A imprensa argentina Clarín, edição de 28/02/2023, publicou a retrospectiva de tensão entre a Cristina Kirchner e Alberto Fernández, os atuais presidente e vice-presidenta da Argentina. Em outro deste ano acontecerá a eleição presidencial na Argentina.
Abaixo a tabela comparativa de índice de inflação durante 2020 a 2022, período de gestão presidencial binômio:
2020 | 2021 | 2022 | |
Inflação do março | 3,3% | 4,8% | 6,7% |
Taxa interanual | 48,4% | 42,6% | 55,1% |
Dólar blue | US$ 78,50 | US$146 | US$206 |
2020
Foi o primeiro avanço de Fernandez duro contra a Justiça. Ele propôs uma reforma judicial para adicionar dezenas de tribunais federais e liquefazer o poder dos 12 de Comodoro Py (12 tribunais federais). Ele falou pouco sobre economia, mas cumprindo sua promessa de campanha (assumida há 81 dias) anunciou o envio ao Congresso do projeto de lei para legalizar o aborto.
O vínculo com Kirchner
A ex-presidente ungiu Fernández e o levou ao topo, e a relação ainda estava fluindo. Mas as tempestades já estavam se aproximando. Viralizou-se o vídeo que os mostrava conversando juntos sobre a chegada do presidente ao Congresso, onde ela lhe diz aborrecida: “Aqui acabou, chega, obrigada”, e ele responde “Bem…”, escondendo o aborrecimento.
A relação com a oposição
Não houve cruzes nem interrupções e Fernández se mostrou, em sua estreia como presidente, com um discurso equilibrado e apenas algumas críticas a Macri, seu antecessor – à dívida, à “terra arrasada” -, que a oposição suportou sem hesitar palavra.
A agenda legislativa
O projeto de legalização do aborto – com terreno fértil para avançar após sua primeira tratativa em 2018, apesar da rejeição do Senado naquele ano – seria transformado em lei, um marco sem dúvida na gestão de Fernández. Não foi assim a reforma do Judiciário e outros projetos de progresso na Justiça aprovados com maioria da Frente de Todos no Senado, mas retidos na Câmara dos Deputados.
2021
Em ano eleitoral, por sua vez, Fernandez teve um discurso conflituoso e polarizador, e acusou a Justiça, a oposição e a mídia não controlada por seu governo. Ele anunciou a abertura de um processo criminal contra o governo Macri pelo empréstimo tomado do FMI. Em particular, atacou o Supremo Tribunal Federal e promoveu a criação de um “tribunal constitucional” que esteja “a par”, procurando cortar o seu poder, defendeu as medidas adotadas pelo Governo face à pandemia.
A ligação com a Kirchner
A dura fala teve gestos de aprovação da vice. De fato, Fernández voltou aos postulados do kirchnerismo duro, abandonando a marca mais conciliadora que havia demonstrado no início da sua gestão e materializada nos primeiros dias de gestão da pandemia.
A relação com a oposição
O escândalo da vacinação VIP era muito recente e as críticas dos legisladores da oposição se concentraram em lembrar a Fernández. Mas, por conta da pandemia, foi uma Assembleia Legislativa bastante atípica, com apenas um terço dos parlamentares em suas cadeiras.
A agenda legislativa
Foram anunciados projetos para aumentar as preferências da lei Compre Argentino (lei que dá preferência à empresa nacional em licitações públicas), uma lei agrobioindustrial, uma nova lei de hidrocarbonetos, uma lei de emergência de serviços públicos para desdolarizar as tarifas. Vários foram debatidos, mas nenhuma foi sancionado até hoje. Ele reiterou o envio de uma reforma ao Conselho da Magistratura para “despolitizá-lo” (sic) e exigiu a reforma do Judiciário.
2022
Há exatamente um ano, Fernández defendeu o acordo com o Fundo Monetário que ainda não havia chegado ao Congresso, garantindo que não implicava reforma previdenciária ou trabalhista. Ele prometeu ajustar as taxas, mas não acima dos salários. O ainda Ministro Martin Guzmán esteve presente em um dos camarotes.
O vínculo com Kirchner
A cara fechada da Kirchner nas fotos do dia com o Presidente continuou a ser a melhor descrição do mal-estar da vice, numa relação já fragmentada. Máximo Kirchner (filho de Cristina e Nestor Kirchner) cometeu o mesmo erro de 2021, e a ala dura do FdT votariam contra o acordo com o FMI dez dias depois.
A relação com a oposição
Em sessão de gritos, o PRO (partido político argentino de centro-direita) ampliou o escândalo ao retirar-se de suas cadeiras quando Fernández voltou a criticar a dívida contraída pelo governo Macri com o FMI e anunciou que havia instruído a abrir uma queixa-crime. Rodriguez Larreta (prefeito de Buenos Aires. Um dos fundadores do PRO, junto com Macri) também saiu. Quando a guerra Rússia-Ucrânia começou, JxC (Juntos por el Cambio – Juntos por mudança – é uma coligação política criada em 2019 para participar de eleição. Já foi liderado pelo Macri) pendurou bandeiras ucranianas em solidariedade e censurou o governo por sua ambiguidade e falta de condenação da agressão.
A agenda legislativa
Pelo terceiro ano consecutivo, Fernández denunciou a Justiça. Ele pediu mudanças na Lei de Aluguel, que foi discutida boa parte do ano na Câmara dos Deputados, mas a linha radical K (Radicales K – agrupamento político de simpatizantes do centro-esquerda que tem aliança com o peronismo e kirchnerismo) prevaleceu e impediu o retorno à norma anterior. A cannabis medicinal foi sancionada, mas a extensão da licença parental não deu em nada.