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Oriente Médio

‘Nem ‘Israel’, nem Hamas’; ou seja, ‘Israel’

Esquerda Diário, portal do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores, apresenta sua receita para a luta do povo palestino

No artigo Enfrentar a ofensiva israelense contra a Palestina é indispensável para uma esquerda revolucionária hoje, publicado pelo portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), uma tal Marie Castañeda, que se apresenta como “estudante de Ciências Sociais na UFRN”, nos oferece uma receita para a questão palestina. Segundo o MRT, seria preciso “um programa que supere qualquer ilusão na manutenção do Estado sionista de “Israel”, seja lá o que isso signifique, ao mesmo tempo em que “tampouco podemos compartilhar dos métodos, programa, ou estratégia do Hamas”. Simplifiquemos, portanto: para Castañeda, a posição correta consistiria em nem apoiar a política oficial do Estado de “Israel”, nem apoiar o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

Que apoiar “Israel” é um erro, qualquer pessoa que não seja um nazista sanguinário, como são os ministros do governo de Benjamin Netanyahu, concordaria. Mas o que significaria “superar qualquer ilusão na manutenção” de “Israel”? Significa, por exemplo, defender o fim do Estado de “Israel”? Não! O máximo a que Castañeda chega é à proposta de “desmontar o Estado sionista de Israel”. O que isso significa? Significa dissolver as forças armadas? Significa dissolver o parlamento? O que será colocado no lugar? São todas questões deixadas em aberto – não apenas por Castañeda, mas pelo próprio MRT, uma vez que, apesar de o texto ser assinado, é classificado como um “editorial”.

Trata-se, portanto, de uma oposição genérica a “Israel”, uma posição que poderia, sem muita dificuldades, ser dissolvida na demagogia do próprio imperialismo norte-americano que, diante da crise cada vez maior em seu próprio território, tem aumentado o tom às práticas criminosas do Estado sionista.

E é neste sentido que se torna ainda mais ridícula a crítica do grupo ao Hamas. Segundo o Esquerda Diário, não se pode compartilhar com os “métodos, o programa, ou a estratégia do Hamas”. E quais seriam eles?

Os “métodos” do Hamas são aqueles da luta de qualquer povo por sua libertação. O Hamas, por exemplo, fez centenas de israelenses prisioneiros. E daí? Praticamente todos os grupos guerrilheiros fizeram. A luta armada contra a ditadura militar o fez, sendo o caso mais famoso o sequestro, em 1969, do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, pela Ação de Libertação Nacional e pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro. Como resultado, os guerrilheiros conseguiram libertar 15 prisioneiros – entre eles, José Dirceu, que viria a ser um dos principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT).

Que mais fez o Hamas, no dia 7 de outubro? Matou quatro centenas de soldados israelenses? Ora, mas há guerra sem mortes? Se “Israel” é justamente o Estado que oprime os palestinos, a morte de seus soldados é uma vitória desses oprimidos. Não há provas de que os combatentes do Hamas tenham matado um grande número de civis neste dia. Mas ainda que o tivesse, estaria justificado até mesmo pelo direito internacional: se “Israel” é uma ocupação ilegal, todos os seus cidadãos são considerados, necessariamente, elementos subalternos a essa ocupação.

Que mais tem feito o Hamas desde o 7 de Outubro, a não ser lutar de armas na mão contra os invasores israelenses? Deveria o Hamas ficar de braços cruzados enquanto “Israel” assassina as crianças e mulheres palestinas? Deveriam, então, ter ficado de braços cruzados os vietnamitas e os afegãos quando suas terras foram invadidas pelos Estados Unidos?

Há apenas duas hipóteses para justificar a posição do MRT diante do Hamas – e todas elas são inaceitáveis para uma organização que se diz “trotskista”. Ou o Esquerda Diário acredita nas mentiras contadas pelo Estado de “Israel”, que o Hamas seria um grupo que estupra mulheres, decapita bebês etc., ou o portal se opõe não ao Movimento de Resistência Islâmica, mas a todos os grupos de libertação nacional.

Que falar, então, da “estratégia” do Hamas. A estratégia do grupo é, hoje, evidente: os combatentes islâmicos decidiram realizar uma grande operação militar, planejada durante meses, contra o território ocupado por “Israel”. O objetivo da ação era, por um lado, desmoralizar “Israel” completamente, demonstrando que não é invencível, e, por outro, deflagrar um novo capítulo na luta entre palestinos e israelenses, de tal modo que a resistência árabe conseguisse, ao ser atacada por “Israel”, derrotar as forças sionistas. O que o Hamas pretendia era mostrar, por um lado, todo o caráter brutal, nazista e genocida de “Israel”, o que tem ficado escancarado, e, por outro, que o enclave imperialista está enfraquecido e é incapaz de tomar as terras controladas pelos combatentes palestinos.

E isso, o Hamas está conseguindo fazer de maneira incontestável. A crise de “Israel” é tão grande que um dos elementos mais fascistas do governo israelense, Yoav Gallant, reconheceu, perante os Estados Unidos, que seria preciso “muitos meses” para conseguir derrotar o Hamas. Ao mesmo tempo, o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, teria dito que “Israel” tem “poucas semanas” para encerrar o conflito. Ou seja, ao que tudo indica, “Israel” falhará completamente em sua promessa de “exterminar o Hamas”.

