de cessar-fogo. O Hamas entende que quem manda é o imperialismo norte-americano. Este se mostra cada vez mais próximo de uma derrota.

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