Nesse domingo (08), grupos bolsonaristas marcharam até a Esplanada dos Ministérios em Brasília e, lá, invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). As imagens, amplamente noticiadas pela imprensa burguesa, mostram a destruição do patrimônio nacional por parte dos direitistas, que reivindicavam a derrubada do governo Lula alegando que as eleições do ano passado foram fraudadas para favorecer o petista.
O episódio foi marcado por uma permissividade total por parte das forças de segurança pública, que foram completamente cúmplices com os bolsonaristas. Afinal, um grupo pequeno conseguiu invadir os principais edifícios da República sem quase nenhuma resistência, algo que só pode ser atingido por meio de uma cooperação com as autoridades de dentro do sistema.
Algumas horas depois do início, entretanto, a confusão foi contida e os bolsonaristas começaram a ser presos pelo exército e pela polícia militar. Pouco tempo depois, em pronunciamento oficial direto de Araraquara, Lula decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, justificando seu ato pela ausência das autoridades competentes no combate aos direitistas.
Feita a intervenção, que nomeou Ricardo Cappelli como interventor, o ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino (PSB), começou a divulgar o número oficial de presos. Até o fechamento desta matéria, contando com os bolsonaristas acampados em frente ao Quartel General de Brasília, desmobilizados pelas polícias, mais de 1500 pessoas já foram detidas pela operação federal.
Lula deve combater as forças da extrema-direita que tentam desmobilizar o seu governo, não há dúvidas disso. Porém, não deve fazê-lo fortalecendo as instituições repressivas do Estado, como as polícias e o judiciário. Em outras palavras, não deve combater o bolsonarismo utilizando precisamente as forças que são a base do bolsonarismo. Isso é um tiro no pé.
Primeiramente porque a experiência com o trumpismo, nos Estados Unidos, mostra que esse método é ineficiente e produz o resultado contrário do almejado. A invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, está sendo utilizada pelo regime americano como pretexto para impor um regime extremamente autoritário contra a base de Trump, algo que, de dois anos para cá, só fez a sua força política crescer, desestabilizando ainda mais o governo Biden.
Em segundo lugar, Lula, apesar de eleito pelo povo, é apenas um inquilino à frente do aparato do Estado burguês, a principal arma de dominação da burguesia sobre a classe operária. Consequentemente, toda e qualquer medida que sirva para fortalecer as instituições repressivas do Estado resulta, independente da situação momentânea, no fortalecimento do instrumento de dominação dos patrões sobre os trabalhadores. O que representa, portanto, uma medida reacionária.
Ao invés de fortalecer a polícia e o judiciário fascistas, Lula deve mobilizar o povo para enfrentar os fascistas nas ruas. Durante a sua prisão, por exemplo, foram os trabalhadores que impediram – antes que ele próprio se entregasse – a retirada do presidente eleito do sindicato dos metalúrgicos. Por outro lado, era a polícia quem tentava levá-lo para a cadeia, pois, no fim, é esse o seu papel: atacar a classe operária, os seu representantes e as suas organizações de vanguarda.