Não apenas o Hamas está resistindo bravamente às tentativas de invasão por parte dos sionistas, mas iniciativa de 7 de Outubro levantou a cabeça de todos os grupos islâmicos que lutam contra “Israel”. A ação dos Ansar Alá, mais conhecidos como Hutis, no Iêmen, ameaçando explodir os navios israelenses ou que tenham o enclave imperialista como destino, está causando uma grande crise para o imperialismo. “Israel” está sendo atacado por todos os lados, e, em nenhum dos casos, indica que terá uma vitória.

Por si só, o método e a estratégia do Hamas já deveriam ser suficientes para que qualquer organização de esquerda se colocasse na defesa incondicional do grupo e em aliança incondicional com os combatentes islâmicos. O fato de que o Hamas está levando adiante uma verdadeira insurreição armada contra “Israel”, capaz de levar o Estado sionista ao colapso, é o que há de mais fundamental. Afinal, se o Hamas, junto com o Hesbolá, a Jiade Islâmica e todos os que estão lutando conseguem derrotar militarmente “Israel”, como o Estado sionista irá se sustentar, uma vez que só consegue impor sua ditadura por meio da força? Independente do que pensa o Hamas, o partido islâmico está agindo, concretamente, para alcançar o fim do Estado de “Israel”, que seria o resultado inevitável de sua derrota militar integral.

Mas cheguemos, então, na questão do programa. Diz o MRT: “nós não compartilhamos a estratégia do Hamas, que vai na contramão da unidade entre es trabalhadores, jovens e oprimides [sic], e seu programa de um Estado teocrático burguês”. Ainda que seja uma coisa secundária neste momento, conforme exposto acima, o que o MRT diz do Hamas é mentira.

Em nenhum momento o Hamas propõe, em seu programa, “um Estado teocrático burguês”. Pelo contrário! No Documento de princípios e políticas gerais do movimento, lê-se:

1) “O estabelecimento de ‘Israel’ é totalmente ilegal e contraria os direitos inalienáveis do povo palestino e vai contra a sua vontade e a vontade da Umma. (…) O Hamas acredita que nenhuma parte da terra da Palestina deve ser comprometida ou concedida, independentemente das causas, das circunstâncias e das pressões e não importa por quanto tempo dure a ocupação.”

2) “O Hamas acredita e adere à gestão de suas relações palestinas com base no pluralismo, na democracia, na parceria nacional, na aceitação do outro e na adoção do diálogo. O objetivo é fortalecer a unidade de fileiras e ação conjunta com o propósito de alcançar metas nacionais e atender às aspirações do povo palestino. (…) O Hamas enfatiza a necessidade de construir instituições nacionais palestinas com base em princípios democráticos sólidos, com destaque para eleições livres e justas. Esse processo deve ser baseado na parceria nacional e de acordo com um programa claro e uma estratégia clara que respeitem os direitos, incluindo o direito de resistência, e que atendam às aspirações do povo palestino.”

Ou seja, não há nenhum projeto de “Estado teocrático burguês” nas declarações de princípios do Hamas. Há apenas na cabeça dos redatores do Esquerda Diário.

Por fim, também chama a atenção que o MRT acusa o Hamas de impedir a “unidade entre es trabalhadores, jovens e oprimides [sic]”. A acusação, conforme já discutimos, é ridícula, pois não há nada que forje maior unidade que a luta concreta contra os opressores, que é o que o Hamas e seus grupos irmãos estão fazendo. Por outro lado, o que impede uma unidade é a política do MRT, para quem o central da luta palestina hoje seria “erguer organizações revolucionárias que defendam o direito à autodeterminação nacional do povo palestino e lutem em todo o mundo por uma Palestina operária e socialista, nos marcos de uma federação socialista do Oriente Médio”.

Se, diante de uma luta liderada pelo Hamas, o MRT põe como tarefa central a construção de “organizações revolucionárias” por uma Palestina “operária e socialista”, o Esquerda Diário considera, portanto, que o problema central não é a derrota militar de “Israel”, mas sim uma disputa com o Hamas sobre o caráter de um Estado que ainda sequer existe! À palavra de ordem de “pegar em armas contra ‘Israel'”, que é o eixo central da política do Hamas, o MRT responde: “antes de pegar em armas, se converta ao socialismo”. Ou, pior: “só pegue em armas se o seu objetivo for o socialismo”.

Com esse socialismo de contos de fada, que se alcança não por meio da luta, mas por meio dos padres puros do MRT, que não se “misturam” com os combatentes do Hamas, o Estado de “Israel” nunca será derrotado. Poderá, até, ser bastante tolerante com os padres do MRT e deixá-los pregar à vontade sobre um socialismo que nunca virá. Enquanto isso, o povo palestino continuará sendo bombardeado e só poderá pensar em um socialismo que seja construído em uma vida após a morte.

O MRT pode não se dar conta, mas o que faz ao criticar o Hamas, nos termos em que critica, não é “aperfeiçoar” a luta palestina, mas, na verdade, pregar contra ela.

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