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Brasil

Agora podemos relaxar: bolsonarismo é um movimento geriátrico

Para Moisés Mendes, do Brasil 247, a esquerda pode ficar em casa, no sofá, e deixar a luta contra o bolsonarismo nas mãos das “instituições”

E se Bolsonaro for preso? Há o risco de um levante bolsonarista contra a prisão de seu líder?

O colunista do jornal online Brasil 247, Moisés Mendes, abordou a questão em artigo publicado no último sábado (16) e, segundo a sua avaliação, a esquerda, de modo geral, pode ficar tranquila: “se Bolsonaro viesse a ser preso, como medida preventiva, o que não parece provável hoje, tios e tias do zap seriam mobilizados para criar o caos e incendiar o Brasil. Mas só no zap”. Ou seja: o risco de um levante de massa bolsonarista pode ser descartado. O título de sua coluna deixa claro a sua tese: O novo blefe do levante da extrema direita.

O mais importante, ao discutir os termos do artigo de Mendes, não é tanto analisar se um levante bolsonarista de massa vai ocorrer ou não, mas, sim, debater as considerações levantadas pelo autor a respeito do movimento de extrema direita e a política que decorre delas para as organizações de esquerda.

Para argumentar que uma explosão bolsonarista não passa de um “blefe”, Mendes começa recorrendo ao próprio ato de 8 de janeiro. Segundo ele, tratou-se de um “fiasco como golpe”. No 8 de janeiro, “não apareceu a massa esperada por Bolsonaro. Apareceram os manés que estavam acampados no QG do Exército e mais os que foram levados de ônibus no dia da invasão”. Ele então explica: “não houve golpe porque não houve massa, não houve apoio militar, nada que pudesse dar à invasão a dimensão política pretendida pelos que fugiram ou se omitiram”.

Em nenhum momento Mendes cogita que a ausência de elementos para um golpe vitorioso, como, por exemplo, a ausência de um intervenção real de setores militares para a derrubada real do presidente eleito, talvez possa significar que o ato de 8 de janeiro não tivesse o caráter de um golpe, isto é, uma operação para a tomada do poder, mas simplesmente fosse um ato para desmoralizar o governo recém-empossado. 

Para Mendes, houve um golpe fracassado, um “fiasco”. As massas bolsonaristas não atenderam ao chamado para o golpe. A partir de sua análise do 8 de janeiro, Mendes então conclui que o resultado seria o mesmo no caso da decretação de prisão de Bolsonaro: “tem grande chance de acertar quem, por intuição e juntando histórico recente e dados disponíveis, disser que não acontecerá quase nada”.

A fim de robustecer sua tese, o colunista inicia uma análise da base de apoio bolsonarista. O resultado é interessante, para dizer o mínimo. Segue o trecho: 

“Bolsonaro não tem base com vitalidade física para movimentos de massa nas ruas. Tem uma militância de gente de mais de 50 anos, como se viu na Paulista, de uma classe média branca católica e evangélica, que foi rezar com Malafaia.

Mas essa gente não parece ter o perfil de quem se dispõe a correr riscos além de aglomerações e motociatas, e muito menos agora, com os sinais de que Alexandre de Moraes não fará concessões.”

No fantástico mundo de Moisés Mendes, a base bolsonarista é composta de “tios e tias do zap”, da ala geriátrica da sociedade. “Tios e as tias do zap não têm vocação nem força para um levante e é quase certo que não têm coragem para tanto. Ausentaram-se na invasão de janeiro para não se misturarem à ralé conduzida para o matadouro”, explica ele.

Mendes se esforça para reduzir a base bolsonarista a um punhado de idosos, sem a mais remota condição de executar algo próximo a uma rebelião de protesto. Será que Mendes desconhece que Bolsonaro teve praticamente 50% dos votos nas últimas eleições presidenciais? Será que Mendes desconhece que a população idosa no país, segundo o Censo de 2022, representa pouco mais de 10% do total? Será que Mendes desconhece que as forças policiais e militares estão dominadas pelo bolsonarismo e são compostas na sua maioria por elementos não idosos?  

Essa ânsia em criar um mundo fantasioso, em trocar a análise objetiva pelos desejos, em estimular um otimismo sem pé na realidade, é uma das marcas da análise de Moisés Mendes. A subestimação do fenômeno do bolsonarismo é um dos mais graves perigos a que a esquerda pode incorrer. Isso porque, dessa análise fantasiosa, decorre uma política determinada. Uma política, diga-se, que conduz necessariamente a um desastre.

Se não há perigo de um levante bolsonarista, se o bolsonarismo não passa de um movimento composto por velhos caquéticos, sem energia para sair às ruas e protestar contra uma eventual prisão de Bolsonaro, então a esquerda pode ficar tranquila. Não há necessidade de se preocupar em responder nas ruas à reação bolsonarista. A esquerda pode ficar em casa, no sofá, e deixar a luta contra o bolsonarismo nas mãos das “instituições”, vale dizer, Alexandre de Moraes e Cia. A análise de Mendes sobre o bolsonarismo conduz exatamente a isto: à inação da esquerda, à sua passividade, à sua acomodação à política da direita tradicional que perdeu terreno para o bolsonarismo e leva adiante hoje uma perseguição judicial para conter a extrema direita.

Mendes, evidentemente, não traz nada de original. Ele simplesmente exemplifica a concepção de um amplo setor da esquerda nacional. Trata-se de uma esquerda que abandonou totalmente os métodos tradicionais de luta do povo trabalhador. Não quer mais saber de manifestações de rua, greves e ações diretas. A auto-organização da classe operária e das massas exploradas, para essa esquerda, é coisa do passado. O povo já não teria que derrotar seus inimigos por meio da principal arma que teria à sua disposição, a saber, a sua própria organização. Para que estimular a mobilização das massas, formar sindicatos e partidos próprios dos trabalhadores, fortalecer os órgãos da democracia operária, quando se tem Alexandre de Moraes, a Justiça Eleitoral, a Polícia Federal e o STF para fazer o serviço?

Mendes, no final das contas, acredita no golpista Alexandre de Moraes, mas não acredita nas massas. E não há exemplo na história em que um movimento de extrema direita tenha sido derrotado por meras sentenças judiciais de um juiz direitista. É impossível derrotar o bolsonarismo sem a mobilização do povo trabalhador. Ou a esquerda larga a mão da direita, ou o seu futuro será uma derrota decisiva.

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