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Argentina

Lutar contra ‘a extrema direita’ ou contra o imperialismo?

Ao analisar vitória eleitoral do novo mandatário argentino, corrente do PSOL ignora por completo quem são os maiores inimigos dos trabalhadores

O artigo O alerta da extrema-direita e o combate da esquerda socialista, publicado no portal Revista Movimento, do Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL), seu autor, Israel Dutra, dirigente nacional da corrente, se propõe a analisar a situação política argentina ignorando completamente a posição do imperialismo no país sul-americano. Sem uma caracterização de qual classe social está por detrás de cada fenômeno político, Dutra acaba se colocando a reboque do imperialismo.

Todo o argumento do artigo consiste em colocar a extrema direita como o maior problema no mundo. Ele começa afirmando que “o respiro que o povo brasileiro teve com a derrota eleitoral de Bolsonaro parece ficar para trás quando notamos os últimos acontecimentos na situação internacional. A extrema-direita, viva e articulada, inclusive no Brasil, logra êxito e conquista postos importantes”. De fato, a extrema direita não foi totalmente derrotada, ela apenas perdeu o seu cargo mais importante, a presidência da República. Contudo, a direita tradicional, aquele que sempre foi a principal representante do imperialismo, não pode ser subestimada como inimiga da classe trabalhadora.

O texto continua: “basta olhar para a ofensiva contra Gaza, encabeçada pela ala direita do sionismo, e enxergar a barbárie, como aquela que Primo Levi e Hannah Arendt consideraram as maiores atrocidades na história humana, ao ‘banalizar o mal’. Na Argentina, Javier Milei tomou posse e já aplica seu ‘plano motosserra’ contra o povo. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, todas as pesquisas eleitorais indicam Trump na dianteira para retornar à presidência em 2024”. Aqui já fica claro o erro de análise do MES. Primeiro o problema do sionismo seria a sua ala direita, uma farsa. Segundo, Trump seria pior que o partido democrata, encabeçado por Biden, uma farsa ainda maior. Vejamos por quê.

Considerar que o ataque à Gaza, caso a esquerda tivesse no poder em “Israel”, seria mais brando é um erro. Aqui é preciso lembrar que essa “esquerda” sionista – isto é, o partido trabalhista, Mapai – governou “Israel” entre 1948 e 1977. Ou seja, foi quem realizou a Nakba, a limpeza étnica de 800 mil palestinos para criar “Israel”. Foi quem invadiu a Faixa de Gaza e a Cisjordânia em 1967, ocupando militarmente toda a Palestina e expulsando mais centenas de milhares de palestinos. Foi quem organizou, junto ao governo da Jordânia, o setembro negro, quando o exército jordaniano assassinou mais de 3 mil palestinos. Isso só para citar os casos mais importantes, pois a lista de atrocidades é gigantesca.

Aqui fica claro como ignorar o imperialismo gera essa análise falha. O sionismo, em todo seu espectro, é um movimento totalmente imperialista, ele é um dos tentáculos do imperialismo dos EUA no Oriente Médio. E assim é também possível compreender o caso Trump. O ex-presidente dos EUA não é o principal candidato do imperialismo, isso é tão evidente que o FBI, representando o que se costuma chamar de establishment – está tentando removê-lo das eleições em 2024. Nesse sentido, a vitória de Trump seria uma derrota do imperialismo, uma desagregação do regime político dos EUA. Falar em extrema direita sem colocar a questão do imperialismo é enganador. A extrema direita da Ucrânia é apoiada pelo imperialismo, portanto deve ser combatida. A extrema direita trumpista também deve ser combatida, afinal é uma direita, mas o principal inimigo, milhares de vezes mais perigoso, é o próprio governo Biden.

O artigo segue citando um caso de como lutar contra a extrema direita no Brasil: “queremos materializar uma agenda que combine a necessidade de forjar uma força social para enfrentar a extrema direita, sem perder de vista a defesa dos interesses do povo. Temos feito isso em São Paulo, onde a luta contra o governo Tarcísio e as privatizações alcançou um embate geral na sociedade”. Mais uma vez se ignora a política do imperialismo. Privatizações não são uma política apenas da extrema direita, inclusive o governo Bolsonaro foi incapaz de aplicar tantas privatizações quanto Temer e FHC, governos da direita mais ligada ao imperialismo. Ou seja, a colocação do MES confunde os trabalhadores, pois identifica a extrema direta como principal força por detrás da privatização e não os monopólios imperialistas.

E logo depois a corrente do PSOL mostra sua incapacidade de lidar com o governo Lula. “Contudo, a orientação fiscalista do governo federal, através do ajuste encabeçado por Haddad e pelas articulações com Lira no Congresso, provoca ataques aos trabalhadores e ao povo organizado, gerando frustração e confusão, caldo para a oposição de direita atuar e confundir”. Primeiro é preciso colocar que essa é uma declaração implicitamente golpista. A “orientação” do governo Lula “provoca ataques” aos trabalhadores? Por que o ataque da burguesia a classe operária é colocado como culpa de Lula, quando quem o realiza é a direita? A política de Lula, ultra moderada, não consegue defender os trabalhadores de forma enfática. No entanto, não é possível acusar o presidente de rival da classe trabalhadora, como o MES dá a entender.

No parágrafo seguinte, o MES reafirma a cartilha do golpismo de esquerda no ano de 2023: “[estamos] defendendo os movimentos de luta pela terra, com uma decidida crítica ao ajuste, como fizemos em temas como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e o Novo Ensino Médio.” O artigo que começa afirmando que explicará como combater a extrema direita termina atacando o governo Lula. Essa certamente não é uma forma de combater esse setor da direita, pelo contrário, enfraquecendo o governo do PT, a direita se fortalece.

Sem entender a política do imperialismo no Brasil e no mundo, o MES mais uma vez vira o seu apêndice. No fim, foram criticados os bolsonaristas, os sionistas de direita, o governo Lula (de forma velada) e Donald Trump. Nenhum dos representantes principais do imperialismo, os maiores inimigos da classe operária, foram nem citados. Mas o fato é que o maior financiador da extrema direita no mundo é o imperialismo. Não existiria Milei sem intervenção dos EUA, nem os nazistas da Ucrânia e nem mesmo Bolsonaro. No fim, o grupo que se autoproclama “trotskista” esqueceu das palavras do revolucionário russo: “é impossível lutar contra o fascismo sem lutar contra o imperialismo”.

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