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HISTÓRIA DA PALESTINA

Acordos de Camp David: quando o Egito capitulou perante ‘Israel’

Mediado por Jimmy Carter, presidente dos EUA, o acordo foi realizado enquanto “Israel” busca destruir a OLP e a Fatá, no Líbano

Os Acordos de Camp David foram firmados em 17 de setembro de 1978, tendo como partes signatárias os Estados do Egito e de “Israel”, cujos mandatários a época eram, respectivamente, Anway Sadat (presidente egípcio) e Menachem Begin (primeiro-ministro israelense). 

Mediado pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, os acordos receberam esse nome em razão do local onde foram realizadas as tratativas que resultaram nos termos assinados: o retiro rural de Camp David, próprio da presidência dos EUA, localizado nas colinas do Parque Montanhoso de Catoctin, no Condado de Frederick County, estado de Maryland. Mas estas são informações secundárias. O principal a se saber é que os Acordos de Camp David foi uma capitulação do Egito perante “Israel”. Uma capitulação do nacionalismo egípcio (movimento que à época havia atingido seu ápice com Gamal Abdel Nasser, do qual Sadat era sucessor direto) perante o sionismo, inimigo do mundo muçulmano.

O fato de o acordo ter sido mediado pelo presidente Jimmy Carter já é um indicativo da capitulação de Sadat. Não significa necessariamente, mas é um indício. Outro indício da capitulação é que tanto o presidente egípcio quanto o primeiro-ministro sionista, Menachem Begin, foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz. Logo Menachem Begin, quem fora membro da organização fascista Betar, e comandante da milícia fascista Irgun.

Contudo, indícios não são suficientes, assim, cumpre examinar no que consistiu os Acordos de Camp David, sendo necessário entender a conjuntura política à época.

No final da década de 70, a situação entre o Egito e “Israel” era tensa. Ambos os países haviam se enfrentado militarmente por diversas vezes nas últimas três décadas. Os principais conflitos foram a Guerra de 1948, a Crise de Suez, em 1956, a Guerra dos Seis Dias, em 1967 e a Guerra de Outubro, em 1973, todos de grande proporção, os quais deixaram um grande saldo de destruição do lado árabe, inclusas vidas palestinas. “Israel” ainda estava em seu auge militar, e a resistência palestina havia ressurgido há pouco tempo, não possuindo o nível de organização militar que possui hoje. O mesmo vale para a resistência do mundo muçulmano ao imperialismo.

Como resultado desses embates, “Israel” chegou a tomar do Egito a península do Sinai, grande parte do território do país.

Embora também não seja feita a menção a este outro aspecto, vale lembrar que, desde 1975, “Israel” estava em guerra contra a OLP no Líbano, sendo que a liderança de Begin à frente do governo, e de Ariel Sharon à frente do Ministério da Defesa, levaria a inúmeros massacres de libaneses a palestinos.

Assim, em 1977, o presidente egípcio, Anwar Sadat, viaja a Jerusalém com o objetivo de firmar um acordo de conciliação com “Israel”. Já aí teve início a capitulação de Sadat, pois, dadas as circunstâncias de superioridade em que o Estado sionista se encontrava na conjuntura, o presidente egípcio reconhecia “Israel” como um Estado legítimo. 

E em que consistiram os Acordos de Camp David? Em dois termos distintos, um chamado “Quadro para a Paz no Oriente Médio” e, o outro, “Quadro para a Conclusão de um Tratado de Paz entre o Egito e Israel”.

O objetivo do primeiro, em tese, seria resolver a disputa sobre os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em grande parte ocupados por “Israel” como resultado da Guerra dos Seis Dias (1967). Para este fim, deveriam ser realizadas tratativas entre representantes do Egito, “Israel”, Jordânia e Palestina.

Foi nesse acordo que foi prevista pela primeira vez a “Autoridade Palestina”, isto é, um governo fantoche do sionismo e do imperialismo para governar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, a fim de ajudar “Israel” a manter o controle sobre o território, o que se mostrava cada vez mais difícil, tanto em razão da crescente resistência palestina (consolidada especialmente na OLP e na Fatá) e da questão demográfica (afinal, era mais fácil que os palestinos aceitassem serem governados por “palestinos”).

Em razão da guerra que “Israel” estava promovendo no Líbano, com vistas a erradicar a OLP, os termos dessa parte do acordo não mencionavam o país. Também não havia menção às Colinas do Golã, região da Síria que havia sido tomada por “Israel” igualmente na Guerra dos Seis dias.

A segunda parte do acordo, conforme o próprio nome, cumpria o objetivo de delinear os parâmetros de um futuro acordo de paz entre “Israel” e Egito, com a finalidade de dar uma solução para os anos de conflito entre os dois países. Dentre os termos, estavam inclusos a retirada das tropas sionistas da Península do Sinai, devolvendo-a ao Egito. Por outro lado, o governo egípcio deveria permitir a “Israel” a liberdade de trânsito pelo Canal de Suez, uma das principais rotas marítimas mundiais. O Tratado de Paz Egito-Israel seria firmado menos de um ano depois, em 26 de março de 1979, no coração do imperialismo mundial, Washington, D.C, EUA, sob as bençãos de Jimmy Carter, novamente.

Apesar das concessões parciais de “Israel” ao Egito, sua posição restou fortalecida. Ademais disto, os termos do acordo referentes à Questão Palestina ficou sem qualquer efeito. Frisa-se que os Acordos de Camp David, em nenhum momento, contaram com a participação do povo palestino e com suas organizações políticas. Afinal, conforme foi informado no início deste artigo, “Israel” estava em guerra para destruir a OLP e a Fatá, as principais organizações que representavam politicamente o povo palestino naquele momento.

A ausência de participação dos palestinos e suas organizações dos acordos foi alvo de críticas até mesmo da Organização das Nações Unidas, uma organização do imperialismo, haja vista o quão flagrante foi a manobra para fortalecer a posição de “Israel” e do imperialismo norte-americano no Oriente Médio.

A capitulação de Anwar Sadat frente a “Israel” causou profunda ruptura entre os países árabes e o Egito, levando o país a ser expulso da Liga Árabe, expulsão que duraria até o final da década de 1980. Quanto ao mandatário egípcio, por causa de sua traição ao seu povo, aos palestinos e a todo o mundo árabe e muçulmano, foi assassinado em 1981, durante uma parada militar no Cairo, por militantes da Jiade Islâmica Egípcia, que haviam se infiltrados no exército, um sinal da decadência do nacionalismo árabe nasserista, que dava lugar ao nacionalismo islâmico, já manifestado com a Revolução Iraniana.

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