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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Qual escolher?

Um mundo de opções

Como consumidores no capitalismo tardio, temos inúmeras escolhas, mas quantas são as opções efetivamente boas?

Como bom profissional da área de computação, um dos meus passatempos favoritos é jogar jogos de computador. Ao longo da minha vida quase nunca os joguei efetivamente em computadores, mas em dispositivos dedicados, os consoles de videogame. Montar computadores performáticos é um trabalho dispendioso, em tempo e dinheiro, e, para muitos, um fim em si mesmo (cada um com a sua loucura). Uma máquina poderosa pode bem chegar aos R$40.000,00 com apenas a placa de vídeo, responsável por processar a parte gráfica dos jogos, custando mais de R$10.000,00. Esse “hobby” caro tornou-se até uma identidade, uma tribo moderna. Há quem se diga pertencer à raça superior de “jogadores de computador”, em oposição aos pobres (nem tanto) coitados que jogam em videogames. Num meio cheio de anglicismos como esse, não é incomum ouvir alguém falar em PC master race mesmo no Brasil.

Mas antes que eu me disperse numa crítica a essa subcultura, ou talvez submundo, da tecnologia, voltemos ao meu “problema”. Enfim, depois de muito ponderar, decidi montar um computador para, quando sobrasse tempo, pudesse jogar alguma coisa ou outra. A empreitada provou-se muito mais difícil do que o antecipado, por mais que meu diploma diga que eu seja um Engenheiro da Computação. Ainda que eu não entenda nada sobre o processo de manufatura desses equipamentos, eu ao menos consigo transformar a sopa de letrinhas e números de suas especificações em algo com algum significado. Algo que me diga se eu devo ou não comprar o produto, se ele atende as minhas necessidades.

Devo ter gasto um dia inteiro de trabalho ao longo das últimas duas semanas analisando componentes e lendo resenhas em busca do melhor custo-benefício. Descobri que um dos maiores canais do YouTube, Linus Tech Tips, dedica-se quase que exclusivamente a analisar todo tipo de eletrônico lançado no mercado. O problema se complica ainda mais quando descobrimos que muitos componentes são colocados a venda com software mal-feito que, quando atualizado meses depois, faz com que aquela seja a melhor opção em detrimento do concorrente. Enfim, é uma loucura que haja tanta variedade num mercado que, praticamente, é monopolizado por três empresas norte-americanas: Intel, Nvidia e AMD.

Depois de tanta frustração, cheguei numa configuração avaliada numa pequena fortuna de R$10.000,00. Desisti de jogar, já nem tenho tanto tempo livre mesmo. Além do que os jogos mais recentes não me empolgam mais como antigamente. Tudo tem gosto de pasta americana. Ideias recicladas, remakes, remasters. A produção anual de jogos é muito maior do que a que existia quando eu era mais novo, mas não consigo deixar de sentir que a criatividade dessa produção parece ser inversamente proporcional ao seu volume.

Através desse raciocínio cheguei a uma ideia com a qual me deparo recorrentemente, mas que nunca havia colocado em palavras. Certamente muitos já escreveram sobre isso, mas deixo aqui a minha contribuição. Após toda essa jornada que não me levou a lugar algum, posso dizer que entendo as pessoas que transformaram montar um computador num estilo de vida. Também entendo os “gamers”, que jogam todos os lançamentos em busca de algo que os empolgue. A realidade é que a produção capitalista desenfreada coloca no mercado uma quantidade enorme de produtos que não tem valor de uso. Jogos desinteressantes, componentes de computador que mal servem de peso de papel, que superaquecem e param de funcionar com meses de uso. Posso sair desse pequeno domínio e ir para o de celulares, para encontrar o mesmo problema. Quem não conhece alguém que acabou de comprar um celular e já reclama que o dispositivo está lento?

A variedade de produtos no mercado não existe para atender diferentes casos de uso ou diferentes públicos. No geral, vale a máxima popular: “o barato sai caro”. Bom, e o caro é caro mesmo. Nessa, vemos que quem não tem dinheiro tem poucas opções. Talvez, a melhor delas seja a compra de segunda mão. Bons produtos efetivamente duram anos e um bom usado acaba sendo muito melhor que um produto novo descartável. 

O capitalismo tardio é uma máquina monstruosa de produção de lixo. Toda vez que tenho que comprar algo mais caro, que exija alguma análise de custo-benefício, acabo chegando à mesma conclusão: as escolhas são uma ilusão. O produto bem acabado, com bom valor de uso, está ao alcance de poucos. Encontrar algo útil nesse mar de lixo tornou-se, inclusive, o trabalho de muitos como os donos do canal do YouTube que mencionei. Eles são um de muitos.

É irônico que essa falsa variedade tenha se tornado, porém, a marca do capitalismo. Uma das principais armas contra economias sancionadas, como a cubana, sempre foi que havia pouca variedade de produtos. Apenas uma marca de molho de tomate ou de pasta de dente. Agora, eu me pergunto: por que temos tanta variedade (não há como dizer marcas nesses mercados monopolizados)? Alguém inocente diria que é para escolhermos a alternativa que nos melhor atende. Haja inocência.

* A coluna não expressa necessariamente a opinião desse jornal

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