Nessa terça-feira (26), a Operação de Comércio Marítimo do Reino Unido (UKMTO, na sigla em inglês) anunciou que recebeu um relatório de uma ocorrência a oeste de al-Hudaydah, no Iêmen. As autoridades britânicas estão investigando a denúncia, mas, ao que tudo indica, trata-se de mais uma operação do Iêmen contra as embarcações que são de “Israel” ou que estão indo até “Israel”.
Também na terça-feira, Mohammed Al-Atifi, ministro da Defesa do Iêmen, afirmou que a postura do país em relação ao Mar Vermelho é firme. Em relação à coalizão naval anunciada pelo imperialismo, uma força-tarefa composta por forças marítimas de países como Estados Unidos, França e Inglaterra, o chefe da pasta disse que a resistência iemenita transformará a geografia náutica do Mar Vermelho, Golfo de Aden, Mar Arábico e Babelmândebe em uma “maldição” para os agressores.
Ao contrário do que diz a propaganda do imperialismo, Al-Atifi deixou claro que o Iêmen está comprometido com a segurança da navegação internacional e com o respeito a acordos internacionais. O ministro deixou claro que todos os navios estão seguros, com exceção daqueles ligados a “Israel” e/ou que têm como destino final “Israel”. A posição oficial do governo é que tais embarcações não estarão seguras até que o povo da Faixa de Gaza esteja livre da agressão sionista.
As declarações dadas por representantes oficiais do governo do Iêmen, diferentemente daquelas feitas pelo governo turco, têm sido acompanhadas de ações efetivas contra a ocupação israelense. No último domingo (24), por exemplo, os combatentes Hutis lançaram novos ataques com quatro drones contra um destróier dos Estados Unidos e dois navios mercantes no Mar Vermelho.
“Aproximadamente às 20h00 de sábado [horário local, 14h00, no horário de Brasília], o Comando Central das Forças Navais dos EUA [Centcom, na sigla em inglês] recebeu relatos de dois navios no sul do Mar Vermelho de que estavam sendo atacados. O M/V BLAAMANEN, um navio petroquímico de bandeira norueguesa, de propriedade e operado por eles, relatou ter quase sido atingido por um drone de ataque unidirecional Huti, sem feridos ou danos relatados”, detalhou o comunicado do Centcom na rede social X (antigo Twitter).
“Uma segunda embarcação, o M/V SAIBABA, um navio de carga de petróleo bruto de propriedade do Gabão e bandeira indiana, informou que foi atingido por um drone de ataque unidirecional, sem registro de feridos”, continuou o Centcom, mencionando que mísseis balísticos antinavio foram usados nos ataques.
Os Estados Unidos, todavia, já haviam sido alertados de que o Iêmen tomaria medidas desse porte em sua missão de defender a Palestina do Estado nazista de “Israel”. Sayyed Abdul-Malik al-Houthi, líder do movimento Ansar Alá, alertou os norte-americanos, na semana passada, que suas embarcações também virariam alvo dos iemenitas caso atacassem os Hutis. Ele disse:
“Se os Estados Unidos estão considerando atacar o Iêmen, não ficaremos de braços cruzados”, acrescentando que o envolvimento numa guerra direta com os EUA e “Israel”, em vez de representantes dos EUA, é o que eles mais aspiram.
No mesmo pronunciamento, o líder dos Hutis convocou os países árabes a não se envolverem com os Estados Unidos, ressaltando que “se os EUA quiserem combater a posição do Iêmen em apoio à Palestina, então terá de confrontar todo o povo iemenita” e que “se é isso que os Estados Unidos querem, então enfrentará uma situação mais dura do que a que enfrentou no Afeganistão e no Vietnã”.
A ação do Iêmen está causando um estrago gigantesco para “Israel” e para o imperialismo em geral. Para “Israel”, em primeiro lugar, porque está dividindo a atenção dos sionistas, que precisam se concentrar em invadir a Faixa de Gaza, reprimir os palestinos na Cisjordânia, combater os libaneses ao norte e, agora, se preocupar com os Hutis. Isso sem contar a crise interna que está quase fazendo a ocupação sionista implodir.
Em segundo lugar, é um motivo de preocupação para o imperialismo porque a operação dos iemenitas no Mar Vermelho e na região como um todo está trazendo um impacto econômico muito grande.
O Babelmândebe foi atravessado por 12% do comércio marítimo global de petróleo e 8% do gás natural liquefeito durante o primeiro semestre de 2023, conforme dados da Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos. Esses números representam 8,8 milhões de barris diários de petróleo e 4,1 bilhões de pés cúbicos diários de GNL.
Anualmente, mais de 17.000 navios atravessam essa região, alguns com destino ao Canal de Suez, que os conduz ao Mediterrâneo, desempenhando um papel crucial na conexão entre a Ásia e a Europa.
A empresa dinamarquesa AP Moller-Maersk, responsável por 15% do mercado global de frete de contêineres, está entre as várias principais empresas de navegação global que optaram por evitar essa rota. Juntamente com a alemã Hapag-Lloyd, que também se retirou, essas empresas representam quase um quarto do mercado.
As tarifas de contêineres para remessas do Norte da Ásia para o Reino Unido, que passam pelo Mar Vermelho e Canal de Suez, atingiram níveis recordes este ano, conforme avaliações da S&P Global Platts. As seguradoras estão aumentando os custos para garantir navios que planejam seguir essa rota.
Diante disso, algumas empresas de navegação estão escolhendo a única alternativa marítima restante – contornar a África, uma rota consideravelmente mais longa. Contudo, essa opção pode resultar em custos adicionais e adicionar até duas semanas à duração da viagem.
Essas dificuldades para as empresas de navegação coincidem com outro incidente desfavorável, já que o importantíssimo Canal do Panamá também enfrentou uma significativa redução na capacidade de tráfego devido à seca.
Além disso, esse enfrentamento desmoraliza completamente o poderia imperialista, que não consegue controlar a situação no Oriente Médio. Afinal, não é a Alemanha, a França ou até mesmo a Rússia que está enfrentando o imperialismo, mas sim o Iêmen. Trata-se do país mais pobre de todo o Oriente Médio, com mais de 30 milhões de habitantes e uma dívida pública de mais de 90% de seu Produto Interno Bruto (PIB).
Também é preciso levar em conta que os iemenitas estão travando uma guerra devastadora contra um país dezenas de vezes mais rico e poderoso que ele, a Arábia Saudita, que, por sua vez, recebe apoio do imperialismo nesse embate. Algo que consome boa parte dos recursos que os Hutis têm disponível para usar contra “Israel”.
Este pequeno e pobre país está enfrentando bravamente o imperialismo, algo que dá muita tranquilidade, por exemplo, para que Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, leve adiante sua política em relação a Essequibo. O mesmo vale para os chineses em relação a Formosa (Taiuã) e para os russos em relação à Ucrânia.