Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

Medicina e sociedade

Medicina e socialismo

Responsabilidade social da Medicina

Muitos médicos fazem da prática da medicina toda a sua vida, pois é dela que extraem seu valor social, seu significado e sua importância. Ter essa conexão com a profissão não é exatamente errado, mas é perigoso. Em primeiro lugar porque somos muito mais do que a profissão que abraçamos. Somos uma potencialidade infinita de funções e modos de ser. Somos pais, avós, filhos, escritores, marceneiros, empresários, cantores em potencial e ater-se apenas a uma forma de expressão pode impor uma limitação desnecessária a qualquer um de nós.

Muitas mulheres – e até homens – colocaram na sua relação amorosa todo o valor de sua existência. Como Florbela Espanca, dizem “tu não és sequer a razão do meu viver, pois que já és toda minha vida”. Alguns profissionais fazem o mesmo, e alienam sua existência a um ofício. Em medicina isso é muito comum. Todavia, creio ser importante criar outras formas de ser relevante e sentir-se produtivo. Ou, como diriam os apostadores, não devemos colocar todas as fichas (da nossa paixão) no mesmo número.

Em segundo lugar, a Medicina tanto abriga quanto oprime. Ela é uma mãe poderosa, amorosa e benevolente, porém possessiva e vingativa. Ao mesmo tempo em que lhe oferece um poder desmedido, valor social e dinheiro ela lhe cobra fidelidade. Para a imensa maioria de seus filhos essa fidelidade é oferecida sem queixas. Afinal, quem reclamaria do preço a pagar diante de produto tão valioso? Existem, entretanto, aqueles a quem sua fidelidade está direcionada a valores outros, como uma mente livre e sem amarras. Para estes a conexão à medicina e seus postulados só terá sentido se não afetar outros aspectos da vida, como a equidade, a justiça, os direitos humanos e a liberdade do sujeito de fazer suas próprias escolhas.

É nesse momento que os choques podem ocorrer. No caso da Medicina, a expressão da arte médica se faz no espaço que se forma entre a justa ação de proteção dos pacientes e a apropriação indébita da autonomia destes pelo jugo imposto pelo capitalismo. É nessa zona esfumaçada e incerta que operam os profissionais. Para a maioria, os abusos sobre a autonomia dos doentes são um preço baixo que eles devem pagar para a sua prometida segurança. Para outros, liberdade é a meta última, e qualquer ação que destrua a autonomia alheia será criminosa.

Uma mente inquieta sofrerá a inevitável dor e padecerá da angústia, do sofrimento e viverá em conflito quando estiver diante desse “imperativo de consciência”. Calar-se e acovardar-se diante da injustiça produz doença e martírio moral. Lutar causará dor, feridas, ressentimento e tristezas profundas. Consciência e postura ética cobram um preço deveras alto. Para alguns o embate será inexorável e muitos sabem que essa luta poderá não trazer qualquer resultado além do próprio sacrifício pessoal. Nesse aspecto a luta política pela conquista do socialismo emparelha seu caminho com a luta por uma medicina mais democrática. Não faz sentido que a luta pela saúde dos pacientes não incorpore a ideia de uma sociedade justa e igualitária. Imaginar que é possível tratar os sujeitos doentes sem se importar com as causas primeiras do adoecimento é fazer o jogo mórbido das indústrias que lucram com a doença e o martírio.

Baruch Espinoza, judeu sefardita holandês nascido em Amsterdã, resolveu fazer críticas à dogmas cristãos e à própria Bíblia que foram consideradas pesadas e inadequadas pela oficialidade da comunidade judaica, por agredir elementos essenciais do cristianismo. Estes rabinos, com razão, temiam que suas posições deixassem em risco os judeus que foram recebidos na Holanda após sua expulsão de Portugal pela inquisição portuguesa.

Apesar das pressões, Espinoza não se retratou, por fidelidade à sua consciência e pelo valor que dava à sua liberdade de expressão. Foi humilhado, excomungado e expulso de sua comunidade, vindo a se refugiar em um sótão para trabalhar como relojoeiro até o final de sua vida. Ele é, para mim, o maior exemplo de integridade e respeito a si mesmo. Muitos médicos que conheci – como vários colegas do Brasil e do exterior – seguem esse padrão ético e pessoal. Muitos deles tem marcas na alma das lutas incessantes contra um sistema cruel cujo respeito à autonomia dos pacientes não ocupa o lugar central que deveria ter na ação terapêutica.

Para estes minha reverência e meu respeito.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.