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101 anos

Uma história de faz de conta do PCB

Para tentar provar que é o verdadeiro herdeiro do PCB, o PCB atual faz uma exaltação vazia da história do Partido

O PCB (Partido Comunista Brasileiro) publicou um artigo no último dia 24 de março lembrando os 101 anos da fundação do PCB (Partido Comunista do Brasil). Como é tradicional, o PCB de hoje considera-se o mesmo partido daqueles nove militantes que participaram do congresso de fundação em Niteroi, em 1922. Essa discussão, porém, não nos interessa aqui. De passagem, apenas é preciso dizer que o PCB passou por inúmeras fases, crises e rachas ao longo de sua história e é forçar a barra tentar atribuir alguma continuidade organizativa entre os partidos de hoje e aquele dos anos 20.

Não há nenhum problema, no entanto, em exaltar a importância da fundação do PCB para o movimento operário brasileiro, que revela sua força quando se assinala que o PCB esteve entre os mais importantes e maiores partidos comunistas do mundo.

No entanto, graças em primeiro lugar à política da burocracia stalinista, que se apoderou do aparato soviético já a partir de 1924, o desenvolvimento do PCB como um partido efetivamente revolucionário acabou sendo interrompido prematuramente. Qualquer história do PCB precisa, portanto, levar em consideração esse problema, que significa que durante as décadas precedentes à sua fundação, o PCB acabou acumulando erros e derrotas importantes.

É justamente esse o ponto mais equivocado do artigo do PCB sobre os 101 anos da fundação. Na ânsia de exaltar o partido e de se afirmar como legítimos herdeiros, o artigo não possui o menor traço crítico sobre a trajetória do PCB, o que acaba por ser uma exaltação vazia. Mais ainda, demostra o caráter anti-marxista do PCB atual e até mesmo, se quisermos, uma herança do velho stalinismo, que procurava esconder e acobertar os erros políticos.

Um exemplo muito gritante é a passagem sobre o papel do PCB na Ditadura Militar de 1964:

“É impossível contar a história de nosso país sem citar as diversas passagens na qual o PCB esteve presente.  (…) da fundação da União Nacional dos Estudantes (UNE) à resistência contra a ditadura entre 1964 e 1985 e conquista das liberdades democráticas.”

Não há dúvida que uma organização com uma história de tantas décadas estará presente em todos os importantes fatos históricos do País. Mas sem um balanço crítico isso não é nada mais do que uma constatação que ser para qualquer coisa.

O PCB (atual) em seu artigo ignora o papel lamentável do PCB no golpe militar de 1964. Apenas exalta a “resistência contra a ditadura”. Se é é verdade que muitos dos militantes do partido lutaram contra a ditadura, muitos torturados e assassinados, é verdade também que a direção do Partido tinha uma política desastrosa. Prestes, por exemplo, dizia, às vésperas do golpe, que não havia perigo de golpe, o que deixou os militantes desorientados.

Prova dessa política é a divisão do partido em vários grupos menores, constuídos por militantes que perceberam o desastre provocado pela direção do partido.

Não há dúvida de que é essencial lembrarmos da fundação do primeiro partido operário no Brasil e lembrar aqueles companheiros que estiveram naquele congresso, assim como lembrar de tantos militantes que dedicaram a vida à luta revolucionária. Mas a história, diferentemente do que faz o PCB, precisa ser contada de maneira crítica, não para avacalhar o passado, mas para tirar as lições para a luta presente.

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