O Diário Causa Operária esteve presenta na mais recente edição do Foro de São Paulo, e realizou uma inédita entrevista com Agustina Alejandro, da Frente Ampla do Uruguai para discutir a situação do país contra o imperialismo.
Agustina Alejandro faz parte da Frente Ampla do Uruguai, do setor IR, e faz parte da coordenação da Organização Juvenil do Foro de São Paulo.
Diário Causa Operária: Como a importância da juventude é entendida no Fórum de São Paulo?
Agustina Alejandro: Bem, acho que o Foro de São Paulo é a vanguarda dos partidos políticos da América Latina e do Caribe, e os jovens têm a responsabilidade de ser a vanguarda da vanguarda. Não apenas temos que renovar o Foro de São Paulo, somos a renovação e o futuro do Foro de São Paulo, mas também estamos gerando nossa própria agenda e traçando nosso novo rumo, levantando as mesmas bandeiras e aprofundando as mudanças que já foram propostas desde 1990 em diante.
Diário Causa Operária: O que você diria que são neste momento as principais demandas da juventude na América Latina?
Agustina Alejandro: Acho que a principal luta da América Latina, da juventude da América Latina neste momento tem que ser a luta ou a proteção do meio ambiente. Se ficarmos sem planeta não haverá, não haverá revolução possível. Sim, se não tivermos, se não tivermos um planeta onde possamos viver a vida com justiça social, com paz, com tranquilidade, onde possamos nos desenvolver plena e materialmente.
Diário Causa Operária: Ontem na plenária da Juventude discutiram muito sobre a questão de Cuba, Venezuela e Nicarágua em relação às sanções. O que você diria sobre o papel da juventude nessa luta, na luta contra o bloqueio, contra o embargo?
Agustina Alejandro: Acho que, como todas as lutas por justiça, igualdade social e paz. Exigir o imperialismo estadunidense de seus capangas no Atlântico e no resto do mundo é necessário para eliminar o bloqueio a Cuba, o bloqueio à Venezuela e as sanções coercitivas unilaterais contra o povo nicaraguense, que são genocidas e não permitem seu desenvolvimento. E o único, o único crime que cometeram contra o império é ousar desenvolver uma vida diferente do capitalismo, do neoliberalismo cultural. Eles ousaram e souberam sustentar suas lutas. Nosso dever é garantir que todos os povos da América Latina e do Caribe sejam livres, verdadeiramente livres, autônomos e soberanos.
Diário Causa Operária: Poderíamos falar um pouco sobre a situação política do Uruguai, que recebe muito pouca atenção aqui. Aqui no Brasil não há tantas notícias sobre o que está acontecendo quanto a esquerda.
Agustina Alejandro: Bem, a esquerda, nós. A Frente Ampla continua tão unida, tão forte como sempre, construindo. Perdemos o Governo em 2019, o governo de coalizão de direita, cinco partidos de direita e de extrema-direita no Uruguai unidos com o único propósito eleitoral de derrotar a Frente Ampla e retirá-la do Governo. São partidos que internamente não tem, não se dão muito bem, não tem uma boa relação, real, nem uma coordenação real, mas o único, o único objetivo deles era tirar a esquerda do o governo. Nesse sentido, juntaram-se a um novo partido que nasceu nas últimas eleições, que é um partido militar de extrema-direita. Pela primeira vez estamos experimentando o que é a extrema direita no Uruguai.
Diário Causa Operária: Primeira vez?
Agustina Alejandro: Na primeira vez tivemos mais uma direita, pan-americana, e uma direita mais nacionalista. E agora temos uma extrema direita militar com um partido militar que nega o golpe, que nega os desaparecidos, que nega a ditadura ou a defende, que está tentando libertar os presos, os ditadores, presos, tribunais e presos neste momento, porque dizem que são pobres velhos de 80 anos. Acho que ninguém pensa que assassinos repressores e violadores da Constituição e pessoas que torturaram e assassinaram pessoas são pobres velhos? Esse mesmo governo tem se dedicado não apenas a retirar o Estado do território e eliminar todas as políticas públicas e reverter todas as mudanças que a Frente Ampla promoveu e sustentou por 15 anos. Mas também agora estamos atolados em um escândalo. Escândalo de corrupção, corrupção após escândalo, corrupção após escândalo de corrupção. Aquele que ontem no encontro de jovens meus colegas tentaram resumir e quando estávamos planejando percebemos que é impossível enumerar porque todos os dias, todos os dias e não é exagero, surgem novas notícias escandalosas, para começar deram o porto de Montevidéu, isso se fizermos um pouco de história.
