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HISTÓRIA DA PALESTINA

A desmoralização de ‘Israel’ no cerco à Basílica da Natividade

Quando 'Israel' tentou massacrar centenas de palestinos onde Cristo nasceu, mas acabou sendo forçada se limitar ao exílio de combatentes da resistência

Hoje, 9 de maio, há 22 anos, tinha fim o cerco à Basílica da Natividade. Localizada na cidade de Belém, Cisjordânia ocupada, a basílica é uma das igrejas ainda em uso mais antigas do mundo. Construída sobre uma gruta tida como o local de nascimento de Jesus Cristo, é um dos locais mais sagrados para o Cristianismo. Como o Islã também entende que Jesus era um dos profetas de Alá, a basílica também é um local sagrado para os muçulmanos. 

Ela foi construída entre os anos 325 e 333 por Constantino, o Grande, logo após a visita de sua mãe, Helena, a Jerusalém. Atualmente, a Basílica da Natividade pertence às Igrejas Católica, Ortodoxa e Armênia, sendo listada como Patrimônio Mundial de nacionalidade Palestina pela UNESCO de 2012.

Sabendo da importância histórica e religiosa da igreja, o cerco a ela ocorreu em 2002, no auge da Segunda Intifada, levante revolucionário do povo palestino contra a ocupação sionista da Palestina.

O cerco começou em 2 de abril daquele ano, como parte da Operação Escudo Defensivo, operação militar sionista iniciada poucos dias antes, em 29 de março, a maior operação militar sionista realizada na Cisjordânia desde a Guerra dos Seis Dias (até aquela época, isto é), e que objetivava derrotar a resistência armada palestina. Para isto, tropas israelenses foram enviadas para as principais cidades da Cisjordânia. Por exemplo, a Batalha de Jenin começou um dia antes do cerco à Basílica da Natividade.

Quando tropas das forças israelenses de ocupação invadiram Belém no dia 2, cerca de 200 palestinos que se encontravam presos no centro da cidade diante do avanço das tropas não tiveram alternativa senão se refugiar dentro da igreja. Dentre eles, estavam civis, padres e freiras palestinos, forças policiais da Autoridade Nacional Palestina (inclusive o chefe da inteligência, Abdulá Daoud) e combatentes das Brigadas Al-Qassam, Mártires de al-Aqsa, Al-Quds e Tanzim. Até mesmo o então governador de Belém, Maomé al-Madani, teve de se refugiar no santuário.

À época, Anton Salman, membro da organização humanitária em Belém Antonius Society, disse à CNN que palestinos “viram sua mesquita, Masjid Umar, do outro lado da praça da Igreja da Natividade, bombardeada. Eles estavam com medo, e eles procuraram um lugar para ficar seguros. Então eles encontraram o único caminho, eles correram para a igreja e encontraram um lugar para ficar”, acrescentando que “a Igreja da Natividade [tem sido um lugar sagrado] para as pessoas durante todas as guerras… para proteção”.

De parte da resistência, Abdullah Abu-Hadid, então comandante da Tanzim, disse que “a ideia era entrar na igreja para criar pressão internacional sobre Israel… Sabíamos de antemão que havia comida suficiente para dois anos para 50 monges. Azeite, feijão, arroz, azeitonas. Bons banheiros e os maiores poços na velha Belém. Você não precisava de eletricidade porque havia velas no quintal, eles plantavam vegetais.

Como é natural do sionismo criar mentiras contra os palestinos, acusou a resistência de ter feito reféns dentro da Basílica, o que foi prontamente negado pelo padre franciscano Giácomo Bini, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores entre 1997 e 2003. Como líder da Ordem Franciscana, que é a Custódia (Católica) da Terra Santa, ele foi ativo na tentativa de resolver diplomaticamente o impasse criado durante o cerco. À época, declarou o seguinte:

“Desejo afirmar com firmeza que os Frades e as Irmãs da comunidade religiosa de Belém não podem ser considerados reféns. Eles escolheram livremente permanecer naquele lugar, cuja custódia lhes foi confiada pela Santa Sé e que constitui a sua morada. Os outros 200 palestinos sitiados dentro da Basílica refugiaram-se ali à força para fugir da varredura e busca do exército israelense, tal como aconteceu com os cinco jornalistas italianos durante o primeiro dia do cerco. Até agora não cometeram nenhum ato de violência ou abuso de poder contra a comunidade religiosa.”

