O dia 8 de janeiro de 2023 ficará marcado por uma gigante desmoralização do governo Lula. Uma semana após assumir, a sede do governo e de outros dois poderes, são facilmente invadidas por fascistas que estão sendo coordenados pelas Forças Armadas e pela CIA.
A ação foi a continuidade da construção de um processo de golpe de Estado. Ela não visava de imediato, tomar o poder político. Essa ação tinha como objetivos: desmoralizar o governo, demonstrando que dentro do aparato do Estado burguês, o governo do PT não manda essencialmente em nada; adquirir experiência organizativa através dos acampamentos, da mobilização de rua e de articulação política, tanto com a sociedade civil, quanto com o aparato de Estado (principalmente com os órgãos de repressão); demarcar posição de que haverá pressão para colocar o governo contra a parede para que se mova cada vez mais à direita; sensibilizar os elementos do aparato de repressão, para criar um clima de que não existe apoio popular ao governo, até que este aparato faça uma adesão aberta ao golpe de Estado.
A esmagadora maioria da esquerda não conseguiu compreender esse processo e tem ficado iludida com medidas institucionais sem valor concreto nenhum. Antes mesmo da posse de Lula e de sua vitória eleitoral, uma questão que estética e discursivamente era unanime, era a compreensão da necessidade de realizar continuas mobilizações populares para trazer o governo para esquerda e para garantir sua sustentação. Durante este período do dia 8 de janeiro para cá, a resposta política ao golpe de Estado foi completamente inócua, com a realização de atos de rua somente no dia 9 e depois desmarcando o ato nacional, que estava marcado para o dia 11.
Enquanto isso, os militares, a CIA e os fascistas, tem ganhado tempo para reagrupar suas fileiras e pensar em novas estratégias, por um lado. E por outro, a imprensa capitalista e os agentes políticos da burguesia nacional, que são chamados equivocadamente de democratas, vem efetuando um combate e uma sabotagem, para minar a agenda econômica do governo.
O governo está sendo atacado por diversos ângulos. Aqueles que pensam que os governadores, as instituições do Estado, os bancos e que a imprensa capitalista, estão em defesa de alguma democracia, estão completamente enganados, pois estes apenas não encontraram o momento oportuno para dar respaldo ao golpe. E como vimos, diversos desses elementos já iniciaram uma campanha de desgaste contra o governo.
As medidas institucionais, como no caso do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e do STF, que deveriam ter sido efetuadas antes e durante a ação do dia 8, servem apenas para dar justificativas aos de consciência mais inocente. A desmoralização do governo e o avanço do fascismo enquanto organização política, já são um fato.
O Presidente Lula, trocou o comandante do Exército, tirando um bolsonarista, para pôr um tucano ligado ao General Eduardo Villas Boas (responsável pela queda de Dilma e pela prisão de Lula). Enquanto isso, Flávio Dino continua sendo inexpressivo, Múcio dá seguimento aos desmandos do Alto Comando das Forças Armadas e o GSI da mesma maneira.
O governo prometeu fazer mais do que em seus mandatos anteriores. A economia se encontra muito pior do que naquele estágio, a correlação de forças no que toca as instituições e principalmente o parlamento, estão desfavoráveis, as organizações de esquerda estão empesteadas de burocratas que parecem bichos preguiças do tanto que não fazem absolutamente nada para mudar o quadro atual. A situação é bastante delicada.
A via de se indispor com setores da sociedade e do aparato de estado sem possuir um efetivo respaldo das mobilizações de rua, coloca o governo muito próximo do desequilíbrio político e em uma circunstância completamente frágil, onde o resultado desemboca sempre no couro do trabalhador. A questão da punição dos militares e envolvidos no processo de golpe de Estado, deve ser levada à cabo, mas não por meio de bravatas políticas e institucionais, ou com meras manobras pirotécnicas pegando uns gatos-pingados para “cristo”.
O que é preciso de fato, é utilizar-se da posição estratégica de ser governo, para mobilizar e organizar os trabalhadores, na defesa do governo e das reivindicações classistas, procurando avançar no terreno institucional para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que repactue o país entorno da soberania nacional e das reivindicações populares; que coloque na ordem do dia: a refundação das forças armadas, o fim dos monopólios de comunicação, a reestatização de todas as empresas estatais privatizadas, a restituição de todos os direitos trabalhistas e a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, a garantia das liberdades democráticas, a expropriação de propriedades urbanas e rurais que não cumprem sua função social, a estatização de todo o sistema financeiro nacional, o desenvolvimento da nossa indústria bélica e nuclear. Mas imaginar que essas reivindicações podem ser garantidas pela benevolência das instituições falidas e pela burguesia, se trata da mais completa ilusão no caso dos incautos e de jogar areia nos olhos da militância no caso dos oportunistas. Em ambos os casos, essas posições devem ser combatidas, porque é o futuro do país e da América-Latina que se encontra em risco, com essas posições vacilantes e capituladoras.
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