Leonardo Boff se junta à mais nova onda, a dos textos apocalípticos, com o artigo “Do caos mundial, uma nova ordem?” publicado no sítio A Terra é Redonda, nesta sexta-feira (16). A ideia de ‘fim do mundo’ obviamente não é nova, é mitológica, mas ressurge com força de tempos em tempos. Recentemente, uma profusão de artigos têm saído na grande imprensa, e mesmo na independente, alertando sobre os problemas climáticos, o aquecimento global etc.
Logo no início nos deparamos com a seguinte constatação: “Como poucas vezes na história geral da humanidade, possível de ser datada, constatamos uma situação de caos em todas as direções e em todas as esferas da vida humana, da natureza e do planeta Terra como um todo”.
Leonardo Boff é cristão, mas, na voz dele, de imagem e semelhança de Deus passamos à condição de “grande meteoro ameaçador da vida”. Para piorar “ultimamente (…) (os grandes incêndios em várias regiões da Terra), tudo da irresponsável ação humana e como consequência do novo regime climático irrefreável, e não em último lugar, o risco de uma hecatombe nuclear a ponto de exterminar toda a vida humana”.
Apesar do “pessimismo e preocupação séria sobre o eventual fim de nossa espécie”, nem tudo parece estar perdido, pois Boff cita a ação de jovens preocupados com o futuro “num movimento já planetário de salvaguarda da vida e do futuro de nossa Casa Comum, como o faz prototipicamente a jovem Greta Thunberg”.
Greta Thunberg, uma celebridade ambientalista mirm, recentemente pediu a punição para Vladimir Putin, presidente da Rússia, por “ecocídio” após a destruição da barragem de Kakhovka, na Ucrânia. Porém, tudo indica que foi obra do exército ucraniano o atentado. A mesma ambientalista, curiosamente, se cala sobre o envio de munição com urânio empobrecido para a Ucrânia, um elemento altamente tóxico, cancerígeno que pode contaminar o solo e comprometer a agricultura. Será que ela pedirá a punição do premiê britânico e do presidente dos EUA por ‘assassinarem’ a natureza. Por hora, vamos continuar aguardando.
A ciência
Leonardo Boff recorre a Ilya Prigogine, um cientista russo-belga para sustentar que ainda há uma esperança e se afasta do determinismo, pois para o cientista “A própria evolução do universo se caracteriza por flutuações, desvios, bifurcações, situações caóticas, como a primeira singularidade do big bang, geradora de novas ordens”. “A própria evolução do universo se caracteriza por flutuações, desvios, bifurcações, situações caóticas, como a primeira singularidade do big bang, geradora de novas ordens”.
O autor do artigo recorre à ciência para dar um tom de esperança para a humanidade. Aquele meteoro humano que pode exterminar toda da vida, inclusive a própria, da face da Terra, volta seu status de “ser livre e criativo [que] poderá transformar-se e transformar o caos em cosmos (ordem nova)”.
Boff alimenta “com Ilya Prigogine a esperança humana (e também teológica) de que o atual caos representa uma espécie de parto, com as dores que o acompanha, de uma nova forma de organizar a existência coletiva da espécie humana dentro da única Casa Comum”.
O materialismo
Plekhanov, no final do século XIX, muito antes de Prigogine, já havia escrito um texto chamado “Os ‘Saltos’ na Natureza e na História”. Traduzido pelo PCO que pode ser encontrado no sítio Marxists.org. Vejamos o início:
“Entre nós, aliás não apenas entre nós”, diz M. Tikhomírov, “enraizou-se profundamente a idéia de que vivemos num período de destruição que, acredita-se, terminará por uma terrível catástrofe, com torrentes de sangue, detonações de dinamite e assim por diante. Após o que – supõe-se – abrir-se-á um “período de construção”. Esta concepção social é totalmente errada e não é mais que o reflexo político das velhas idéias de Cuvier e da escola das bruscas catástrofes geológicas. Mas, na realidade, a destruição e a construção vão ao par, e são mesmo inconcebíveis uma sem a outra. Que um fenômeno caminhe para sua destruição, resulta, na verdade, do fato que nele mesmo tem lugar algo de novo constituindo-se e, inversamente, a formação de nova ordem de coisas não é nada além da destruição da antiga”
A concepção materialista da natureza, para os revolucionários, leva em consideração esse movimento dialético dos eventos. No entanto, é preciso contestar a visão de Leonardo Boff, que coloca a saída de uma situação caótica para uma ‘nova vida’ como se isso fosse quase um passe de mágica. E que nova vida seria essa? Nova para quem?
A situação de caos na qual vivemos joga todo seu peso sobre as costas da classe trabalhadoras. Sendo assim, a saída para uma ‘nova vida’, precisa ser um ato consciente e não pode ser dissociada da luta de classes. É simples compreender isso, pois para a burguesia, que também vive no caos com seu enfraquecimento, a ordem seria um mundo no qual ela pudesse voltar a lucrar como nunca e esfolar tranquilamente a população mundial.
‘Ambientalistas’
Os ‘ambientalistas’, como Greta Thunberg, a ministra Marina Silva, dentre muitos, são instrumentos dessa ordem burguesa. Eles agem para que os países atrasados não se desenvolvam porque isso, supostamente, aumentaria a pressão sobre a natureza e colocaria a vida em risco.
Ocorre que todo o alarmismo, o cenário apocalíptico, ganhou força no Brasil com a possibilidade de explorarmos reservas de petróleo na faixa litorânea do extremo norte. Região que, é preciso dizer, já vem sendo explorada no país vizinho, na Guiana, por multinacionais; o que, estranhamente, não provocou tanta gritaria por parte dos ambientalistas. Talvez pelo fato de estarem na folha de pagamento da Fundação Ford ou outra instituição imperialista.
O artigo de Boff, ainda que aponte para um futuro quase metafísico, não deixa de integrar o conjunto de textos apocalípticos que servem para pressionar os países atrasados a não explorarem suas riquezas. Essa política é amplamente impulsionada pelos países ricos, que pretendem eles mesmos tomar posse, seja pela força, seja por meio de golpes de Estado, ou pela corrupção, armas que sabe muito bem empregar.