O porto de Montevidéu é uma das principais razões pelas quais o império do Brasil e da Argentina lutaram por nosso território, porque é um profundo porto natural. Deram-no a uma empresa privada sueca que há 60 anos, seis décadas a privatizar o nosso porto, esse mesmo porto que agora descobrimos, também está ligado ao narcotráfico e os contentores cheios de droga que estão a ser exportados ou estão a ser exportados foram encontrados e são encontrados antes de deixar nosso porto. Nesse sentido, e com a ligação ao narcotráfico e à corrupção, foi entregue nos Emirados Árabes Unidos um passaporte a uma pessoa procurada pela Interpol do Paraguai, um perigoso narcotraficante uruguaio e paraguaio. Ele foi preso nos Emirados Árabes Unidos por entrar nos Emirados Árabes Unidos com um passaporte paraguaio falso. O Estado uruguaio deu a ele um passaporte uruguaio na prisão e depois ele fugiu e continua, ainda está livre, fugiu da Interpol.
No Uruguai não sabemos onde ele está, a Interpol ainda está procurando por ele. O governo uruguaio de direita facilitou sua libertação da prisão. Além disso, o guarda, chefe da custódia presidencial, foi preso por diferentes casos de corrupção e por comandar uma rede de corrupção no 4º andar da torre presidencial, na qual emitiu certidões de nascimento falsas para residências falsas. Ele tinha toda uma rede construída com uma nova empresa que residia em Miami Vertical X, contratada pelo Estado uruguaio para compras de drones e diversas aquisições de compra direta do Estado. E então, bem, eles nos deram uma lei de consideração urgente com 500 artigos que reformam e retrocederam, não dez anos, não 15 anos, 100 anos em termos de direitos e progresso, eles conseguiram esse vínculo com o narcotráfico, por exemplo, que você pode ter $ 100.000 em dinheiro sem precisar declarar. Quem? Que pessoa decente tem $ 100.000 em dinheiro e não tem como declarar? Isso é tudo. Uma incrível rede foi descoberta ligada a todos os escalões superiores do governo de direita, onde ninguém está se limpando. E enfim, agora um dos senadores mais importantes do Partido Nacional, que é o partido do Presidente da República, agora ele está no meio de uma investigação judicial por pedofilia. Ele verificou 11 denúncias de pedofilia desde o ano passado.
Eles não são velhos, são de agora. Essa é a situação política do Uruguai. Além disso, descobriu-se que essa mesma empresa vertical estava investigando e espionando dois senadores da Frente Ampla e militantes estudantis. Sim, a empresa contratada pelo chefe da Segurança Vertical, tinha ligação com o chefe da segurança do presidente e mandaram investigar esses senadores e esses alunos. Por outro lado, a Frente Ampla nesta situação, estamos o tempo todo tentando sustentar nossa própria agenda de construção contínua de nossa unidade, para retornar. Tecer e estreitar laços com os movimentos sociais, com a central sindical, com o internacional, o Intersocial, que é uma rede entre a central sindical, os movimentos feministas, todos os movimentos sociais da sociedade civil organizada e também entender o que foi isso, o que foi que aconteceu para a gente perder o governo além dos erros, além do nosso documento de autocrítica que a gente fez, um documento de autocrítica que a gente levou um ano e um ano inteiro para fazer. Mas para sustentar nossa força política, fortalecer nossa força política e entender que a luta da esquerda em nosso país e no mundo, aliás, é unidade na diversidade, que também é o que ele. O Foro de São Paulo também apoia.
