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Arthur Cesconetto

Dirigente nacional do Partido da Causa Operária e da Aliança da Juventude Revolucionária. Responsável pela organização dos comitês de juventude em Santa Catarina e estudante da Universidade Federal de Santa Catarina.

Um império em crise

O colapso das lojas Americanas e o império Lemann

A crise histórica das Lojas Americanas poderá colocar em colapso todo o império Lemman

Nesta quinta-feira, as ações da bolsa de valores de uma das maiores lojas varejistas do Brasil, as Americanas, iniciou o dia com uma queda história. Em 24 horas, a empresa perdeu 75% de valor de mercado nas ações apenas no leilão realizado no dia. O fato ocorreu poucas horas após a divulgação de uma nota da companhia que afirma ter “descoberto” um rombo de R$ 20 bilhões na balança orçamentária da empresa. O rombo já é maior que o valor de mercado das concorrentes, como a Magazine Luiza.

No documento divulgado, poucas informações são dadas sobre o que de fato seria a base desse rombo, os motivos pelos quais ele teria ocorrido e, sobretudo, como a empresa não teria percebido em todo o último período que havia um deficit orçamentário dessa magnitude. Contudo, fontes ligadas à agência de notícias Bloomberg, já declaram que o problema possível está ligado ao chamado forfait, também conhecido no ramo dos investimentos como “risco sacado”. Este tipo de operação é comum nas ações de mercado de empresas varejistas como a Americanas. A ação consiste em conseguir um financiamento bancário para a cadeia de suplementos de uma empresa, ou seja, com os fornecedores sendo pagos por dinheiro pego emprestado pela empresa, injetando assim diretamente nos mesmos. Este tipo de conduta é padrão em grandes empresas, pois em grande medida não há condições de manter o funcionamento normal de mercado sem trabalhar com um potencial de endividamento. No entanto, tratando-se de crédito a juros, este endividamento, quando chega ao ponto limite, é várias vezes mais catastrófico, podendo gerar a quebra da empresa.

O que ocorreu com as lojas Americanas foi o descontrole deste endividamento geral da companhia. O momento é extremamente delicado para as lojas varejistas, mesmo as maiores no mercado. Graças à tendência inflacionária crescente e o aumento das taxas de juros, o poder de compra do consumidor é cada vez mais baixo no mercado brasileiro. Tratando-se de lojas varejistas, que trabalham direto com a venda ao público, a rápida desvalorização do poder de compra da população causa um impacto direto no orçamento dessas empresas. Não é apenas as Americanas, todas as lojas varejistas operaram em queda no último período.

O anúncio deste rombo no orçamento, considerado um dos maiores da história brasileira, acompanhou a queda do presidente da companhia, Sergio Rial, que não durou 10 dias à frente da empresa. Rial era um nome de confiança dos acionistas, tendo sido um dos principais presidentes do Banco Santander, tendo causado, inclusive, uma valorização de mais de 20% nas ações de mercado das Americanas quando assumiu, na semana anterior. A renúncia de Sergio Rial aumenta ainda mais o impacto, mostrando, pela postura do banqueiro, que a empresa encontra-se em uma situação muito mais catastrófica que os “meros” R$ 20 bilhões.

Na prática, se feito o cálculo do que a empresa alega ter em caixa, e ainda somado aos patrimônios da companhia, o saldo final das Americanas superaria os R$ 6 bilhões negativos. Ou seja, não há da onde tirar para pagar o buraco no orçamento, necessitando de uma forte intervenção de investimentos por parte dos acionistas. Contudo, quem irá investir na empresa neste momento?

Apesar de Rial afirmar que as operações são “absolutamente viáveis”, a empresa opera em frenética queda, aproximando-se dos 80% de desvalorização. Neste cenário, empresas de investimentos como a Empiricus Research, por meio do seu CEO Felipe Miranda, já afirmaram que a expectativa é que os R$ 20 bilhões sejam apenas o começo de um rombo ainda maior a ser descoberto na companhia. As especulações forçaram a companhia contratar uma empresa terceira para realizar uma fiscalização orçamentária, e a queda rápida de Sergio Rial, aumentaram as suspeitas que os R$ 20 bilhões “descobertos” não seriam uma grotesca falha técnica por parte dos administradores, mas, sim, uma fraude que vem sendo mantida há anos para controlar a desvalorização de mercado da empresa.

Os motivos desta fraude visam encobrir, na realidade, o colapso generalizado que companhias como Americanas vêm enfrentando. De maneira geral, todas as grandes empresas privadas operam com grandes dívidas no mercado, e com a crise internacional do capitalismo se aprofundando, o estouro destas bolhas inflacionárias tem como tendência ser ainda mais acelerado. O que ocorre com as Americanas afeta todo o mercado capitalista brasileiro de conjunto. Com a intensa desvalorização da empresa, outras varejistas sofreram com fortes oscilações na bolsa, e o império de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, passa por dias extremamente conturbados.

Lemman, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, que formam o 3G Capital e são os investidores centrais das Americanas, sofreram forte perda de patrimônio, que somadas ultrapassam os US$ 684 milhões. Apenas Lemman teve uma perda de US$ 345 milhões em seu patrimônio, que engloba outras empresas como, por exemplo, a gigante Ambev, que também é controlada pelo grupo 3G Capital.

Em consonância com as Americanas, os olhares dos especuladores financeiros voltaram-se para a empresa de Lemman, que é vista como uma nova potencial em crise. Junto à Ambev, o grupo Via, que engloba as Casas Bahia e Ponto Frio, também empresas varejistas, encontram-se em estado de suspeita por parte dos acionistas, que também identificam um forte potencial de crise na companhia.

O caso é generalizado, e a imprensa burguesa indica que o grupo de Lemman precisará investir seu próprio dinheiro na varejista para salvar a empresa em meio à crise. No entanto, com a situação se desenvolvendo em potencial para Ambev e Via, a probabilidade de haver uma quebra generalizada das principais companhias do mercado brasileiro é grande em um período não tão distante.

A crise geral do capitalismo vem dando sinais mais agudos, e o fato de todas as grandes empresas privadas terem grande parte de seus patrimônios sendo fruto de ações especulativas, ou seja, sem base real, aumentam ainda mais o catastrófico colapso destas empresas.

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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