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A guerra de classes não para

Pacifismo, tese reacionária para suprimir a luta dos oprimidos

Aquele que grita “paz!” quando os povos massacrados se levantam não quer apenas que os opressores mantenham uma vida pacífica esmagando alguma outra população

Como em toda a guerra, o atual caso da luta de “Israel” contra a Palestina levanta em um amplo setor da esquerda pequeno-burguesa a política do pacifismo. É uma reação espontânea. Diante da brutalidade da guerra, qual a solução? A paz. É também uma política típica da pequena burguesia, que só vê guerra quando o confronto estoura, mas vivendo sua vida isolada do mundo real ignora a brutal opressão que acontece todos os dias e que sempre tem relação com a guerra. Um expoente dessa tese foi o colunista do UOL Julián Funks que publicou o texto: “Por um pacifismo radical, recusa de toda guerra e toda forma de violência”.

A sua premissa inicial sobre a guerra é a base para toda a sua tese reacionária: “O mínimo que se pode dizer sobre a guerra, sobre qualquer guerra, é que é um enorme desatino, um ato coletivo de insanidade”.

Ora, a insanidade geral é algo que cresce com o capitalismo, as contradições cada vez maiores da decadência imperialista impelem um enorme setor da população à loucura. Contudo a guerra é algo que tende para o outro lado, a guerra é quando a política fica clara, cristalizada, a guerra nesse sentido é menos insana que a opressão “pacifica”. Basta ver o caso da Palestina. 

O que é mais insano, 75 anos de ocupação brutal, de ditadura fascista, de prisões, torturas, assassinatos de crianças todos os dias ou o levante dos palestinos em armas contra essa opressão? A guerra é a luta de classes em sua forma mais aguda, e portanto mais fácil de compreender.

Ele continua: “A guerra choca porque é devastadora e cruel, porque dizima vidas como se nada fossem, como se não importassem, como se houvesse causas que a justificassem”. Aqui fica claro como é uma tese pequeno-burguesa, isso porque essa não é a descrição da guerra, mas sim da vida dos oprimidos do mundo, dos próprios palestinos por exemplo.

Ele segue então no erro tradicional do pacifismo: “Não há causas justas para a violência extrema porque combater a violência extrema é a mais justa das causas”. Mas de qual forma se combate a violência se não com a violência? É possível combater tanques, foguetes e fuzis com flores? O provérbio romano de mais de 2 mil anos de idade já explicava isso muito bem “se queres a paz, prepare-se para a guerra”. O problema dos pacifistas é que sua condenação da violência só aparece quando ela “vem dos dois lados”, ou seja, quando os oprimidos se levantam. A violência de todos os dias imposta a bilhões de pessoas pelo imperialismo não é classificada como guerra, apesar de ser muito mais brutal. 

Funks continua exatamente nessa mesma linha: “todo ataque bélico é absurdo, toda matança é inaceitável. Não importa de quem parta, não importam as circunstâncias, não há atenuantes para esse fato” e “são o fracasso do humanismo, o triunfo da desumanidade”. Rapidamente aparece a condenação dos oprimidos. Toda matança é inaceitável, tanto quando o senhor de engenho mata o escravo quanto quando os escravos matam o senhor de engenho. Na prática quem essa tese condena? É evidente que condena o escravo, o operário, o russo, o palestino ou quem quer se seja o oprimido na história.

Mas o texto fica ainda pior: “Eu poderia buscar as mais duras sentenças para condenar os atos atrozes de duas semanas atrás, o terrorismo do Hamas empilhando mil vítimas num único dia, maior massacre de judeus desde o Holocausto”. Do pacifismo sai a propaganda sionista. O Hamas seria um grupo terrorista que mata judeus. É ridículo. O Movimento de Resistência Islâmica, Hamas, é uma organização de libertação nacional que luta para libertar a Palestina. Se são judeus ocupando a Palestina, eles lutarão contra os judeus, mas se fosse norte-americanos no entorno de Gaza então provavelmente matariam cristãos, ou ateus, ou pessoas de qualquer religião, afinal isso não é relevante. O que importa de fato é que os palestinos estão em guerra contra aqueles que invadiram sua terra.

Então ele tira a clássica conclusão dos hipócritas pacifistas: “Diante de tal devastação, de tal gravidade, a única postura possível é a de um pacifismo radical, que parta da premissa de que nenhum assassinato é aceitável. No pacifismo, dissipam-se ou deveriam se dissipar as origens e as afinidades. Não importa que eu tenha raízes judaicas, que meus bisavós tenham sido exterminados nos campos, que eu julgue que o povo judeu necessita de seu espaço: isso jamais me fará endossar o morticínio que seu governo provoca. Não importa que eu reconheça a justiça e a urgência da causa palestina, seu direito a um país livre e próprio: isso jamais me fará minimizar a dor provocada pela brutalidade do Hamas”.

O autor do texto deveria explicar então qual processo de libertação nacional foi realizado com o “pacifismo radical”. Qual povo se libertou de sua opressão brutal sem usar a violência contra a violência que lhe foi imposta pelo opressor? Mais uma vez o pacifismo se mostra a tese perfeita do pequeno burguês. De dentro de um apartamento em um chique bairro de Tel Avive é fácil falar de pacifismo, agora de dentro de um campo de concentração, que é a Faixa de Gaza, a vida comum não é tão pacífica assim. E no caso da Palestina ainda há uma comprovação histórica de que essa teoria é uma farsa.

No ano de 2018 a criação do Estado de “Israel” completava 70 anos. Uma organização de palestinos na Faixa de Gaza então aproveitou a data redonda para realizar protestos pacíficos. Todas as semanas milhares de palestinos se dirigiam pacificamente para a fronteira para protestar pelo direito às suas terras. Qual era a resposta ao pacifismo radical? Tiros de fuzil. De acordo com uma das estimativas, 223 palestinos foram mortos e 9.204 feridos, em grande parte mutilados. Houve algum ganho político? Nenhum. Já em 2023 a ação violenta do Hamas, mesmo antes de sabermos o resultado final, deu um dos maiores ganhos políticos da história para a luta dos palestinos. Falar de pacifismo sem nem levar a história (a de cinco anos atrás, nem falar da que já completa 75 anos) em consideração é ridículo.

O texto conclui com a mais alta hipocrisia pacifista: “Esqueçam-se os ânimos que nos movem: todo ato de morte deve ser condenado de maneira insofismável.” Aqui o autor está admitindo que Israel pode atirar nos palestinos, contudo os palestinos não podem atirar de volta. Essa é sempre a conclusão daqueles que clamam pelo pacifismo apenas quando os oprimidos se levantam. A realidade é que a violência dos oprimidos nunca será nem comparável à brutal violência dos opressores. Os palestinos, mesmo que tomando a política mais brutal possível para com os israelenses, o que não parece ser o caminho atual, nunca conseguiram gerar o mesmo sofrimento que os israelenses os fizeram passar com 75 anos de ocupação.

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