No artigo publicado no Brasil 247, intitulado Bolsonaro pode ser preso se for ao 7/9, Alex Solnik reclama que “a Justiça está demorando tempo demais para estabelecer as punições que Bolsonaro deve receber” e que “é surreal imaginar que um cidadão que responde a vários processos no STF tenha o direito de comparecer a um protesto pelo impeachment do ministro que comanda os processos, com alegação falsa, ainda por cima, incitando a população contra um dos três pilares da República”, uma colocação que expressa as tendências autoritárias próprias da pequena-burguesia, classe que se expressa pelo jornalista.
Essa declaração de Solnik é um exemplo claro de como setores que se dizem defensores da “democracia” estão, na verdade, prontos para atacar qualquer um que ouse reivindicar direitos. No caso, trata-se de Jair Bolsonaro, uma figura indubitavelmente grotesca, mas que tem o direito de se manifestar e participar da vida pública, como qualquer cidadão em um regime democrático. Para Solnik, no entanto, “democracia” significa apenas concordar com o que eles consideram adequado.
A política do jornalista revela não só um desejo de repressão, mas também uma tendência de relativizar a censura e a perseguição política. Quando ele afirma que “é surreal imaginar que um cidadão que responde a vários processos no STF tenha o direito de comparecer a um protesto pelo impeachment do ministro que comanda os processos, com alegação falsa, ainda por cima, incitando a população contra um dos três pilares da República”, demonstra uma visão autoritária que nega o princípio básico de qualquer sociedade democrática: o direito à livre expressão e ao devido processo legal.
Em um Estado de direito, regido por leis e por algum avanço civilizatório em relação à barbárie da Idade Média, qualquer cidadão tem o direito de se manifestar, independentemente dos processos a que responde. Mais do que isso, ele tem o direito de questionar a própria Justiça, especialmente quando se vê como alvo de perseguição, algo que deveria ser reconhecido até por aqueles que o criticam.
O trecho do artigo destacado é especialmente perigoso, pois sugere que o simples fato de alguém ser processado já é razão suficiente para que seus direitos civis sejam restringidos. No entanto, mesmo que Bolsonaro estivesse condenado de forma definitiva, ele ainda teria o direito de se considerar perseguido e de expressar essa opinião publicamente.
É uma atitude bovina aceitar passivamente uma perseguição sem resistir. Ninguém, em nenhum lugar do mundo, deveria ser obrigado a se submeter a isso. Solnik, ao demandar que Bolsonaro seja calado por estar sendo processado, mostra-se alinhado com a política repressiva dos setores mais autoritários do judiciário.
O fato de Solnik demandar uma punição prévia a um opositor político, e ainda por cima, uma punição mais dura do que a estabelecida em lei, mostra o quão vazio é o compromisso com a “democracia” por parte não apenas dele, mas de amplos setores da esquerda pequeno-burguesa que, cada vez mais, se assemelham à direita e à burguesia. Usam a palavra “democracia” como uma máscara para disfarçar um regime que, na prática, está muito mais próximo das ditaduras fascistas do que qualquer outra coisa.
A obsessão por calar Bolsonaro, impedindo-o de participar da vida pública, é um reflexo da incapacidade desses setores de conviver com a pluralidade de ideias. Em vez de combater Bolsonaro no campo político, preferem utilizar a máquina judiciária para eliminá-lo do jogo, o que não difere em nada das táticas de repressão usadas por regimes autoritários.
“Na situação jurídica em que se encontra, inelegível por oito anos, o que é pouco, deveria se abster de participar da vida política, mas faz exatamente o oposto, desfila pelas ruas do Brasil como se fosse um herói injustiçado e não aquele que tentou promover um golpe de estado, dentre outros crimes e abusos que transformaram o Brasil num pária internacional.”
Essa declaração de Solnik é particularmente reveladora de seu autoritarismo. Como ele pode exigir que Bolsonaro se “abstenha de participar da vida política” quando o próprio presidente Lula esteve em uma “situação jurídica” muito pior?
Durante a Lava Jato, ninguém além de Deltan Dallagnol, Sérgio Moro e os lavajatistas mais radicais tiveram a ousadia de sugerir que Lula fosse silenciado e afastado da vida pública. Isso foi tão grotesco que até mesmo setores do Judiciário que apoiavam a Lava Jato acabaram recuando após as eleições e permitindo que Lula concedesse entrevistas de dentro do cárcere.
Será que Solnik, hoje, apoiaria Dallagnol e Moro em sua tentativa de forçar Lula a se abster da vida política? É irônico pensar que a mesma esquerda que outrora condenou essas práticas agora pareça desejá-las para seus adversários.
A conclusão é clara: se transformar o regime brasileiro em uma ditadura fascista escancarada é a solução que setores (do qual o colunista de Brasil 247 faz parte) veem para o problema da extrema-direita, o que indica que a depender da classe média esquerdista, o fascismo já triunfou. A esquerda, porém, não pode seguir por esse caminho.
Deve, ao contrário, lutar contra as tendências repressivas que se manifestam tanto à direita quanto à esquerda, defendendo mais direitos e mais liberdade para o povo brasileiro. As organizações de luta dos trabalhadores e estudantes não podem permitir que o Brasil se transforme em uma terra de perseguição política e censura ainda piores do que as existentes atualmente, onde os direitos são concessão e os ataques às liberdades políticas, a norma. A verdadeira luta deve ser pela ampliação dos direitos democráticos, pelo fortalecimento das liberdades individuais e pela garantia de que todos, sem exceção, possam participar plenamente da vida política do País. O contrário disso é a barbárie que tantos esquerdistas como Solnik dizem combater, mas na realidade impulsionam.