Os acontecimentos do último domingo (08/01), nos quais milhares de bolsonaristas invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), causando danos aos prédios públicos e destruindo vários objetos que estavam no local, segue gerando consequências na política nacional. Um dos detalhes que mais chamou a atenção foi a facilidade com que os manifestantes entraram nos locais, assim como a falta de reação e preparo da segurança. Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu as eleições, muitos bolsonaristas formaram um acampamento em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, o que já indicava que algo poderia ocorrer e era um alerta para que a segurança do governo se preparasse, o que não aconteceu, visto que os responsáveis foram pegos de surpresa diante dos episódios do fim de semana. No entanto, é preciso apontar onde a falha ocorreu e não punir um outro nome que não estava envolvido diretamente nessa situação.
Diante da falta de ação das forças de segurança e a ideia de que elas contribuíram para os atos dos bolsonaristas, Alexandre de Moraes, ministro do STF, ordenou a prisão do então chefe da Polícia Militar no Distrito Federal, Fabio Augusto Vieira, e do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro (até 31 de dezembro de 2022) e até então secretário de segurança pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Porém, a responsabilidade do que houve no fim de semana pouco recai sobre eles.
O ex-comandante da PM estava à frente do comando da corporação no domingo da invasão aos prédios. Os policiais na ocasião foram acusados de omissão pelas autoridades do Legislativo, Judiciário e Executivo. Com relação a Anderson Torres, este também foi considerado culpado por ser omisso aos prejuízos causados ao patrimônio público. Torres nem sequer está no Brasil, após assumir a Secretaria de Segurança Pública do DF no dia 2 de janeiro, ele viajou para os Estados Unidos. A Polícia Federal (PF) fez buscas na residência do ex-ministro e aguarda o retorno dele para cumprir o mandado de prisão. Além deles, a culpa também respingou sobre Ibaneis Rocha (MBD), que foi afastado por 90 dias do governo do Distrito Federal após determinação de Moraes, mas não teve nenhum pedido de prisão contra ele.
No entanto, os nomes punidos não são os únicos que devem ser culpados pelos recentes episódios. A dimensão do que aconteceu aponta para a incompetência de Flávio Dino à frente do Ministério da Justiça, ele deveria saber que os acampamentos bolsonaristas próximos à Praça dos Três Poderes representavam um risco ao governo. Chama a atenção também o nome de José Múcio no comando do Ministério da Defesa, já que, mesmo sem estar relacionado diretamente aos atos de domingo, está ligado a uma ala bolsonarista dos militares. Há ainda o ponto principal no meio desse cenário todo, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), cujo comando está nas mãos do general Gonçalves Dias, recebeu alerta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas não emitiu nenhuma ordem para que os aparelhos de segurança se movimentassem. Ou seja, a responsabilidade vai muito além das pessoas que foram punidas até o momento.
Com isso, as evidências levam a um envolvimento da ala mais direitista dos militares nos acontecimentos de domingo. Porém, esse grupo tende a ficar incólume, já que a perseguição está sendo feita contra pessoas menores, com pouca expressão no cenário político. Ninguém está disposto a bater de frente com as autoridades das Forças Armadas.
Essa situação coloca também Alexandre de Moraes contra a parede. Considerado um dos ˜pilares da democracia˜ e um suposto ˜aliado˜ na luta contra o fascismo, o ministro se vê numa situação complexa, já que, até o momento, aproximadamente, 1.500 pessoas foram detidas e, entre elas, há militares envolvidos. O grande questionamento que fica é se ele será capaz de punir as autoridades militares e os seus próprios amigos, e, nesse caso, o ˜não˜ é a resposta mais provável.
˜Eles prenderam cerca de 1.500 pessoas. O que vai acontecer aí? Nada. Eles vão arrumar alguns bodes expiatórios, porque alguém vai ter que pelo menos aparentar pagar pelo que aconteceu. A direita praticou atos de vandalismo grotescos. Eles vão ter que apresentar algum culpado para pagar duramente por isso, mas as pessoas punidas vão ser bodes expiatórios˜, declarou Rui Costa Pimenta na última edição do programa Análise Política da Terça.
Dessa forma, Moraes, como já está fazendo e como já se acostumou a fazer, irá à caça de pessoas de menor expressão para mostrar trabalho, enquanto os verdadeiros responsáveis permaneceram ilesos. Ele já fez isso durante as eleições presidenciais de 2021, quando muitos apoiadores de Bolsonaro foram punidos por disseminação de fake news, enquanto o próprio ex-presidente continuou na campanha espalhando diversas mentirar, sem que ninguém o punisse com a mesma rigidez. O cenário atual tende a ser igual, a partir de personagens diferentes.
