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Política anti-imperialista

Negando o dólar, Lula faz acordos com China e Argentina

Presidente negocia com parceiros comerciais para que importação e exportação sejam feitas sem usar de moeda dos EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fechou, em menos de quatro meses de governo, dois acordos internacionais visando reduzir a dependência brasileira do dólar para importações e exportações. Os acordos foram assinados com Argentina, em janeiro, para um estudo do tema, e China, neste mês, já autorizando operações. Os dois países são grandes parceiros comerciais do país.

Eles indicam um posicionamento econômico e geopolítico do novo governo sobre comércio internacional. Contam, inclusive, com apoio da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que assumiu na semana passada a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos Brics, grupo de países que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.

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Os termos preveem que o Brasil possa usar sua moeda local para importar produtos argentinos e chineses. Empresários dos dois países também poderiam importar produtos brasileiros pagando com suas moedas locais –peso e yuan, respectivamente.

Atualmente, praticamente toda transação fechada por importadores ou exportadores brasileiros é feita em dólar, mesmo quando feita com empresários de fora dos Estados Unidos. Na prática, o real brasileiro é convertido na moeda norte-americana para pagamento de produtos enviados por empresas de outros países, assim como um empresário brasileiro recebe quase sempre em dólar mesmo quando exporta para países da América do Sul, Ásia ou África, por exemplo.

De acordo com o economista, Bruno de Conti, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uso do dólar nas transações implica em custo extra para os negócios brasileiros com outros países. Isso ocorre porque, a cada transação, são embutidas taxas para compra e venda de dólar via bancos ou corretoras.

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“Quando a gente vai numa casa de câmbio e tem que comprar dólar e depois vender, sempre perde. A casa de câmbio fica com um pouco”, ilustrou Conti. “Isso desfavorece todos nós, pessoas físicas ou jurídicas, que fazemos operação via dólar.”

De Conti acrescenta que essa preferência pelo dólar concede aos Estados Unidos um certo poder sobre todo comércio mundial, afinal só o país emite a moeda usada para essas transações. Além disso, impõe a países periféricos restrições econômicas.

A Argentina, por exemplo, reduziu suas importações do Brasil porque não tinha dólar para pagar produtos brasileiros. O país também enfrenta dificuldades para pagar suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), já que o órgão recebe pagamentos em moeda norte-americana.

“Os EUA têm muito mais liberdade de política econômica, não precisam se preocupar tanto com taxa de câmbio, tudo é denominado em dólar…” explicou o economista. “Nós, os países periféricos, temos uma série de problemas por isso.”

Redução de riscos

Segundo de Conti, levando tudo isso em conta, países como a China vêm celebrando uma série de acordos bilaterais para transações sem dólar, inclusive com o Brasil. O assunto não é exatamente novo, mas ganhou importância após o início da Guerra da Ucrânia, em fevereiro de 2022, e as sanções e o bloqueio comercial impostos pelos EUA à Rússia.

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“Isso colocou uma pulga atrás da orelha de todo mundo. Eles viram que o poder dos EUA é realmente muito grande”, disse ele. “Países expostos geopoliticamente viram que vale a pena tentar contornar o uso do dólar.”

Longo caminho

O economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, é favorável à ideia de o Brasil fechar acordos com China e Argentina para comércio em moedas locais. Ele lembrou que acordos anteriores já permitem esse tipo de negócio. O problema é que eles ainda são pequenos frente a todos realizados com o uso do dólar.

Por isso, segundo Roncaglia, há um longo caminho a ser percorrido até que a moeda norte-americana perca relevância para a economia nacional e mundial. “Tem bastante chão. Não vejo a hegemonia do dólar sendo questionada”, afirmou o professor.

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Roncaglia afirmou que é natural que a China lidere negociações para o comércio sem dólar já que ela vende 15% de tudo que o mundo consome. Ele ressaltou que, apesar dos esforços do governo chinês, o mercado financeiro está totalmente adaptado ao dólar e oferece ferramentas que favorecem a utilização da moeda.

“A China tem bastante interesse nisso, mas está muito longe de oferecer um sistema com toda a infraestrutura financeira que o dólar oferece. O dólar tem um mercado de derivativos, mercado futuro, mercado de hedge. Presta esse serviço ao mundo”, disse o professor, citando ferramentas financeiras disponíveis para quem trabalha com dólar.

Instabilidade atrapalha

O economista Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), citou que, especialmente no caso da Argentina, a instabilidade econômica tende a atrapalhar o avanço do comércio alheio ao dólar. O país sofre hoje índice de inflação crescentes, o que significa que o peso argentino perde valor rapidamente. Fica mais difícil, portanto, fazer compensações com o real.

“Brasil e China usarem moedas próprias como referência é normal. São moedas estáveis”, disse ele. “Na Argentina, é mais complicado porque a moeda tem uma oscilação muito grande, inflação, etc.”

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Apesar disso tudo, Oliveira acredita que a tendência é mesmo que o dólar seja deixado de lado com o passar dos anos.

Mas Diana Chaib, economista e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por sua vez, alertou que os EUA devem agir para minar esses esforços.

“Brasil e China transacionarem fora do dólar é uma afronta clara e direta à hegemonia norte-americana. Os EUA não vão deixar isso barato”, disse.

Papel de Dilma

Pedro Faria, que também é economista e pesquisador do Cedeplar-UFMG, acredita que a mudança da moeda do comércio internacional é uma batalha não só econômica, mas geopolítica. Ressaltou que o presidente Lula parece estar disposto a travá-la e, hoje, conta com uma aliada estrategicamente posicionada para ajudá-lo: Dilma Rousseff.

A ex-presidente comanda agora o NBD. O banco, com sede na China, pode servir como uma espécie de intermediador do comércio entre os países membros dos Brics e de fora do bloco. Essa intermediação, explicou Faria, possibilitaria importações e exportações sem dólar.

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“Na medida que acordos de comércio bilateral se proliferem, o NBD pode assumir o papel de equilibrar as contas dos mecanismo bilaterais”, explicou. “A Argentina tem superávit com a China, mas déficit com o Brasil, que por sua vez deve à China, por exemplo. A função do NBD pode ser reequilibrar essas sem usar o dólar.”

De Conti também acredita que o NBD possa ser usado para redução da dependência do dólar e é favorável a essa ideia. Para ele, isso não é tão simples, mas pode acontecer com o banco internacional na gestão Dilma.

“O NBD pode ser usado. A Dilma tem dito isso”, afirmou. “Não é trivial, mas ele poderia fazer mais empréstimos em moeda local.”

Fonte: Brasil de Fato

* Os artigos aqui reproduzidos não expressam necessariamente a opinião deste Diário

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