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Supremo Tribunal Federal

Elogiar Dino é política de avestruz diante de ofensiva da direita

Articulista do 247 aplaude ingresso de ministro da Justiça no STF e ignora que o governo Lula está cada vez mais perdendo o controle

Em artigo intitulado “Dino, uma presença na História”, o jornalista Paulo Moreira Leite, do Brasil 247, afirma que “a entrada de Flávio Dino no plano máximo do Judiciário brasileiro carrega uma relevância bem maior do que se compreendeu até aqui”. Ou seja, para ele, o ingresso do atual ministro da Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) seria algo que mereceria bastante comemoração.

É comum pessoas que apoiam o governo Lula acabarem se confundindo e acreditando que, porque apoiam o governo, deveriam apoiar absolutamente tudo o que o governo faz. Tal política, no entanto, acaba por conduzir os apoiadores do governo à loucura, uma vez que o governo Lula, por seu caráter heterogêneo, forjado em meio a uma frente “ampla”, toma decisões que nem o próprio Lula de fato concorda.

A defesa de Paulo Moreira Leite da indicação de Dino ao STF é tão constrangedora que o jornalista se sente na obrigação de elogiar, mas não sabe que elogio fazer. Diz ele: “num país conhecido pela intolerância política e uma tradição repressiva sempre ativa, alimentada por uma cultura escravocrata convertida em musculatura do fascismo do século XXI, a presença de um cidadão de formação comunista entre os onze ministros da mais alta corte de Justiça do país representa bem mais do que um retrato na parede”.

Não é possível levar a sério a conversa mole de que Dino teria “formação comunista”. A única coisa que permitiria dizer tal coisa é que ele foi filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). No entanto, o partido nunca passou, para Dino, de uma legenda pela qual poderia se eleger governador do Maranhão. Prova disso é que Dino foi eleito com o apoio do PSDB e apoiou a candidatura de Aécio Neves em 2014! Como alguém com “formação comunista” apoiaria o candidato presidencial do PSDB, ainda mais no momento em que a burguesia organizava o golpe de Estado contra o PT?

O mesmo Flávio Dino, diga-se de passagem, apoiou, enquanto governador, a entrega da base de Alcântara para o imperialismo norte-americano.

Tanto Flávio Dino não é “comunista” que ele foi uma das principais figuras a levar adiante, dentro do próprio PCdoB, a campanha para que a legenda se transformasse no “Movimento 65”. Isto é, um partido com as cores verde e amarelo, que se afastasse de qualquer vínculo com o comunismo. Até mesmo a substituição da foice e do martelo foi cogitada neste período.

“Foice e martelo são do século 19”, disse Flávio Dino no SBT.

Paulo Moreira então passa a elogiar Dino pela cor de sua pele:

“Da mesma forma que o macacão de ferramenteiro jamais poderá ser afastado da biografia do líder de projeção universal que senta-se no Planalto pela terceira vez, a pele morena de Flávio Dino carrega séculos de uma história que não tivemos capacidade de compreender em toda grandeza, embora se encontre aí, indelével, diante de nossos olhos, a espera de uma melhor consciência e de mais coragem. Dialoga com os povos da África e da América, sinônimos dos deserdados do planeta, condenados a reescrever a aventura humana a partir de baixo, em permanente aceno a homens, mulheres e crianças que têm direito a um destino melhor”.

O argumento de que Dino seria “negro” também é ridículo. Primeiro, porque o último ministro negro que o STF teve foi o responsável por organizar, na Corte, o início do golpe de Estado de 2016, com o julgamento do “mensalão”. Segundo, porque o próprio Lula já havia dito que “gênero” e “raça” não seriam os seus critérios para escolher o próximo ministro do STF. Lula disse isso porque estava sendo pressionado para indicar uma “mulher negra” – o que, por sua vez, não passava de uma fachada de uma campanha para que Lula indicasse uma pessoa ligada à Operação Lava Jato.

Dino, ao que se sabe, não é uma “mulher negra”, e sua indicação foi inclusive criticada por aqueles que fizeram tal campanha. A “raça” de Dino, que não é visto como “negro” por um setor que reivindicava a “mulher negra” no Supremo, de fato não é critério algum para a discussão.

O que o esforço de Paulo Moreira Leite em mostrar Dino como grande indicação de Lula mostra, no final das contas, é uma tentativa desesperada do jornalista de apresentar a indicação como algo positivo. No entanto, a indicação não foi positiva, nem mesmo para Lula! O que a indicação de Dino demonstrou não foi que Lula conseguiu impor um “comunista” ou um “negro” ao STF, mas sim que, conforme a própria imprensa capitalista fez questão de expor, o presidente da República foi forçado a aceitar a “indicação” feita por Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes – isto é, a ala mais reacionária do STF.

O que a indicação de Dino revelou, portanto, não foi que o governo Lula está forte e indica quem quer, mas foi exatamente o contrário: que o governo está fraco e está tendo de ceder muito, muito terreno para os seus inimigos políticos. Dino não era a escolha de Lula – há muito se dizia que o presidente queria indicar Jorge Messias, atual advogado-geral da União, mas só indicou Dino por pressão de Moras e Mendes, que se valeram de uma crise com o Senado Federal para constranger ainda mais a presidência da República a se mostrar ao lado “das instituições”.

A indicação de Dino não é vitória alguma. É sinal de que Lula tem, cada vez menos, controle de seu governo.

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