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Francisco Weiss

Militante do PCO em São Paulo. Juntou-se ao partido em 2018, em meio à campanha da luta contra o golpe e pelo “Fora Bolsonaro”. É membro da coordenação do Grupo por uma Arte Revolucionária Independente (GARI), além de dirigente do PCO em São Paulo. Apresenta de segunda a sexta o programa Reunião de Pauta na COTV e outros programas do Canal e também da Rádio Causa Operária.

Progressivo político?

Gentle Giant e as classes sociais

A banda britânica Gentle Giant lança seu terceiro álbum, o Three Friends, em 1972, com músicas inesquecíveis e uma letras com temas estranhamente familiares aos marxistas

O Gentle Giant era uma das bandas mais inovadoras do Rock Progressivo inglês durante os anos 70. Apesar de não ter alcançado o mesmo sucesso comercial que alguns de seus pares, como Emerson, Lake and Palmer, Yes ou Genesis, sua sonoridade é única, tem uma característica bem humorada e pitoresca, apesar de sua grande complexidade.

Para o presente texto, no entanto, gostaria de comentar o seu terceiro álbum, lançado em 1972, chamado “Three Friends”. Naquele momento, a formação da banda contava com os três irmãos Shulman, Derek, Ray e Phil, o baterista Malcolm Mortimore, o guitarrista Gary Green e o tecladista Kerry Minnear.  

O Gentle Giant, assim como a maioria das bandas de rock progressivo, não é conhecido por fazer letras e músicas de cunho político. A ideia que ronda o trabalho desses artistas é de músicos que desejam apenas exibir sua técnica, misturando o rock a gêneros mais sofisticados e tocando seus instrumentos de forma virtuosística, mas isso não corresponde a toda a verdade.

No disco Three Friends, é interessante observar que, em meio às mudanças de fórmulas de compasso, contrapontos intrincados, longas canções com diversas partes diferentes, longos solos de guitarra e improvisações nos teclados, o disco trata sobre um tema bastante fundamental para a vida: as diferentes classes sociais. 

Ainda que seja de forma tímida e superficial, o Giant se arrisca em falar um pouco sobre esse importante aspecto da vida em sociedade. A história que guia as letras desse disco conceitual é a de três amigos, que se conheceram na escola, mas cresceram e tiveram vidas diferentes, cada um desempenhando uma função na sociedade capitalista, tudo isso retratado de forma bastante crítica e até cínica em muitos momentos.

A primeira faixa do disco, Prologue, é, como o título sugere, um prólogo, que introduz a história dos três amigos. Musicalmente, ela apresenta um impactante tema instrumental, com uma condução rítmica empolgante e marcante. Após uma mudança na intensidade, temos um pequeno trecho com arranjos vocais inusitados, com uma confusa polifonia que não ajuda no entendimento da letra, mas contribui para seu clima misterioso.

A letra descreve de forma breve como três amigos se conhecem e sua vida se desenvolve para diferentes caminhos. Como a própria letra diz “os ventos da mudança não deixam nenhuma despedida”.

Logo após, vem a canção Schooldays, que impressiona pela sua sonoridade, que remete a um ambiente infantil e movimentado, mas de uma forma que só se vê ali. Ao mesmo tempo que apelam a certos clichês sonoros para dar aquela ideia do ambiente escolar, o que se vê é uma música riquíssima em detalhes e que dá o tom da história dos dias de escola dos três amigos.

A primeira parte é agitada e quase alegre, enquanto a segunda é obscura e misteriosa, quase que trazendo a sensação de se estar dentro de um sonho ou revisitando memórias muito antigas, que podem ser boas ou ruins, mas estão distantes e esquecidas no passado.

Logo depois, temos a canção Working all day, que retrata a vida de um operário, cuja única função na sociedade é trabalhar sem parar, ou como diz o próprio título da música “trabalhar o dia inteiro”. Ele expressa revolta com a sociedade que o oprime e uma frase memorável da letra da música é (tradução livre) “é fácil dizer que todos são iguais, mas olho à minha volta e vejo que não é verdade”. 

As frases tocadas no saxofone barítono chamam muito a atenção e o solo de órgão Hammond no meio da música mostram toda a criatividade do tecladista Kerry Minnear. Trata-se de um estilo de tocar teclado totalmente diferente do que se está normalmente acostumado para uma banda de rock.

O lado B do disco começa com a canção Peel the Paint, que procura retratar a vida de um artista. A música tem duas partes bem contrastantes, uma bastante calma, conduzida por um quarteto de cordas e cuja letra descreve a minúcia do trabalho do pintor, que acredita estar escapando do mundo exterior ao mergulhar em sua arte.

A segunda parte da música, com melodia dissonante e um riff de guitarra distorcido inesquecível, trata de forma metafórica do pintor descascando a tinta e revelando seu interior selvagem e revoltado. Uma mênção especial ao dueto de guitarra e bateria de Gary Green e Malcolm Mortimore na parte final da música.

A canção Mister Class and Quality? procura mostrar a vida e mentalidade do burguês e seus capachos mais diretos, que entraram de cabeça no canibalismo capitalista. Procurando utilizar todos à sua volta para favorecer seu ganho financeiro. Ele se vangloria dos “prêmios” que a vida deu a ele, e fala de forma aberta sobre como tem amigos apenas para conquistar seus próprios objetivos materiais. Ele diz “o mundo precisa de pessoas firmes como eu para receber e dar as ordens”. 

Musicalmente, ela possui uma introdução tocada no baixo, teclado e guitarra, bastante polifônica. A frase tocada no baixo durante essa introdução será repetida na próxima música de forma mais lenta. Durante o vocal, a música é conduzida por uma linha melódica de cinco notas no violino. Ela é interpelada por vários trechos instrumentais cheios de mudanças de clima e de harmonia, tendo até um trecho que lembra música de circo, mostrando o lado humorístico de seus compositores.

Ela emenda na parte final. A canção Three Friends, de caráter apoteótico, que entra com um coro, que remete mais à música sacra do que à música pop da época. A letra conta como os três amigos já estiveram juntos, mas que a sociedade os separou “indo de classe em classe”. Tudo isso é acompanhado por uma frase bastante movimentada no baixo, dobrado pela guitarra e harmonizado por um órgão hammond e por sons de cordas no teclado Mellotron. A frase é repetida indefinidamente até o volume cair e chegar ao silêncio, encerrando o que é, na opinião deste autor, uma obra prima da música dos anos 70. Recomendo escutar imediatamente.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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