Brasil

Braga Netto preso é, realmente, ‘só o começo’

General Braga Netto é preso em condições que deveriam acender o alerta vermelho à esquerda, especialmente os comunistas

Assinado por Jesse Lisboa para o órgão do partido Unidade Popular (UP), o artigo General Braga Netto preso deve ser só o começo, enaltece, como indicado pelo título, a prisão do general da reserva Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista em 2022.

O artigo destaca que a prisão se deu sob a acusação de “obstruir a produção de provas durante a investigação”, e não por um crime real, algo que tampouco é explicado pelo órgão, que simplesmente confia no que diz a Polícia Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF), como se dois notórios instrumentos do setor mais poderoso da burguesia no País estivessem ao lado da esquerda. Diz o artigo de Lisboa:

“De acordo com a nota divulgada pela PF, o general e um de seus assessores são acusados de obstruir a produção de provas durante a investigação. ‘As medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas’, afirma o comunicado.

(…)

O caso faz parte de um inquérito amplo que investiga a articulação de membros do governo anterior e setores militares para interromper o processo democrático no país. Braga Netto foi candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e é apontado como um dos principais articuladores da trama golpista.”

O que o órgão esquerdista não se deu ao trabalho de pesquisar, no entanto, é o que seria essa suposta “obstrução da justiça” alegada para prender o general. Eis o que informa a secção brasileira da rede norte-americana CNN em matéria sobre a prisão: “em depoimento no dia 5 de fevereiro de 2024, Mauro Cid confirmou que Braga Netto e ‘outros intermediários’ procuraram seu pai, o general Mauro Lourena Cid, por telefone (grifos nossos) para saber informações sobre a colaboração premiada”. Eis o crime de Netto, concretamente: um telefonema.

Que dois órgãos burocráticos e extremamente arbitrários, destacados na trama golpista que derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 2016, como é o caso da PF e do STF, prendam alguém por fazer um telefonema, não deveria causar espanto em ninguém que os viu em ação na fase áurea da criminosa Operação Lava Jato. Que uma organização que se diz de esquerda veja os mesmos métodos criminosos e os aplauda, no entanto, é inacreditável. O jornal A Verdade, porém, mantém sua demonstração de total submissão política ao imperialismo defendendo as arbitrariedades do Estado com argumentos como:

“As acusações incluem crimes como abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Além disso, investigações sugerem que os planos golpistas envolviam atentados contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.”

Que os militares discutam golpes de Estado como civis discutem futebol, é normal, cabendo por isso a denúncia política do verdadeiro papel da burocracia na vida pública. Quanto à denúncia judicial, a história é completamente diferente.

Para acusações como as que a UP endossa, é preciso um mínimo de materialidade no cometimento da tal “tentativa de golpe de Estado”, uma ação real pelo menos. Enquanto isso, o que se tem é o verdadeiro golpe, que usa discussões abstratas para iniciar uma campanha de histeria, atiçar o que existe de mais reacionário em setores da esquerda desorientados para instituir uma política que, longe de derrotar o fascismo, o impulsiona. A Verdade, porém, não hesita em enaltecer a polícia política chamada Polícia Federal:

“Essa é a primeira vez que um general de quatro estrelas é preso. Além dele, mais três generais de quatro estrelas na mira da Polícia Federal: Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira.”

É vergonhoso que uma organização de esquerda escreva um parágrafo desses, considerando a gravidade da arbitrariedade que jamais deveria contar com o apoio de quem defende os direitos democráticos. No entanto, torna-se ainda mais inacreditável quando tal posicionamento vem de um partido que se reivindica marxista e, portanto, revolucionário. A UP deveria ter muito cuidado ao falar de comunismo e luta de classes, pois, ao apoiar os abusos jurídicos cometidos pela burocracia brasileira, corre o risco de ser a próxima a ver a repressão que hoje aplaude voltar-se contra si mesma devido a um debate sobre a revolução proletária, por exemplo.

A julgar pelo que a história ensina, Braga Netto pode realmente ser apenas o começo, mas estes comunistas terão uma surpresa extremamente desagradável ao serem despertos de suas ilusões e constatarem a aplicação prática do famoso ditado “pau que bate em Chico também dá em Francisco”. Os verdadeiros inimigos do regime burguês, finalmente, não são os bolsonaristas, mas os comunistas, o que obriga um adendo ao dito popular, uma vez que se o “Francisco” for de esquerda, a porrada é muito mais intensa.

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