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América Latina

Venezuela tem o direito de lutar por Essequibo e deve ser apoiada

É válido que as riquezas de Essequibo sejam exploradas pela Venezuela, pois as reivindicações da nação sobre o território roubado envolvem a luta contra a opressão imperialista

O artigo Petróleo no chão, não à invasão (4/12/2023), escrita pelo militante do MES-PSOL e do Juntos!-PR Kennedi de Oliveira, e publicado no sítio da revista Movimento, traz críticas ao que chama de “desenvolvimentismo tacanho” do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que, segundo o autor, realizou um plebiscito “sob as já alardeadas violações do regime democrático na Venezuela” visando a retomar o território do Essequibo, razão pela qual, o esquerdista considera ser “necessário cercar a Guiana de solidariedade internacional, sob a palavra de ordem de ‘não à invasão venezuelana’, que seria extremamente calamitosa para as trabalhadoras e os trabalhadores.” Sobre o fato de o território ter sido roubado da Venezuela, nem uma palavra, evidenciando que apesar da retórica esquerdista contra o “imperialismo estadunidense”, a política é, concretamente, um apoio às forças imperialistas, as mais interessadas em impedir a retomada do Essequibo.

Em outra evidência da submissão ideológica ao imperialismo, Oliveira se apoia na demagogia ambiental para criticar ambos os lados no conflito que se anuncia. Diz no artigo: “Nem o imperialismo opressor estadunidense, nem o desenvolvimentismo tacanho de Maduro têm o direito de se apoderar desses recursos ou comprometer a vida na terra extraindo e queimando uma quantidade absurda de combustíveis fósseis que geram o aquecimento global e as mudanças climática.”

Não é tema deste artigo entrar no mérito da veracidade de afirmações como “combustíveis fósseis geram aquecimento global e mudanças climáticas”, mas há décadas a máquina de propaganda do imperialismo utiliza – sem moderação – a histeria de uma catástrofe climática iminente para sensibilizar uma pequena-burguesia e, com isto, pressionar os países atrasados de modo a condená-los ao atraso econômico, ao passo que pesquisadores que contestam as “verdades” ditadas pelos monopólios globais em seus meios de comunicação são ridicularizados, quando não condenados a uma censura velada através do ostracismo.

O tema é retomado pelo autor, que diz ainda:

“Vale ressaltar também que a recente seca histórica da região amazônica tem tudo a ver com a exploração desenfreada do petróleo, e que no Brasil mesmo travamos uma luta para impedir a exploração petrolífera na Amazônia, não podemos coadunar com essa exploração na região de Essequibo só porque é floresta do lado de lá da fronteira.” Claramente, o militante do PSOL encontra-se no campo dos que aceitam a propaganda para tolos criada para confundir, sobretudo, a esquerda pequeno-burguesa e em especial em países atrasados importantes, como o Brasil.

A submissão deste setor aos grandes monopólios é tamanha que, como indica Oliveira, alguns chegam a militar abertamente contra o País, se prestando a atuar em defesa do imperialismo que tanto dizem criticar em questões-chave dos interesses das nações desenvolvidas, como impedir os países atrasados de usarem seus recursos naturais para desenvolver sua economia e assim, superar o atraso e melhorar o padrão de vida da população. Novamente, o militante do PSOL apresenta um grande desacordo entre o que critica e o que de fato faz em sua atividade militante.

É preciso destacar, porém, que mesmo a exploração de petróleo sendo um objetivo válido, ele não é o objetivo dos venezuelanos, ao contrário do que Oliveira dá a entender. O próprio autor lembra que “a Guiana Essequiba, ou região do Essequibo foi parte do território venezuelano até 1899, quando foi anexada pela Grã-Bretanha em conluio com os EUA. Desde então [grifo nosso], é alvo de litígio por parte da Venezuela.” Na realidade, desde o início do século XIX, a Venezuela tenta impedir as incursões britânicas sobre o território, mas, independente disto, as reivindicações venezuelanas são muito mais antigas do que a descoberta de petróleo na região, e estão ligadas a algo relativamente óbvio, mas que frequentemente escapa à pequena-burguesia: quanto maior é o território das nações, melhor para elas.

