Em artigo de título Homens brancos reinam absolutos nos monumentos de São Paulo, publicado pela Folha de S. Paulo, um tal Vicente Vilardaga, formado em jornalismo pela PUC São Paulo, se mostra escandalizado com o fato de que a esmagadora maioria das estátuas e monumentos da cidade de São Paulo seria de homens brancos.
Diz ele:
“Com base em dados do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) de 2020 havia 367 monumentos na capital, dos quais 200 homenageiam pessoas reais. Desse total, 173 são homens brancos, 18 são mulheres brancas, sendo doze donzelas nuas anônimas, e apenas cinco homenageavam pessoas negras, quatro homens e uma mulher.
[…]
Existe uma nítida injustiça da curadoria histórica dos monumentos da cidade, que condena negros, mulheres e indígenas a uma quase invisibilidade e reafirma o esquecimento que aflige esses grupos.
As minorias são intencionalmente ignoradas em favor de medalhões brancos cuja trajetória merece uma revisão crítica.”
Mas o que exatamente Vilardaga esperava? Que metade das estátuas homenageasse mulheres? Ou que metade dos monumentos fossem de índios? Que os negros fossem representados na maioria das estátuas? Se é isso que o jornalista deseja, qual seria seu critério, exatamente?
É evidente que a maioria das estátuas representa “homens brancos” não por um critério político, mas porque a história brasileira teve como principais protagonistas pessoas assim. Quem proclamou a Independência do Brasil? Quem proclamou a República? Quem foram os seus presidentes mais importantes? Quem foram os seus industriais que mais contribuíram com seu desenvolvimento? E, finalmente, quem foram suas principais lideranças operárias?
Para toda resposta, são homens – e, segundo os critérios de Vilardaga, “brancos”. Isso são fatos, independente do que queira o jornalista.
Mas não é uma excepcionalidade do Brasil. Quem é o maior escritor da língua inglesa? E da língua portuguesa? Quem é considerado o pai da Alemanha moderna? E quem são os grandes heróis da revolução francesa?
A grande maioria das figuras que tiveram um grande destaque são homens, obviamente. E não por acaso: justamente por a mulher ser um setor oprimido na sociedade, maiores são as suas dificuldades em adquirir cultura e em se dedicar integralmente a grandes feitos. Há, evidentemente, mulheres que tenham realizado feitos extraordinários, mas são, obviamente, uma grande exceção. O peso da maternidade, além dos obstáculos sociais impostos à mulher, tornaram muito mais propício que o papel de descobrir a Teoria da Relatividade coubesse a um homem.
Quando Viladarga se mostra incomodado com a proporção de monumentos de homens e mulheres, ele não está se propondo a fazer qualquer tipo de “reparação histórica”. Ele está, na verdade, querendo passar por cima da história por causa de seus objetivos políticos. É a substituição da história pela politicagem.
O mesmo pode ser dito em relação aos negros. É preciso, no entanto, fazer uma ressalva: muitos daqueles que Vilardaga chama de “brancos” não são brancos de fato. São mestiços, como a maioria do povo brasileiro. O que deixa isso claro é a implicância com o bandeirante Borba Gato:
“O símbolo mais gritante do poderio do homem branco nas homenagens que São Paulo presta aos seus cidadãos ilustres do passado é a estátua de Borba Gato, na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul.”
O que o jornalista esquece de dizer é que não apenas Borba Gato é a expressão de um herói nacional, que é a figura do bandeirante, cujos feitos contribuíram muito mais para a história do Brasil que os “intelectuais” negros que o jornalista pretende homenagear, mas também que o bandeirante era um mameluco. E não um “homem branco”.