O Diário Causa Operária participou do Foro de São Paulo e entrevistou Yaniel Pérez da embaixada de Cuba em Brasília. Discutido o problema do bloqueio e a importância da campanha internacional em defesa dos cubanos, o diplomata cubano denunciou a ação do imperialismo e colocou a necessidade de uma campanha solidária em defesa de Cuba.
Diário Causa Operária: Qual a expectativa de Cuba em relação ao Foro principalmente diante do aumento da ofensiva do imperialismo contra o país?
Yaniel Pérez: Nossa embaixada participa do Foro como convidado, é um evento de partidos políticos. Porém, é um evento importante porque ratifica a unidade dos partidos de esquerda progressistas da região. E sobre essa base apoiam as causas progressistas dos países-membros.
O bloqueio e a condenação das sanções a Cuba são temas muitos importantes porque Cuba permanece bloqueada há mais de 60 anos pelo governo dos Estados Unidos. A batalha internacional contra o bloqueio é importante para o nosso país.
Diário Causa Operária: Agora surgiram uma série de iniciativas para romper o bloqueio. Pode comentar a importância desse tipo de iniciativa?
Yaniel Pérez: Se os Estados Unidos estão tentando bloquear toda a ajuda internacional a Cuba, Cuba está buscando apoio em países que ofereceram solidariedade e prestaram assistência, não do ponto de vista econômico também, não apenas a Rússia ou outros países da região do México, e é importante poder contornar essas sanções que pesam sobre Cuba, não apenas na área econômica, mas também na área médica.
Na área da saúde cubana, existem remédios que só são produzidos nos Estados Unidos, por exemplo. Cuba tem crianças que sofrem de doenças cardíacas que os remédios só são produzidos nos Estados Unidos e não temos acesso aos Estados Unidos. Tentam impedir esse comércio de remédios para Cuba e as crianças estão sofrendo com essas sanções, com o bloqueio. Isso faz parte de um conjunto de medidas, como eu disse, que não são só econômicas, mas também na área médica, na área técnico-científica e temos muitas coisas em comum. Por exemplo, Cuba fabrica remédios, vacinas contra o câncer de pulmão. Cientistas norte-americanos estão muito interessados e estão fazendo acordos de pesquisa com Cuba para poder gerar novos medicamentos que não existem nos Estados Unidos e existem em Cuba. Mas Cuba tem capacidade intelectual, médica, científica para fazer isso, mas não tem os recursos necessários porque o bloqueio não permite. Então estamos nessa batalha.
Diário Causa Operária: No caso dessas negociações com os Estados Unidos, Cuba não se opõe, são eles que se opõem a fazer essas investigações, certo?
Yaniel Pérez: Claro. Cuba está aberta a relações com o governo dos Estados Unidos em questões diversas, em questões de segurança, em questões de migração, em questões científicas, em questões econômicas. São eles que estão bloqueando Cuba. Cuba não bloqueia os Estados Unidos. Se Cuba é sancionada pelos Estados Unidos há mais de 60 anos, hoje se fala em medidas de sanção contra outros países, mas essas sanções podem ter meses, ou anos, mas Cuba está aí há mais de 60 anos. É muito difícil viver num país bloqueado, é difícil.
Diário Causa Operária: Você acha que a unidade dos povos latino-americanos e caribenhos na luta pelo fim do bloqueio a Cuba se fortalece com esse Foro e tem condições de enfrentar esse desafio que está colocado?
Yaniel Pérez: Os desafios são muitos. A esquerda precisa se fortalecer diante do avanço da extrema-direita, como disse ontem o presidente Lula, acredito que este é um momento, um espaço de reflexão, um espaço que busca unir forças na unidade latino-americana. Se não nos unirmos, não conseguiremos vencê-lo. Enquanto discutimos, debatemos o que é melhor para nossos países. O imperialismo continua atuando e tentando provocar a desunião dos movimentos sociais progressistas de esquerda da região, porque tem como filosofia “dividir para conquistar”. Então a esquerda, sabendo disso, não pode ceder a esse objetivo do imperialismo.