O artigo Onde está o líder da ‘frente pela democracia’?, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra bem o quanto a burguesia está insatisfeita com o governo Lula, independentemente de seus esforços para evitar um choque direto com a política do imperialismo norte-americano. A posição supostamente “em cima do muro” que o presidente brasileiro tomou em relação às eleições venezuelanas vem sendo utilizada pela grande imprensa como prova de que Lula não estaria no time daqueles que defendem o que o Estadão chama de “democracia”.
O jornal da burguesia não esconde suas preferências. “Governos responsáveis e comprometidos com a democracia”, diz o órgão, são de figuras como Luis Lacalle Pou, do Uruguai, e Gabriel Boric, do Chile. Lula, no entanto, “segue incapaz de denunciar a ditadura companheira de Maduro, mesmo diante da farsa oficializada pela Justiça venezuelana”.
O Estadão quer para o Brasil um presidente que seja um cachorro completamente submisso aos Estados Unidos. Enquanto Lula não disser que reconhece o candidato indicado pela Casa Branca como novo presidente da Venezuela, a burguesia brasileira tachará o brasileiro de “amigo de ditadores”.
Dizer que Lula é amigo de ditadores neste momento vai muito além de uma crítica. Ao fazê-lo, o Estadão está posicionando o governo brasileiro na luta política em curso na América Latina. Neste exato momento, há uma ofensiva do imperialismo contra todos os governos que se opõem à sua política de dominação. E a forma que o imperialismo utiliza para se referir a esses governos rebeldes é justamente chamando-os de “autoritários”.
Ser “amigo de ditadores”, neste momento, equivale a estar no lado oposto ao imperialismo. Significa, no final das contas, que é um governo que não merece a confiança da burguesia e que, portanto, merece ser derrubado em algum momento.
E é exatamente isso que o artigo do Estadão expõe. Após criticar o governo brasileiro por ser simpático a uma “ditadura”, o jornal afirma que “os brasileiros, por ora, não têm essa opção, e terão de esperar até 2026, e contar com uma candidatura decente da oposição, para pôr fim à tragicomédia de erros que é a tal ‘frente ampla democrática’ de Lula”. Ou seja, por enquanto – mas nada indica que isso não pode mudar -, a solução ainda não é derrubar o governo. No entanto, em 2026, a prioridade da burguesia será a de organizar uma candidatura que seja capaz de impedir a reeleição de Lula e que seja, obviamente, comprometida com os planos de dominação do imperialismo na América Latina.