Nesse mesmo sentido, Michel Sabbá, o então Patriarca Latino de Jerusalém, disse que a igreja dera, livremente, santuário aos membros da resistência, pois “a basílica é um lugar de refúgio para todos, até mesmo para os combatentes, desde que eles deponham suas armas. Temos a obrigação de dar refúgio tanto aos palestinos como aos israelenses”.

No dia 3 de abril, tanques israelenses foram posicionados na Praça Manger, em frente à igreja, enquanto que franco-atiradores sionistas se posicionaram em prédios adjacentes, com ordem de atirar nos palestinos e demais que estavam dentro da Basílica da Natividade.

O cerco durou mais de um mês. Durante o período, as forças israelenses de ocupação bombardearam o complexo algumas vezes com fogo de artilharia, na tentativa de forçar os palestinos a saírem de dentro da igreja. Em um destes ataques, o portão sul foi destruído e tropas sionistas firmaram base no pátio sul, sem, contudo, conseguir invadir o interior da basílica.

Paralelamente, os franco-atiradores sionistas cumpriram suas ordens e atiraram contra os refugiados. Ao todo, oito pessoas foram mortas, dentre elas o sineiro da igreja, Samir Ibrahim Salman. Os demais sete foram todos palestinos. Ao total, 40 pessoas ficaram feridas, dentre elas, um monge armênio. Conforme relatado pelo portal de notícias Church Times, em matéria que relembra o ocorrido, as tropas de ocupação só foram permitir a retirada dos dois primeiros corpos após 17 dias, um atestado do caráter fascista do sionismo.

Durante todo o tempo, “Israel” buscou criar condições políticas para poder realizar a invasão. Dentre as medidas, cerceou a atividade de jornalistas no local, confiscando “os cartões de imprensa emitidos pelo governo de 24 jornalistas e repórteres em Belém que trabalhavam para emissoras de televisão estrangeiras e agências de imprensa”, chegando até mesmo a abrir “fogo contra o carro do jornalista Maomé Mousa Manasra”, conforme revisitado pelo órgão de imprensa Monitor do Oriente.

Contudo, isto não foi suficiente. O cerco foi noticiado internacionalmente, levando ativistas a protestarem em frente à igreja contra o cerco ao fim de abril. Dada a pressão internacional, não houve condições políticas para as tropas sionistas invadirem a Basílica da Natividade, o que teria ocorrido se os palestinos tivessem se refugiado em qualquer outro local. Conforme Anton Salman declarou:

“Como o edifício era a Igreja da Santa Natividade – um dos mais sagrados santuários cristãos –, eles sabiam que o mundo estava observando. Os israelenses atacaram a igreja com franco-atiradores, mas não a atacaram porque tinham os olhos do mundo voltados para eles.”

Eventualmente, “Israel” foi forçado a negociar. Ao fim do cerco, em 10 de maio de 2002, 13 dos palestinos que haviam se refugiados foram exilados em países da Europa, enquanto que outros 26 foram enviados para a Faixa de Gaza. Sem conseguir invadir a igreja, para realizar o massacre que pretendia, e com o repúdio internacional, o fim do cerco à Basílica da Natividade resultou em uma das principais derrotas de “Israel” durante a Segunda Intifada.

A título de curiosidade, em 2015, a companhia de teatro palestina Teatro Liberdade estreou em Londres a sua peça O Cerco, em que recriou momentos chave do cerco à Basílica da Natividade. À época, a Federação Sionista da Grã-Bretanha e Irlanda condenou a peça como sendo promotora do terrorismo, algo de se esperar dos sionistas em relação à legítima luta de libertação nacional do povo palestino, em especial sua luta armada.

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