O advogado Jorge Folena publicou um texto no sítio Brasil 247, intitulado Não é hora de virar a página (13/4/2024), defendendo uma união da esquerda com “as autoridades do Supremo Tribunal Federal”. Naturalmente, Folena se refere ao caso Elon Musk e os Twitter Brazil Files (“Arquivos do Twitter Brasil”, em português). Diz o autor:
“É hora do campo progressista atuar em união, juntando forças em apoio às autoridades brasileiras, para preservar a autoridade do Supremo Tribunal Federal, de seus integrantes e do governo do presidente Lula, que estão sendo ameaçados abertamente pelos fascistas, em ataque direto contra a soberania nacional.”
A premissa expressa por Folena e amplamente adotada pela esquerda pequeno-burguesa de conjunto é que a soberania nacional é o problema de fundo. Curiosamente, quando o imperialismo usava os desmatamentos da Amazônia no governo anterior para ameaçar ataques reais à economia nacional, não se observava o mesmo ardor com a defesa do País por parte desses setores, que frequentemente tomavam o partido das potências estrangeiras. Agora, no entanto, reivindicam a defesa da nação quando o que efetivamente querem (e Folena expressa com mais clareza), é a defesa do STF e em especial, Alexandre de Moraes.
A cabeça mais iluminada do STF, no entanto, é em si um “ataque direto contra a soberania nacional”. Alçado ao posto que agora ocupa pelo golpista Michel Temer, que por sua vez, tornou-se presidente de República por meio de um golpe de Estado organizado pelo imperialismo, Alexandre de Moraes é resultado do pior ataque perpetrado pelo governo norte-americano contra o País em décadas.
Deixou o cargo de organizador do massacre da população pobre do estado de São Paulo, onde ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do governo tucano de Geraldo Alckmin, para assumir o Ministério da Justiça de Temer, tão logo os golpistas derrubaram a presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, sendo poucos meses depois, colocado pelo mesmo golpista no Supremo. Todo o malabarismo retórico mambembe não é capaz de negar o fato de que Moraes é e sempre foi, um agente dos interesses imperialistas no País.
Chega a ser um espetáculo grotesco colocá-lo em uma posição que certamente lhe desperta gargalhadas em privado. Uma vez no STF e tão logo se abriu o conflito entre o imperialismo e o governo também golpista de Jair Bolsonaro (PL), o skinhead de toga tornou-se ponta de lança do uso da instância máxima do judiciário para impor freios ao ex-presidente.
A tentativa do imperialismo de disciplinar o irrefreável capitão fascista e sua complexa base social, teve justamente no homem da cabeça lustrosa o seu mais destacado serviçal, o que valeu a Moraes a oposição natural dos bolsonaristas. Isto fez com que a máquina de propaganda imperialista o apresentasse o carrasco do povo paulista e ex-tucano como um grande campeão da democracia. Parece piada, mas os monopólios de imprensa fizeram exatamente isso e a impotente esquerda pequeno-burguesa abraçou a tese ridícula. Tendo enfiado o pé na lama, longe de limpá-lo, a esquerda agora mergulha de cabeça, no exato momento em que o imperialismo deixa claro ter abandonado Moraes.
É uma loucura tratar o embate entre Musk e Moraes como um caso de soberania nacional, porque não há nada de “nacional” no careca do STF, exceto seu local de nascimento. Nada do que o ministro fez em sua passagem pelo órgão autorizaria um observador atento a alçá-lo a posição de “nacionalista”. O imperialismo transformá-lo em democrata ainda é compreensível, afinal, eram os interesses das potências estrangeiras sendo defendidas, porém, a esquerda tentar repetir o feito dos inimigos principais do povo trabalhador, além de fracasso natural de quem não dispõe dos monopólios de imprensa, afundará os que se aventurarem ao mesmo esgoto em que o ministro se encontra.
Decretar, como faz Folena ao final de seu artigo “todo o nosso apoio ao STF e às demais instituições políticas do Estado brasileiro”, significa concretamente, apoiar agências dominadas pelo imperialismo e que foram fundamentais tanto para o golpe de 2016, em que o governo do PT foi derrubado, quanto para o golpe de 2018, quando o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora arbitrariamente impedido de concorrer. Decorre de uma ingenuidade incompatível com que faz a luta política contra um inimigo ardiloso e articulado.
Nenhuma confiança em nada que venha da burguesia e do imperialismo deve ser a política de quem não quer ver o desenrolar trágico de 2016 e 2018 repetidos. Tudo o que a direita quer é exatamente isso: a população e em especial a classe trabalhadora depositando uma confiança indigna às instituições que existem para esmagar o povo brasileiro. Dar esse presente aos algozes da classe operária é um erro crasso que tende a produzir mais despolitização e fortalecer a direita, quem controla todas as instituições defendidas por Folena, e isso, quem realmente luta pelos trabalhadores, não pode permitir.