Não se trata apenas de explorar o petróleo e demais recursos minerais também abundantes. Embora seja válido que as riquezas sejam de fato exploradas, o povo venezuelano não deve aceitar o roubo de seu território, tal qual os argentinos não devem aceitar o roubo das Malvinas e tampouco devem os brasileiros aceitarem qualquer ameaça à integridade nacional.

“É necessário pontuar”, continua o autor, “que a região de Essequibo não é um enclave qualquer, muito menos algo de importância menor. É um território rico em petróleo, gás natural, ouro e outros minerais valiosos. Não à toa, a extração predatória desses recursos é capitaneada pelos EUA na região – principalmente com a Exxon, que recentemente inaugurou a terceira plataforma petrolífera na Guiana, e a Chevron”, diz, esforçando-se para omitir quem, de fato, se beneficia com a sua política.

Sendo os EUA e o Reino Unido os principais beneficiados da manutenção das coisas tal como estão hoje, serão essas nações que também continuarão explorando todas as riquezas lá existentes. Pior ainda, parte importante dos recursos oriundos dessa exploração não terá outro fim, mas a manutenção da própria máquina de opressão do imperialismo, incluindo-se nessa conta as forças armadas com as quais os países avançados aterrorizam os países atrasados.

Para o autor, “além de trazer a guerra para o território latino”, a iniciativa do governo bolivariano também tem o aspecto negativo de gerar “risco de uma intervenção ianque no nosso continente”, exibindo um medo do enfrentamento contra o imperialismo que não condiz com a postura de qualquer um que se proponha – mesmo que minimamente – a enfrentar de maneira séria e consequente o problema da opressão estrangeira contra o País e as demais nações atrasadas. Felizmente, políticas covardes como a proposta pelo militante do PSOL não são populares entre as amplas massas, que com ousadia e bravura, fazem a história andar para frente e não para trás, como quer Oliveira.

“Mas também é necessário apontar que apenas a desistência da invasão por parte de Maduro não soluciona o problema central da região [grifo nosso], que é a exploração desenfreada de combustíveis fósseis. Por isso, petróleo no chão também deve ser uma reivindicação justa para sanar o conflito na região.” Claro, para o militante do PSOL, a humilhação de um povo que perdeu uma parcela de seu território e luta para recuperá-lo é secundário perto dos supostos impactos da atividade econômica.

Tampouco se importa o autor com as consequências do atraso econômico, a pobreza e a miséria da classe trabalhadora, assim como as péssimas condições de vida das amplas massas. Finalmente, escolas, hospitais, asfalto nas ruas, salários de professores e profissionais de saúde, energia elétrica, água encanada e mais uma infinidade de necessidades da vida moderna precisam ser pagas, e só o desenvolvimento econômico pode fornecer os recursos necessários para financiar o fornecimento com qualidade de bens e serviços essenciais.

“Não queremos guerra”, conclui, “não queremos invasão e não queremos exploração desenfreada do planeta terra. Lutar pela não-invasão da Guiana é lutar pela convivência pacífica entre os povos e pela preservação do ambiente em que vivemos. Em última instância, essas lutas também são de sobrevivência e pela preservação da vida na terra.” Longe disso. A despeito de qualquer consideração bela, o que se conseguirá fazendo o que sugere Oliveira é ampliar a opressão sobre os povos oprimidos, levando não a uma “convivência pacífica entre os povos”, mas a uma pacificação da exploração mais brutal que as nações desenvolvidas impõem à Venezuela e a aos demais países da América do Sul.

A vida não será preservada, como hoje não está sendo, exceto caso o imperialismo seja esmagado e, no subcontinente, a oportunidade para fazê-lo apareceu na defesa da luta dos venezuelanos pela retomada do território roubado. Essa política, sim, tem o efeito de precipitar a humanidade a formas de vida mais racionais e pacíficas. Esse objetivo, no entanto, não será conquistado sem muitas lutas como as que o povo venezuelano está se propondo a fazer. Por isto deve ser apoiado.

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