O futebol brasileiro definitivamente tem o seu Torquemada: ninguém melhor do que o comentarista Walter Casagrande Jr. tem condições de ocupar o posto.
Desde o final do século XV, na Espanha, Torquemada, que ficou conhecido como o Grande Inquisidor, foi responsável por jogar na fogueira dezenas de milhares de “hereges” num curto espaço de tempo. Ele reorganizou o sistema inquisitorial de maneira rígida, não hesitando em utilizar meios de tortura para conseguir “confissões”, e tomou a iniciativa de estabelecer um conjunto de orientações para perseguir os “pecadores”.
Em pleno 2023, o comentarista do portal golpista Uol, ex-funcionário da Rede Globo, parece certamente se inspirar nos feitos e realizações do inquisidor espanhol. Casagrande, por sorte, não tem hoje os poderes para colocar “hereges” na fogueira. Mas, dentro das suas possibilidades, por meio de seus pobres artigos e comentários na imprensa capitalista, faz um esforço considerável para jogar os jogadores brasileiros na Inquisição moderna, o sistema carcerário nacional.
No dia 20 de dezembro, Casagrande publicou artigo com o título Daniel Alves vai a julgamento em 2024. E Robinho, quando será preso?. São os votos de Casagrande para 2024: que Robinho seja preso!
À primeira vista, pode parecer estranho que um comentarista esportivo defenda abertamente, em um de seus últimos artigos do ano, a prisão de um jogador brasileiro de destaque. Tratando-se de Casagrande, entretanto, não há surpresa nenhuma.
Casagrande desempenha hoje o papel de Inquisidor-Geral do futebol brasileiro. Seu papel se resume, basicamente, a perseguir os jogadores brasileiros. Melhor dizendo: não os jogadores em geral, mas os melhores jogadores brasileiros, os mais talentosos, aqueles que figuram constantemente nas listas de convocados para a seleção brasileira.
Nos últimos anos, Casagrande tomou como seu alvo preferencial o melhor jogador brasileiro dos últimos tempos: Neymar. Mas seus ataques têm certo grau de variação. Dos treinadores brasileiros aos jogadores brasileiros, passando pelos clubes brasileiros. Tudo o que é propriamente “nacional”, produzido em solo brasileiro, um fruto da sociedade brasileira, é alvo de ataques do Torquemada do futebol nacional.
Casagrande é o esquerdista identitário. Ele dirige seus votos de condenação para Daniel Alves e prisão para Robinho em nome da luta contra o “machismo”. Tal como o Torquemada espanhol, o Torquemada do futebol apresenta sempre as melhores intenções para justificar as posições mais reacionárias.
Para Casagrande, assim como os identitários em geral, o “machismo” se resolve com prisões, com mais lotação de presídios, com aumento de penas, com fortalecimento do aparato policial e repressivo do Estado capitalista. Nessa visão, a polícia ― essa instituição destinada a esmagar o povo pobre ― seria uma ferramenta de libertação da mulher. Nada mais absurdo, nada mais distante da realidade. Fábrica de Torquemadas, o identitarismo não tem nada a oferecer além dessa política repressiva e reacionária.
No final do artigo, Casagrande deixa um recado preocupante. “Espero muito que essa nova geração de jogadores mude drasticamente suas referências” diz para, logo na sequência, citar nominalmente a nova joia do futebol nacional, o atacante Endrick, do Palmeiras. É um mau sinal. Casagrande já começa a indicar um novo alvo seu: justamente aquele jogador que deve ter um futuro promissor jogando futebol. Em se tratando de Casagrande, entretanto, não há surpresa nenhuma nisso.