Em artigo intitulado Nenhum país é genocida, o jornalista Alex Solnik, do Brasil 247, procura absolver o Estado de “Israel” da acusação de ser um país genocida. Conforme acusação feita pelo governo da África do Sul, “Israel” está sendo julgado na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, sobre seus crimes de guerra contra os palestinos.
Em sua defesa, Solnik sustenta que “a intenção e os atos do chefe de estado da Alemanha, Adolf Hitler, consumados com o Holocausto, deram origem ao termo “genocídio’. Hitler foi genocida antes de o conceito existir. Mas a Alemanha nunca foi considerada genocida”. E assim segue citando o presidente do Sudão, Omar Hassan Ahmad al Bashir, o ex-comandante do Estado-Maior do Exército de Ruanda, Augustin Bizimungu, e o ex-líder sérvio da Bósnia Radovan Karadzic, entre outros, também condenados por genocídio, sem que seus países fossem considerados genocidas.
Alex Solnik, então, chega à seguinte conclusão: “somente pessoas podem ser consideradas, julgadas e condenadas por genocídio”.
Não é fato.
Os crimes praticados por “Israel” não foram obra de uma pessoa ou de um governo. É uma situação bastante diferente, por exemplo, da Alemanha Nazista, em que um partido político tomou o poder e, a partir de então, levou adiante uma política genocida. E mesmo no caso alemão, há de se destacar: o único julgamento internacional dos crimes do nazismo foi o Tribunal de Nuremberga, que decretou 12 condenações à morte, três à prisão perpétua, duas a 20 anos de prisão, uma a 15 anos e outra a 10 anos. Isto é, foi um vergonhoso acordo político, em que não houve uma tentativa real de condenara os responsáveis pelo que aconteceu naquele período.
Destaque-se ainda que, como parte do acordo, os Estados Unidos, país que sempre está por trás das decisões dos organismos internacionais, recrutou vários nazistas para trabalhar em seu território.
Se a punição aos nazistas deveria ter sido muito mais dura, que dirá do Estado de “Israel”? Aqui, há uma diferença gritante: os crimes de guerra contra os palestinos não é uma obra exclusiva de Benjamin Netanyahu, nem de seu partido, o Likud. É, sem exceção alguma, obra de absolutamente todos os governos que o enclave imperialista já teve. Os crimes de guerra de “Israel” são inerentes à sua própria condição: a de ser uma ocupação militar, de ser uma invasão de um território onde já habitava um povo em franca desvantagem bélica.
Condenar o Estado de “Israel” por genocídio não significa condenar, em abstrato, todos os israelenses como genocidas. Mas significa condenar a presidência da República, o Congresso, as forças militares – enfim, todas as instituições de Estado como genocidas. Significa dizer que o Estado de conjunto foi montado para levar adiante uma política de extermínio de todo um povo. E não é exatamente assim? Quais autoridades, quais instituições podem ser citadas em “Israel” que defendam uma política contrária à limpeza étnica dos palestinos? Não há.
O caso de “Israel”, portanto, não se equipara a nenhum dos casos citados por Alex Solnik. É comparável, por exemplo, à África do Sul, um país cujo Estado também serviu a propósitos genocidas. A própria constituição do Estado sul-africano está umbilicalmente ligada à política de apartheid, de segregação social. Essa política só chegou ao fim com a destruição do Estado sul-africano vigente. Neste sentido, não se podia dizer que um ou outro indivíduo da África do Sul era genocida: o país como um todo, em tudo aquilo que dizia respseito ao Estado, era um instrumento de opressão de uma “raça” sobre a outra.