Nos últimos dias, vieram à tona uma série de indícios que comprovam que a eleição de Lula, embora de suma importância para a esquerda e o conjunto dos trabalhadores, foi apenas uma vitória parcial, com consequências bastante limitadas. Por um lado, as recentes pesquisas do DataFolha mostraram um País profundamente dividido. Segundo o instituto, 51% da população considera que Jair Bolsonaro não deveria ter o direito de se candidatar, enquanto 45% acredita que o ex-presidente deve ser candidato mesmo tendo feito “campanha contra as urnas eletrônicas”. Além disso, 30% da população se consideraria “petista”, enquanto 22% veria a si mesmo como “bolsonarista”. O apoio ao governo Lula, assim, está longe de ser uma unanimidade consolidada.
Por outro lado, o próprio ex-presidente começa a “se mexer”. Bolsonaro retornou ao Brasil na véspera do aniversário de 59 anos do golpe militar, uma data bastante simbólica para sua base de extrema-direita. Agora, anunciou que irá viajar por todo o Brasil, fazendo ao menos duas viagens por mês. Um dos objetivos das viagens seria a preparação para as eleições municipais, que normalmente são um terreno bastante desfavorável para a esquerda.
O fato de que Bolsonaro tenha retornado ao Brasil e já fale em percorrer o País mostra que ele não está minimamente preocupado com as denúncias apresentadas de maneira bombástica e sensacionalista por parte da imprensa. A todo instante, um incauto de algum órgão dito “progressista” declara que Bolsonaro irá preso. No entanto, o que se vê é que o ex-presidente tem as “costas quentes”, estando blindado pela alta cúpula das Forças Armadas e pela burguesia, que deu sinal verde para que lidere a oposição ao governo Lula.
A posição favorável de Bolsonaro também mostra que os acontecimentos de 8 de janeiro, ao contrário do que muitos falam, não foi uma derrota do bolsonarismo, nem uma vitória da esquerda, mas sim uma demonstração de força de seus adversários, que revelaram a impotência do governo, humilhado em uma invasão bizarra das sedes dos três poderes, mas incapaz de punir os responsáveis, que repousam tranquilamente nos quartéis. Lula não tem apoio nenhum na alta cúpula das Forças Armadas, que já sonha com um golpe contra o governo e decidiu levar adiante uma política de sabotagem contra o País.
O Congresso, por sua vez, é em parte bolsonarista e a outra parte é de direita e facilmente cooptável pelo bolsonarismo. Pela primeira vez, um governo é incapaz de formar uma base no parlamento.
Lula está, portanto, em uma situação muito crítica e precisa agir urgentemente para revertê-la. É preciso, de um ponto de vista político mais geral, convocar as massas para as ruas, mobilizando-se contra a sabotagem da direita. No âmbito governamental, Lula precisa implementar medidas emergenciais de assistência à população, como o aumento real do salário mínimo, o congelamento dos preços, o aumento do Bolsa Família para o valor de um salário mínimo e um plano nacional de obras públicas para reindustrializar o país e gerar empregos.
