Em um evento realizado em Porto Alegre (RS) nessa sexta-feira (15), o presidente Lula fez uma consideração que traz à tona um problema fundamental da situação política não só brasileira, mas mundial. Ele disse: “a esquerda criticava o sistema, mas passou a fazer parte do sistema. Mas hoje quem critica o sistema é a extrema direita, como Milei e Bolsonaro“.
Lula fez um diagnóstico correto: é a extrema direita, e não mais a esquerda, quem se apresenta perante a população como “antissistema”.
No mundo todo, com variações de grau de país para país, nota-se, em setores cada vez maiores da sociedade, um descontentamento dirigido contra as políticas neoliberais que dominaram e, em certa medida, dominam ainda o planeta. A desindustrialização, o desemprego, o desmonte avassalador dos serviços públicos, a brutal queda salarial, a destruição de direitos trabalhistas, o ataque sistemático à organização sindical dos trabalhadores, entre outras coisas, foram o resultado de décadas e décadas de política neoliberal. Esse é o “sistema”.
A política neoliberal, baseada nos interesses da burguesia imperialista, gerou uma onda de rebelião em escala planetária. Nos países atrasados, emergiram forças políticas de esquerda de tipo nacionalista que, ao fim e ao cabo, não conseguiram reverter as políticas neoliberais, mas serviram, na melhor das hipóteses, como um freio ao seu ímpeto destrutivo. Essa esquerda dá mostras de seus limites a cada dia.
Nos países de capitalismo avançado, isto é, imperialistas, as principais forças políticas de esquerda se integraram praticamente na sua inteireza ao regime neoliberal, ao “sistema”. O descontentamento popular necessariamente teria que ser canalizado para alguma via política. A extrema direita é quem vem cumprindo esse papel canalizador.
Trump foi eleito em 2016 e é agora amplo favorito nas eleições presidenciais de 2024 nos EUA. Figuras equivalentes, do ponto de vista político, a Trump aparecem e crescem em todos os cantos do planeta. O crescimento da extrema direita é um dado, não desta ou daquela realidade local, mas do mundo inteiro. Esse crescimento é o resultado da política neoliberal imperialista. É uma reação a tal política.
A extrema direita cresce porque a esquerda, na quase totalidade, se agarra com unhas, dentes, braços e pernas ao regime resultante das políticas neoliberais. A extrema direita, por seu lado, é uma reação demagógica a essas políticas neoliberais. Lula, nesse sentido, está certo: a esquerda “passou a fazer parte do sistema”, enquanto a extrema direita é quem “critica o sistema”. A extrema direita cresce, e a esquerda naufraga.
O que Lula parece não fazer é extrair as lições necessárias dessa situação. O presidente parece satisfeito com o fato de a esquerda, hoje, pertencer ao “sistema”. O problema é que o “sistema” é um regime falido, em franca decomposição. É o regime que esfola há décadas a pele dos povos oprimidos do mundo inteiro. A esquerda se aferra a tal regime, e o resultado é que ela afunda junto com o regime.
O dilema para a esquerda é claro: ou se coloca contra a política neoliberal imperialista, e, portanto, se converte em antissistema, ou a extrema direita continuará crescendo até dominar totalmente a situação. Para a esquerda, se colocar contra o “sistema” é questão de sobrevivência.
