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Dirigente do PT

Cantalice imita Bolsonaro e diz que esquerda defende bandido

A defesa da repressão é a perda das credenciais de esquerdista

O dirigente do PT Alberto Cantalice fez uma postagem no seu perfil do X (antigo Twitter) para opinar sobre a “Esquerda e a Segurança Pública”. Nas poucas linhas de seu tuíte, tenta um malabarismo teórico para provar que a esquerda deveria defender a política repressiva como solução para o problema da segurança.

“As esquerdas mundo afora se notabilizaram por defender os trabalhadores em sua luta por emprego, dignidade e o fim das opressões. Nunca fez parte do nosso ideário a defesa do que Marx chamava de Lúmpen-proletariado.”

Não há como negar que a esquerda tradicionalmente defenda os interesses dos trabalhadores; a luta por emprego, melhores condições e o fim da opressão. Como isso se liga à conclusão de que não se deve defender o lúmpen-proletariado?

Em primeiro lugar, se Marx nunca falou em defender o lúmpen-proletariado, Marx também nunca falou que seria preciso aumentar a repressão do Estado burguês contra ele.

Mesmo porque – e aí entra a total ignorância de Cantalice – o que Marx denominou de lúmpen-proletariado incluía as próprias forças repressivas da burguesia.

Em O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852), Marx cita o lúmpen-proletariado, logo no primeiro capítulo: “A república burguesa triunfou. A seu lado alinhavam-se a aristocracia financeira, a burguesia industrial, a classe média [Mittelstand], a pequena burguesia, o exército, o lúmpen-proletariado organizado em Guarda Móvel”.

Para Marx, o lúmpen-proletariado é aquela massa de sujeitos marginalizados de toda a espécie usada pela burguesia como sua tropa de combate. É como, por exemplo, as milícias fascistas que se desenvolveram no século XX. A Sociedade 10 de Dezembro, criada por Luís Bonaparte, funcionou, durante o golpe, como uma verdadeira milícia e era justamente constituída por esses setores sociais, inclusive tendo sido criada sob a cobertura de uma organização beneficente.

“Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista, ficando um general bonapartista na chefia de todas elas. Junto a roués arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos – em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de Dezembro”

Para Marx, o conceito de lúmpen-proletariado não era, portanto, abstrato. Ele servia para definir uma determinada função social e política de setores socialmente marginais na sociedade. Não é possível compreender o lúmpen-proletariado de maneira isolada, ele é um produto da sociedade de classes, que acaba jogando uma parte da sociedade para condições de marginalidade que é usada como base de apoio da burguesia.

Nesse sentido, as polícias fazem parte do lumpén-proletariado. O policial atual nada mais é do que um indivíduo que vive à margem do trabalho socialmente produtivo e é jogado para cumprir a função de tropa de choque da burguesia no poder. Um ladrão isoladamente não é um lúmpen-proletariado, ao menos não no sentido completo do termo, mas um policial sim.

Cantalice quer fortalecer a “Sociedade 10 de dezembro” da atualidade, jogando-a contra o que ele chama de lúmpen-proletariado.

Na realidade, o que ele defende, é jogar a polícia, ou seja, o lúmpen-proletariado, a atual “sociedade 10 de dezembro” contra uma população marginalizada socialmente e, consequentemente, contra os trabalhadores.

Marx pode não ter dito que seria preciso defender o lúmpen-proletariado, mas certamente nunca falou em defender o fortalecimento do uso repressão estatal.

Depois de mostrar que não sabe nada sobre as relações entre as classes sociais, Cantalice se aventura na filosofia, novo desastre:

“É completamente polêmica a tese de que o homem nasceu bom e a sociedade o transformou: se assim fosse, como explicar os psicopatas, os sociopatas. Os pedófilos, os feminicidas e os estupradores, os corruptos, os sonegadores. Estes, se encontram em todas as classes sociais.”

Incrível que uma pessoa de esquerda tenha a mesma concepção da direita reacionária. Se não é a sociedade que transforma as pessoas, seria melhor instituir logo a pena de morte para qualquer crime, já que as pessoas não podem mudar, já que a sociedade não conseguira educar alguém que já nasceu predisposta para o mal.

Para disfarçar esse raciocínio, Cantalice usa como exemplo os psicopatas, os sociopatas, que na concepção dele seriam doentes mentais e, portanto, maus por natureza, essa sim uma discussão polêmica. Mas mesmo se fosse como Cantalice diz, por que o remédio contra esse tipo de criminoso deveria ser a repressão violenta e não o tratamento?

Segundo Cantalice, os criminosos estão em todas as classes sociais. Primeiro, quando se diz que o crime é um produto social não significa que apenas pobres comentem crimes, mas que a sociedade empurra, de acordo com uma série de fatores, as pessoas para o crime. Segundo, os criminosos ricos, certamente não vão pagar – ou pagarão muito menos – do que os pobres. Por que será que a maioria esmagadora nos presídios são de pessoas pobres? Mas, pelo jeito, Cantalice quer mais gente nas cadeias superlotadas:

“Observando sempre o Estado Democrático de Direito, o lugar desse tipo de gente é na cadeia. Todos podem e devem ter direito de circular livremente por seus bairros, suas cidades. O morador da favela, dos bairros periféricos não podem ser refém de criminosos que consideram donos das comunidades e a elas impõem suas ‘leis'”.

Não sabemos se é Maluf do “Rota na rua” ou Cantalice que está falando. O dirigente do PT inventa uma teoria mequetrefe para justificar a política do “bandido bom é bandido morto (preso)”.

Para isso, ele causa uma confusão proposital sobre a política que a esquerda tradicionalmente defendeu. A última desonestidade intelectual de Cantalice em sua postagem é dizer que a posição da esquerda contra a repressão seria uma defesa da bandidagem, ao estilo bolsonarista, “tá com pena, leva pra casa”. Isso é falso.

A esquerda simplesmente não defende que fortalecer a repressão contra as pessoas, seja sobre qual pretexto for. O programa da esquerda é o fim da polícia como máquina de terror contra os trabalhadores e que a segurança seja feita pela própria população organizada. É simples assim e isso não tem nada a ver com defender bandido como dizem Cantalice, e os bolsonaristas.

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